28/7/2023. Não era teoria da conspiração, como alguns pensavam. A “invasão” chinesa da Europa no setor automóvel está a acontecer. Mas como vão as marcas ocidentais reagir a esta concorrência? Conheça quais os planos, em mais uma “Crónica à 6ª feira” no blog TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

Carlos Tavares, o português CEO da Stellantis, o grupo industrial do setor automóvel que juntou 14 marcas diferentes, disse em Outubro de 2022 que o maior perigo para as marcas ocidentais seria a “invasão” dos construtores chineses na Europa.

Na altura, o seu aviso ia no sentido de que as marcas chinesas, desconhecidas na Europa, tinham como plano exportar para a Europa carros baratos, provavelmente vendidos abaixo do preço de custo, para ganhar quota de mercado.

Depois de conquistada essa quota de mercado, o segundo passo seria subir os preços gradualmente, expulsando as marcas ocidentais mais frágeis dos mercados. O aviso era sério e não tinha nada de teoria da conspiração.

A “invasão” está em marcha

Menos de um ano depois, a “invasão” chinesa do mercado europeu está em marcha, com uma sucessão de marcas chinesas a desembarcar na Europa, propondo novos modelos elétricos. Desde marcas pequenas a marcas gigantes, de tudo está a chegar e o processo vai acelerar nos próximos meses.

Só para se ter uma ideia, em 2022 a China ultrapassou a Alemanha – 3,2 contra 2,6 milhões – como o segundo país exportador de automóveis e este ano os números apontam para que chegue a Dezembro no primeiro lugar, ultrapassando o Japão, na liderança. A subida está a ser impulsionada pelas vendas de carros elétricos e não tem a Europa como único alvo.

Como reagir?

Como estão as marcas ocidentais e reagir a esta “invasão” é a questão que se coloca e as vias escolhidas são variadas. Por exemplo, a Renault anunciou esta semana que quer reduzir em 40% os custos de desenvolvimento e produção dos seus veículos elétricos a partir de 2027.

A marca acredita que se aproxima uma descida de preços das matérias primas no segundo semestre deste ano e que isso pode ajudar. Mais importante foi a criação da unidade de negócios Ampere, dedicada às atividades relativas aos veículos elétricos, na qual a Nissan já se tornou parceira e que entrará na bolsa em breve.

Trata-se de um sinal do fortalecimento das relações entre a Renault e a Nissan, com o objetivo também de equilibrar as posições entre as duas empresas dentro da Aliança. Uma parceria estratégica que só peca por tardia.

Tavares quer ë-C3 a 25 000€

Carlos Tavares afirmou que as marcas chinesas têm uma vantagem de 25% em termos de custos de produção de carros elétricos, devido à mão de obra mais barata na China e acesso a baterias em condições privilegiadas.

Para contrariar esta desvantagem, Tavares diz que a Stellantis tem de lutar com as mesmas armas, procurando fornecedores que vendam a preços mais baratos, sendo muito claro ao dizer que vai à procura desses fornecedores nos países onde eles estiverem.

Reduzir os custos dos elétricos mais acessíveis é o principal objetivo, diz Tavares, reforçando que o novo Citroën e-C3 elétrico terá de custar 25 000 euros e dar lucro, quando for lançado em 2024.

A nova geração tem no concept-car Oli uma antevisão do que vão ser algumas das soluções estéticas da nova geração do C3. O segredo para o preço baixo poderá ser a produção deslocada… para a China.

VW e Xpeng

Outras opções podem ir ainda mais longe do que produzir na China. A Volkswagen anunciou que fez um acordo com a marca chinesa Xpeng para desenvolver veículos elétricos de custos mais baixos, com base numa plataforma da marca chinesa.

O curioso da questão é que essa plataforma, conhecida como Edward e servindo de base ao seus modelos G9 e P7, é de uma geração anterior à que a Xpeng utiliza nos seus modelos mais recentes. Mas a VW garante que esta base, apesar de mais antiga, será equipada com sistema modernos alemães.

Para já, o objetivo desta parceria é o mercado chinês mas, se resultar, não é de afastar a hipótese de ser aplicada noutras regiões do globo, quem sabe até a Europa.

Lutar com as mesmas armas, como diz Carlos Tavares, pode passar pela deslocalização da produção para a China, nada que a Tesla não tenha já feito, sendo um dos principais construtores a exportar da China.

Conclusão

Depois de ter chamado a atenção, junto da classe política europeia, acerca das assimetrias entre as iniciativas económicas de empresas estrangeiras, entre a Europa e a China, com muito mais facilidades e incentivos dados aos chineses para entrar na Europa, Tavares parece ter mudado para uma estratégia do tipo “se não os podes vencer, junta-te a eles.” A não ser que seja mais uma forma de pressão sobre os políticos europeus.

Francisco Mota

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