23/2/2024. É grande a responsabilidade de liderar um grupo de 14 marcas, nestes tempos da eletrificação. As exigências são muitas, esperando-se um salário alto, mas será exagerado?… Saiba quanto ganha Carlos Tavares à frente da Stellantis em mais uma Crónica à 6ª feira no TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

O português Carlos Tavares, CEO do grupo Stellantis, que foi formado pela fusão da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e PSA (Peugeot Société Anonyme) tornou-se numa figura pública, com presença constante nos orgãos de comunicação social, sobretudo os relacionados com a indústria automóvel, como o TARGA 67.

As posições de Tavares têm influenciado a política europeia no setor automóvel, sobretudo porque a maneira de expressar as suas convicções é quase sempre clara e fácil de entender.

O CEO português que lidera o quarto maior grupo mundial na industria automóvel, empregando mais de 270 mil trabalhadores, não se limita a defender os interesses diretos dos seus accionistas. As suas declarações vão muitas vezes no sentido de defender a indústria como um todo, por isso são ouvidas com atenção por quem trabalha neste meio.

Stellantis prioritária

Mas, não sejamos ingénuos, a sua prioridade, como a de qualquer pessoa numa posição igual à sua, é realmente defender a sua empresa. Maximizar os rendimentos dos acionistas e, como é natural, defender também os seus interesses pessoais.

Como acontece em quase todos os casos nas maiores empresas, sejam elas de que setor forem, os líderes são avaliados por aquilo que conseguem fazer. Pelos objetivos que são traçados e se são ou não atingidos no final do período estabelecido.

Por isso, a remuneração varia muito de acordo com o sucesso do seu trabalho. No caso de Tavares, menos de 7% é salário fixo, cerca de 2,6 milhões de euros por ano. Tudo o resto é variável

Quanto mais positivos forem os resultados da empresa, melhor é a avaliação feita ao CEO e maior será a sua remuneração. Um sistema muito exigente, como é óbvio, mas que valoriza um trabalho bem feito.

Resultados de 2023

Os resultados da Stellantis em 2023 foram anunciados há poucos dias e mostram valores muito positivos, os melhores até agora. Aqui vão alguns números, só para saber do que estamos a falar. As receitas líquidas foram de 189,5 mil milhões de euros, mais 6% que em 2022.

O lucro líquido atingiu os 18,6 mil milhões de euros, crescendo 11% face a 2022. Estes resultados permitiram à Stellantis anunciar um programa de recompra de ações no mercado aberto de 2024, no valor de 3,0 mil milhões de euros.

Ao mesmo tempo, vai distribuir dividendos aos seus acionistas no valor proposto de 1,55 euros por ação ordinária, num aumento de 16% face ao ano de 2023.

em 2023, a Stellantis tinha devolvido 6,6 mil milhões de euros aos acionistas, através de dividendos e recompra de ações, no que tinha sido um aumento deste tipo de operações de 53%, face a 2022.

As razões do sucesso

Os principais fatores que o grupo identifica como razões para estes números são a subida de vendas de veículos LEV (HEV e PHEV) em 27% face a 2022 e aumento de 21% nas vendas dos 100% elétricos a nível mundial.

Outros dados, não menos importantes, dizem respeito a uma descida da taxa de defeitos após três meses da entrega dos veículos novos aos clientes em 40%, comparando com 2021.

Hoje em dia, 90% de todos os trabalhadores da Stellantis no mundo assinaram contratos coletivos, o que é sempre uma garantia de controlo de custos, para o empregador.

Ainda no tema do controlo de custos, o lançamento da primeira de quatro novas plataformas destinadas a servir de base a todos os modelos de todas as marcas do grupo nos próximos anos é também um passo importantes na redução de custos, que terá efeitos mais visíveis nos próximos anos.

Acautelar o futuro

Olhando para o futuro próximo, a Stellantis garantiu o fornecimento de matérias primas até 2027 e assinou com o fabricante chinês de baterias CATL, um acordo de fornecimento de baterias LFP. Também foi estabelecido uma parceria com a Ample para a tecnologia de troca de baterias em menos de cinco minutos.

Outras áreas em que a Stellantis está a trabalhar com parceiros é na construção da maior fábrica de baterias na Europa e a maior de pilhas de combustível (Fuel Cell). Também há um investimentos diversificado na área dos semi-condutores, para evitar a dependência de poucos fornecedores.

A entrada no capital da chinesa Leapmotor, fabricante de veículos elétricos agora detido em 21% pela Stellantis, é mais um sinal da expansão do negócio que o grupo prevê ir continuar a dar um lucro de pelo menos 10%, em 2024.

Afinal, quanto ganha?

É claro que não foi Carlos Tavares que fez tudo isto, contou com a sua equipa para conseguir objetivos traçados no final de 2022. A questão é que atingiu os objetivos e por isso foi remunerado como estava acordado. E de que valores estamos a falar?

Pelo seu trabalho em 2023, Tavares recebeu 36,49 milhões de euros, numa subida de 56% face ao que tinha recebido em 2022, que foi de “apenas” 23,46 milhões de euros. Do total recebido em 2023, uma parcela de 10 milhões de euros foi relativa a objetivos atingidos na área da eletrificação e mobilidade.

É obviamente muito dinheiro, mas será mais do que os seus pares? A GM ainda não divulgou a remuneração da sua CEO Mary Barra em 2023, nem a Ford do seu CEO, Jim Farley. Mas, em 2022, Barra recebeu 29 milhões de dólares e Farley recebeu 21 milhões de dólares, o que colocou os três lideres alinhados.

Claro que estes valores astronómicos são sempre alvo da atenção dos sindicatos dos trabalhadores das respetivas empresas, com destaque para os dos EUA, reunidos no UAW (United Auto Workers) que tem enorme força e influência. E já conseguiram algumas conquistas.

Conclusão

É que, resultados positivos nas empresas não podem apenas gerar lucros aos acionistas e prémios aos CEO, é preciso que os trabalhadores sejam justamente recompensados pelo trabalho bem feito, pois só assim o vão continuar a fazer com a mesma qualidade. A nível global, a Stellantis anunciou que irá distribuir 1,9 mil milhões de euros em bónus e prémios aos seus trabalhadores, em 2024 um pouco menos do que os 2,0 mil milhões que tinha anunciado para 2023.

Francisco Mota

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