16/2/2024. O governo francês decidiu cortar os incentivos à compra de veículos elétricos a quem tem mais dinheiro, privilegiando os que mais precisam. E ainda criou um novo leasing mais acessível. Temas da Crónica à 6ª feira no TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

Os incentivos estatais à compra de veículos elétricos são um tema de discussão em todos os países da Europa, pois a pressa de substituir carros a combustão por elétricos é cada vez maior.

Mas a maneira como cada país trata do assunto é muito diferente. Neste, como em muitos outros assuntos, não há uma concertação europeia e talvez devesse existir.

A atribuição de incentivos a quem compra um veículo elétrico deve ter também uma preocupação social, pensam alguns políticos. Não se pode dar os mesmo incentivos a quem compra um carro de 50 000 euros e a quem compra um que custa metade. Mas a questão não se fica por aí.

Leasing mais acessível

Depois de vários adiamentos, que alguns consideram ter acontecido para dar tempo aos construtores locais de criar oferta suficiente, o governo francês implementou no inicio deste ano um novo esquema de incentivo à compra de carros elétricos, para quem tem menos poder de compra.

O esquema é muito simples: quem tem um rendimento anual inferior a 15 400 euros, tem direito a fazer um leasing para usar um carro elétrico, com um custo mensal entre os 100 e os 150 euros.

O orçamento inicial do governo previa um gasto total de 1,5 mil milhões de euros, prevendo que cerca de 20 000 compradores aderissem ao plano. Mas a procura foi tanta que o governo teve que subir para os 50 000 potenciais interessados.

Estamos em Fevereiro e o orçamento já se esgotou. Ou seja, já foram feitos os 50 000 contratos de leasing pelos utilizadores com as condições indicadas. Só em Janeiro do próximo ano será a medida repensada.

Incentivo à compra

Além desta medida, o governo francês tem também em vigor uma outra, para quem se decidir a comprar um carro elétrico. Neste caso, o subsídio varia entre os 5000 e os 7000 euros, de acordo com os rendimentos de cada potencial comprador, num orçamento total de mil milhões de euros.

A medida também está a ser um sucesso, mas em vez de aumentar o orçamento o governo francês decidiu cortar nos subsídios entregues aos compradores com maior rendimento anual.

Assim, aos 50% com mais rendimentos entre os interessados, o valor do subsídio desceu de 5000 para 4000 euros, de modo a fazer render o orçamento e chegar a mais potenciais compradores.

Empresas de fora

Outra medida foi a abolição de subsídios à compra de elétricos por empresas. As empresas também tinham uma ajuda para trocar veículos a combustão velhos, por outros novos e menos poluentes, mas ainda a combustão, uma medida que também foi cancelada.

A política do governo francês, de incentivar a compra de veículos elétricos, ganha assim uma dimensão de justiça social mas também foi pensada para proteger a indústria francesa de automóveis elétricos.

Proteger o “made in Europe”

Nem todos os modelos elétricos são elegíveis para estes apoios do Estado francês. Há um critério que limita a pegada de CO2 que cada modelo pode ter, incluindo aqui a sua fabricação e o transporte para França.

O governo francês fez as contas e da lista dos modelos elegíveis constam 24 modelos da Stellantis, cinco do Grupo Renault e o Tesla Model Y feito na Alemanha. O próprio Dacia Spring fica de fora, por ser fabricado na China.

Torna-se claro que há aqui uma outra dimensão nas medidas, que é a de proteger a indústria local, face à invasão de marcas oriundas da China, que ficam de fora desta lista, mesmo com os seus modelos mais baratos.

Conclusão

A venda de automóveis elétricos de preço médio ou alto não depende de incentivos, como se tem visto no seu crescimento. Mas se há a real vontade de fazer aumentar rapidamente o número de elétricos nas estradas, os incentivos são necessários, pelo menos nesta fase. Só assim será possível a que tem menos rendimento aceder a um elétrico rapidamente. Se a procura subir, sobe a produção e baixa o custo: a clássica pescadinha de rabo na boca.

Francisco Mota

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