29/3/2024. A Volvo anunciou que acabou com os motores Diesel, mostrando o último XC90 que marca o fim dos motores a gasóleo na marca sueca. Será cedo para tomar uma decisão tão radical? Tema para a Crónica à 6ª feira do TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

Não foi uma grande surpresa, tendo em conta que a Volvo já tinha anunciado que a sua oferta de novos modelos vai passar a ser composta exclusivamente por motorizações 100% elétricas a partir de 2030.

Mas estamos em 2024, o mercado dos Diesel ainda não desapareceu e a Volvo não é propriamente uma marca de baixo volume, como outras que o são e já tomaram essa decisão há mais tempo. A Porsche é um exemplo disso.

Sobretudo na Europa, a procura de modelos Diesel, mesmo nos segmentos Premium em que a Volvo opera, ainda não é insignificante, por isso os construtores presentes nesses segmentos os continuam a oferecer nas suas gamas. Veja-se os exemplos da BMW e da Mercedes-Benz.

A vocação dos Diesel

Para quem precisa de fazer viagens longas com muita frequência, por motivos profissionais, ainda tem nos motores Diesel a maneira mais económica e prática de o fazer. Os consumos de gasóleo são baixos, há muitos postos de abastecimento e atestar o depósito é uma questão de poucos minutos. Além disso, os preços de aquisição são relativamente baixos.

Todos os aspetos somados, os Diesel são imbatíveis para quem precisa de fazer centenas de quilómetros quase todos os dias. Até a emissão de CO2 é a mais baixa de todos os veículos com motor de combustão.

Mas, claro, o mesmo não se pode dizer das emissões locais de gases poluentes, comparando com os melhores híbridos ou com os elétricos. Esse é o ponto fraco dos Diesel, como de todos os motores a combustão.

Volvo e o “boom” Diesel

A Volvo foi uma das marcas que beneficiou com o “boom” dos Diesel, tendo tido modelos com motores deste tipo no seu catálogo nos últimos 45 anos. Entre 2012 e 2016 os Diesel representaram metade das suas vendas globais, com grande destaque para a Europa. Mas a procura desceu nos últimos anos.

Segundo a Volvo, vendeu mais de nove milhões de modelos com motor Diesel desde 1991, antes disso terá vendido mais, mas não terá guardado registos tão antigos. Na verdade, a Volvo até foi das marcas que aderiu à moda dos Diesel de forma algo cética.

O seu primeiro modelo com motor Diesel foi o 244 GL D6 de 1979, que usava um motor 2.4 de seis cilindros em linha e 82 cv, de origem Volkswagen. Aliás, uma grande parte do volume de modelos Diesel que a Volvo vendeu tinha motores fornecidos por outros construtores.

Motores PSA e Volvo

O auge começou em 2008, quando a Volvo passou a usar um motor 1.6 Diesel fornecido pela então PSA em vários dos seus modelos mais compactos e acessíveis. Estavam incluídos na sub-marca Drive-E e eram anunciados como motores capazes de baixas emissões.

O primeiro motor Diesel concebido e fabricado pela Volvo só apareceu em 2001, um cinco-cilindros em linha feito na sua fábrica de Skovde, na Suécia. Uma fábrica que entretanto foi convertida para a produção de motores elétricos. Irónico…

Em todos os seus 97 anos de história, a Volvo só concebeu e produziu mais um motor Diesel, um 2.0 litros que foi lançado em 2013, pertencendo à família de motores VEA (Volvo Engine Architecture) que agora termina a sua existência.

Mas foi a Volvo a primeira a juntar um motor Diesel com um sistema híbrido “plug-in”, com o V60 D6 de 2012, uma tecnologia que durou até 2023.

Mudança anunciada em 2017

A mudança de rota terá começado em 2017, quando o anterior CEO da marca, Hakan Samuelsson deu início ao processo de eletrificação da marca, anunciando que não iria ser gasto mais dinheiro no desenvolvimento dos motores Diesel. Esse dinheiro seria encaminhado para investir nos elétricos.

Esta posição coincidiu com os planos de algumas cidades em proibirem a circulação de modelos Diesel nos seus centros e surgiu no seguimento do escândalo Dieselgate, que se tornou público em 2015. Nessa altura, cerca de metade das venda da Volvo na Europa ainda eram de motorizações Diesel.

Mas era preciso marcar uma posição, “congelando” os Diesel e desenvolvendo os híbridos. Foi o que a Volvo fez, mesmo que isso lhe tenha custado dinheiro, que a marca até tinha. Não esquecer que tinha sido comprada pela Geely em 2010 e atravessava uma fase em que os chineses investiam forte no futuro da Volvo.

Conclusão

O último Diesel produzido pela Volvo foi um XC90 D6 azul, que vai diretamente para o museu da marca em Gotemburgo. Não sei se, no futuro, será visto como um dinossauro, ou se como uma tecnologia que podia ter sido mais desenvolvida mas que ficou pelo caminho. Na verdade, foi a política que promoveu os Diesel na Europa, para veículos ligeiros, e foi a política que lhes ditou o fim.

Francisco Mota

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