5/4/2024. Carlos Tavares, CEO da Stellantis, afirmou que as baterias dos carros elétricos têm que reduzir o seu peso para metade, nos próximos dez anos. Tema para discussão e análise na Crónica à 6ª feira do TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

Há muitas questões em redor das baterias dos veículos elétricos, mas todas vão desembocar ao mesmo tema: o peso. Para ter mais autonomia, as baterias têm que ser maiores, ficando mais pesadas e prejudicando a autonomia, ou pelo menos não a potenciando tanto quanto seria desejável. Um ciclo vicioso.

A resposta dos construtores de baterias tem sido sempre a mesma nos últimos anos: se é precisa maior autonomia, aumenta-se o tamanho da bateria o mais que for possível, mas ficando refém do aumento de peso.

Em mais uma edição do “Freedom of Mobility Forum” idealizado por Carlos Tavares como forma de influenciar a opinião pública e a classe política, depois de ter desistido de o fazer como presidente da ACEA (Associação dos Construtores Europeus de Automóveis), o CEO da Stellantis defendeu o caminho contrário.

“Avanço significativo”

As suas afirmações foram no sentido de que, para os carros elétricos virem a ter o sucesso que se pretende, precisam de reduzir o peso das suas baterias para metade, nos próximos dez anos. Mas sem perder autonomia.

Tavares aludiu à necessidade de um avanço tecnológico significativo na tecnologia das baterias, que diminua o seu peso mas aumente a densidade da capacidade. E acrescentou que isso vai mesmo acontecer nos próximos anos. Não esclareceu como, mas decerto sabe mais do que eu sobre o que aí vem.

Claro que este objetivo tem toda a lógica. Com menos peso, as baterias não fazem tanto “lastro” e não prejudicam tanto a eficiência, potenciando a descida de consumos e o aumento da autonomia. Se o tal avanço tecnológico for capaz de manter a capacidade, melhor ainda.

Menos matéria prima

A outra vantagem, de que se fala menos, é uma utilização mais racional dos materiais que constituem as baterias, nomeadamente o Lítio. Com baterias mais pequenas, usa-se menos material em cada uma, como é óbvio, com os recursos naturais a servirem para mais baterias e mais automóveis.

Mesmo que a densidade das baterias não aumente, uma descida do tamanho das baterias com a tecnologia atual pode ter os seus méritos. As marcas continuam a utilizar os valores de autonomia dos seus carros como argumento de marketing. E raramente isso lhes sai bem.

Quando anunciam valores de autonomia de 600 km ou mais, estão a usar as normas WLTP para ciclo urbano. E essas normas não são obtidas na circulação real, mas em banco, seguindo um ciclo que simula a realidade, mas sem a mesma severidade.

De todos os modelos elétricos que tenho testado nos últimos anos, os meus testes reais TARGA 67 de consumo em cidade e estrada vão sempre além dos anunciados. E uso sempre o mesmo método de medição para todos.

Ou seja, prometer 600 km ao comprador, que depois mal consegue chegar aos 500 km no mundo real é meio caminho para a desilusão. Mais ainda para quem não seja um ferrenho defensor dos elétricos.

Caminho oposto

O caminho oposto deverá ser o que todas as marcas vão seguir no futuro. Fornecer carros elétricos com baterias mais pequenas e não maiores. Desde logo porque isso reduz em muito o custo dos modelos elétricos, tornando-os acessíveis a mais potenciais compradores.

Depois, porque não faz sentido andar a carregar uma bateria enorme todos os dias, quando muito raramente se precisa de usar toda a autonomia de uma vez. Se os híbridos “plug-in” são vendidos com base nos dados de que a maioria dos condutores na Europa faz menos de 50 km por dia, porque razão um elétrico precisa de ter mais de 400 Km?

Conclusão

Todos sabemos a resposta a esta pergunta, claro. A maior limitação à utilização livre de um carro elétrico não é a autonomia da sua bateria. É a rede de carregadores manifestamente insuficiente, o que só se agravará se nada for feito. Mais do que os incentivos à compra e uso dos carros elétricos, é urgente uma política europeia de expansão ultra-rápida dos postos de carregamento. Sem isso, qualquer bateria será sempre pequena.

Francisco Mota

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