Imparato, CEO da Alfa Romeo e Tavares, CEO da Stellantis

12/4/2024. Numa presença não programada, durante a apresentação mundial do novo Alfa Romeo Milano, que entretanto mudou de nome para Junior, o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, revelou que os chineses lhe queriam comprar a Alfa Romeo e outra marca francesa, das 14 que detém o grupo. Saiba qual foi a resposta e porquê, em mais uma Crónica à 6ª feira no TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

A presença do CEO da Stellantis na apresentação mundial do novo B-SUV Alfa Romeo Milano, que entretanto mudou o nome para Junior, não constava do programa. Mas o português estava em Itália para o lançamento de uma nova linha de produção de caixas de velocidades eDCT na fábrica de Mirafiori e não resistiu a ir ter com a Imprensa.

O evento organizado na sede do Automóvel Clube de Milão, contou com jornalistas de todo o mundo, entre os quais tive a oportunidade de estar presente, além de outros convidados. O evento foi transmitido na Internet e chegou a registar 26 000 espetadores, o equivalente à capacidade das bancadas de um estádio de futebol médio.

Não me admira a adesão, porque o tema era apelativo: o regresso da Alfa Romeo ao segmento B, com o modelo mais acessível do seu portefólio, ainda para mais disponível também em versão elétrica, uma estreia na Alfa Romeo. Mas a parte mais interessante foi mesmo o discurso informal de Carlos Tavares.

Marca cobiçada

Não é por acaso que o português é um dos CEO mais influentes da indústria automóvel da nossa era. A clareza de raciocínio, a transparência das suas mensagens e a forma incisiva como diz o que tem a dizer, são admiradas por todos. Mais ainda pelos jornalistas, pois fornece-nos “matéria” para inúmeras notícias, análises e crónicas.

Depois de explicar a importância do Milano (Junior) no futuro imediato da Alfa Romeo, Tavares explicou a importância da Alfa Romeo na Stellantis e também, aparentemente, noutras organizações rivais.

Apesar da pequena dimensão do negócio, neste momento, e de um catálogo com apenas três modelos, que agora sobe para quatro, a Alfa Romeo é cobiçada por muitos, como Tavares revelou.

Chineses queriam comprar Alfa

“Há pouco tempo, um grupo chinês, fez-me uma proposta para comprar a Alfa Romeo. Recusei de imediato vender a marca, pois trata-se da nossa jóia da coroa” disse Tavares, acrescentando que a marca nascida em Milão em 1910 é a “referência de empenho” dentro do grupo Stellantis.

O que é que isso quer dizer? Que a marca tem feito, com poucos recursos, muito mais do que seria suposto e serve assim de exemplo para as parceiras do grupo. Na verdade, esse sempre foi o lema de Carlos Tavares à frente da Stellantis: fazer muito, com pouco.

Mas Tavares acrescentou ainda mais ao dizer que outro grupo chinês lhe tinha feito uma outra oferta para comprar “uma marca francesa” da Stellantis. Neste caso, o CEO não deu mais detalhes, mas é uma prova do valor de algumas das marcas do grupo.

Itália, China e Stellantis

Nesta “guerra” económica e comercial contra os chineses, Tavares ainda foi mais longe, quando disse que “quem está a atrair os construtores chineses para Itália, está a fazer o mesmo que fez a Volvo, quando foi vendida à Geely, ou a MG, quando foi vendida à SAIC” rematando dizendo que “nós não vamos vender nada aos chineses.”

Esta declaração surge no seguimento de notícias que foram postas a circular em Itália de que a Stellantis se preparava para reduzir a sua atividade industrial no país, deslocalizando-a para outras latitudes. Tavares foi perentório em relação a isto: “são fake news! Quem anda a dizer que a Stellantis vai desmantelar a Fiat em Itália está a fabricar fake news!”

Pressão italiana

Este assunto não é recente em Itália e tem sido alimentado por alguns membros do governo italiano, que reclamam da Stellantis maiores investimentos no país, dizendo que o grupo prefere investir em França. O governo italiano foi até ao ponto de dizer que está disposto a comprar ações da Stellantis para garantir maior investimento em Itália. Aludindo à presença accionista do Estado francês no grupo.

Contra as “fake news” do desinvestimento em Itália, Tavares avança com números. Esta nova linha de produção de caixas de velocidades híbridas de dupla embraiagem visa um volume anual de 600 000 unidades, numa joint-venture com a “eTransmissions Assembly”.

Requalificar Mirafiori

Trata-se de mais um passo na requalificação das instalações que estão a renascer como o Mirafiori Automotive Park 2030, em si um investimento de 240 milhões de euros e que inclui oito outras atividades no local, entre elas o Centro de Tecnologia de baterias, o Hub de economia circular, a sede mundial da Pro One, entre outras.

Em paralelo, a Stellantis anunciou um investimento de 100 milhões de euros para o redesenho da plataforma do Fiat 500e, que vai integrar baterias de nova geração, tornando o modelo mais acessível, o que representa um maior volume de produção para a linha de montagem de Mirafiori, onde o 500e é feito.

Cinco mil milhões em Itália

Nos últimos cinco anos, a Stellantis investiu mais de 5 mil milhões de euros nas suas operações em Itália, onde se inclui uma futura gigafactory, para fabricar baterias para carros elétricos, com uma nova tecnologia de células. Além disso vai fabricar automóveis com base em duas das novas plataformas do grupo.

Acerca deste tema, Tavares disse que “tencionamos defender a nossa posição de liderança em Itália frente a toda a concorrência, incluindo os fabricantes chineses, independentemente do apoio de que possam beneficiar no país.” E concluiu dizendo que “temos uma visão de futuro e estamos a fazer as coisas de forma não convencional, por isso alguns não percebem. Não podem perceber…”

Conclusão

Não é a primeira vez que o tema da venda da Alfa Romeo a um grupo exterior a Itália vem ao de cima. Muito antes de Tavares liderar a Stellantis, falou-se no interesse do grupo VW em comprar a marca de Milão. Mas os italianos nunca quiseram vender a jóia da coroa. É que, não são muitas as marcas com uma história tão rica como a da Alfa Romeo, uma história tão diversificada que lhe permite hoje fabricar modelos que vão dos 30 000 euros, do Milano aos 2 milhões de euros, do hipercarro de produção limitada 33 Stradale.

Francisco Mota

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Novidade – Alfa Romeo Milano: Desta vez é que é!