28/06/2019 A Agência Europeia do Ambiente revelou que as emissões de CO2, dos carros vendidos em 2018, subiram face ao ano anterior. A “culpa” é da descida das vendas dos Diesel. Que irónico…

 

Não foi um Diabo que os políticos tivessem propagado, mas acabaram por ser eles a chamá-lo. Ao diabolizar os motores Diesel de nova geração, a classe política mostrou a sua ignorância e agora tem a consequência dos seus atos: as emissões de CO2 da média dos carros novos vendidos em 2018 subiu face ao ano anterior.

Não é uma surpresa, basta conhecer os rudimentos do funcionamento de um motor de combustão interna: quanto mais combustível consome, mas emissões de CO2 tem que fazer.

Gasolina emite mais CO2

E os motores a gasolina ainda consomem mais que os Diesel. Consomem mais no papel, onde as diferenças são cada vez mais pequenas. Mas na vida real a diferença é bem maior.

Quem já guiou um dos novos motores a gasolina turbocomprimidos, como são hoje quase todos, já percebeu que os consumos anunciados só são realistas a baixas velocidades e acelerações tímidas.

Assim que se “puxa” mais por esse tipo de motores, os consumos sobem muito, ao contrário do que se passa com os motores Diesel. Mesmo abusando da grande disponibilidade de binário, um motor a gasóleo nunca sobe a valores tão altos como um homólogo a gasolina.

O relatório da EEA

Agora temos o último relatório da European Environment Agency (EEA) a dizer que as emissões de CO2 de todos os carros de passageiros novos, vendidos nos principais 28 mercados da Europa em 2018 (EU28) subiram 1,8%, face a 2017.

E são contas de secretária, feitas com os valores anunciados pelos fabricantes, mas pelo menos já segundo o protocolo WLTP.

Diga-se que 30% dos carros à venda foram penalizados em 20% nos consumos, apenas com a passagem das antigas normas de medição NEDC para as novas WLTP.

As razões da subida do CO2

Razões para a subida de CO2 são fáceis de encontrar, basta olhar para as vendas de automóveis novos nos EU28.

Na verdade, 2018 foi o segundo ano em que as vendas de carros novos com motor a gasolina ultrapassaram as dos carros com motor Diesel. Já em 2017 tinha acontecido o mesmo. Mas vamos mergulhar no detalhe para perceber isto melhor.

Os números dizem tudo

Em 2018, nos EU28, foram vendidos 8,5 milhões de carros de passageiros a gasolina, uma subida de quase um milhão face a 2017, quando se venderam 7,6 milhões.

Pelo contrário, em 2018 foram vendidos 5,4 milhões de carros de passageiros com motor Diesel, uma descida de 1,2 milhões face a 2017.

Quer saber quantos carros elétricos e “plug-in” se venderam nos EU28 em 2018? A resposta da EEA é de uns irrelevantes 302 000.

Menos Diesel, mais CO2

Foi o aumento de vendas de carros a gasolina e a descida dos Diesel que provocou a subida de emissões de CO2, como conclui a EEA.

Mas a agência ambiental europeia foi mais longe e calculou a média de emissões de CO2 nos EU28. Considerando todos os carros novos vendidos em 2018, gasolina e gasóleo, a média é de 120,4 g/km de CO2, uma subida de 2 g/km face a 2017.

É uma tendência muito preocupante, se pensarmos nas metas de 95 g/km de CO2 que foram estabelecidas para 2020. Estamos muito longe dessa meta e, em vez de estarem a descer, as emissões de CO2 estão a subir.

Gasolina mais poluente

Contudo, o apuramento das emissões que a EEA fez foi ainda mais fundo, discriminando os valores de emissões de carros a gasolina e carros a gasóleo.

Assim, a média de emissões de CO2 nos EU28 de todos os carros novos a gasolina vendidos em 2018 é de 121,5 g/km, enquanto nos carros a gasóleo foi de 123,4 g/km.

Ou seja, para quem tinha dúvidas, os carros novos a gasolina vendidos em 2018 nos EU28 emitem mais 1,9 g/km de CO2, que os Diesel, para o mesmo período e para os mesmos mercados.

A EEA não deixa de sublinhar que esta é a diferença mais baixa nos últimos cinco anos, querendo com isto dizer que os carros a gasolina estão a emitir cada vez menos.

O efeito dos SUV

Ao contrário dos políticos e da própria associação dos 15 maiores construtores europeus de automóveis, a ACEA, desta vez a EEA não se esqueceu de olhar para o efeito da subida de vendas dos SUV, em todos os segmentos.

As suas contas indicam que a média geral de todos os SUV, a gasolina e gasóleo, vendidos em 2018 nos EU28 foi de 133 g/km de CO2, ou seja, 13 g/km acima da média global do mercado.

Perdoe-me a falta de modéstia, mas aqui mesmo numa “Crónica à 6ª Feira” do Targa 67 já tinha abordado este assunto, num “estudo” que mostrava o efeito dos SUV e que pode ler seguindo este link:

Vai comprar um SUV?… “Estudo” mostra que é um erro

E agora?…

O que vai acontecer a seguir? Algumas marcas dizem que o enorme investimento que estão a fazer em carros eletrificados, sobretudo híbridos e “plug-in”, os vai pôr a cobro das pesadas multas que estão previstas para quem não cumprir os 95 g/km.

Outras marcas vão continuar a comprar créditos de CO2, a marcas que os tenham em excedente, ou seja, marcas que estejam abaixo dos 95 g/km.

Por exemplo, a FCA vai fazer esse negócio com a Tesla. A Volvo e a Toyota também tem créditos de CO2 para vender.

Outras marcas já disseram que vão fazer contas e gastar o dinheiro no que for mais barato: as multas, os créditos de CO2 ou o investimento na eletrificação.

O problema da eletrificação

O problema do investimento na eletrificação é complexo, para quem não começou a trabalhar nisso já há algum tempo.

Continuar a desenvolver e produzir carros com motores térmicos e, ao mesmo tempo, fazer o mesmo com carros eletrificados, representa um esforço financeiro que, provavelmente, algumas marcas não vão conseguir suportar.

E o problema é que não é possível fazer um “reset”, parando a produção de motores térmicos e iniciando a de motores elétricos, de um dia para o outro.

Motores térmicos estão para durar

Segundo previsões recentes da BMW, em 2025 a sua produção de carros eletrificados será de apenas 30%, continuando a fazer 80% de carros com motores térmicos (incluindo os híbridos, que têm os dois).

As previsões são que os motores Diesel continuem a existir por mais 20 anos e os motores a gasolina por mais 30 anos. E isto são apenas previsões, com grandes assimetrias geográficas.

Se na Europa se espera que os “plug-in” cresçam rapidamente, na China a eletrificação só terá lugar nas zonas mais ricas e industrializadas.

Nos EUA apenas se espera que os condutores abandonem os seus carros a gasolina por eletrificados na costa Oeste e parte da costa Este. Nos Estados do interior, as “pick-up” a gasolina ainda vão dominar por muito tempo.

Não desprezar o Diesel

A ACEA vem agora alertar os governantes para investir nos postos de carregamento elétrico e na rede de distribuição de eletricidade, bem como estabelecer incentivos fiscais à compra de carros elétricos.

A mesma associação relembra o óbvio, que não se deve menosprezar o efeito positivo dos motores Diesel na redução do CO2, sobretudo dos motores Diesel de nova geração, que conseguem emissões de NOx da mesma ordem de grandeza dos motores a gasolina.

Conclusão

O que vai acontecer? Ninguém sabe. Mas as previsões de vendas de automóveis nos próximos meses são para uma descida ou, na melhor das hipóteses, uma estagnação do mercado.

E isto é o pior que pode acontecer aos fabricantes, numa altura em que precisam de dinheiro para investir na eletrificação.

Na verdade, os construtores estão cercados. Por um lado, têm os governantes a ameaçar com multas, por outro lado têm o mercado a comprar menos carros.

E depois têm o preço das matérias primas necessárias ao fabrico das baterias de carros elétricos a subir de preço, esmagando as margens de lucro.

Não me espanta, portanto, que já tenham começado a surgir avisos de que a próxima crise económica poderá ter origem na indústria automóvel.

Francisco Mota

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