9/11/2018. A ACEA, associação dos construtores automóveis europeus, testou 270 novos modelos Diesel e concluiu que as suas emissões de NOx são “muito baixas”. O ADAC, automóvel clube alemão também fez os seus testes e vai mais longe: “seria bom haver incentivos financeiros para a compra de veículos com baixas emissões de NOx” entre os quais se encontram alguns Diesel, segundo os seus próprios testes independentes.

Confesso que estas duas notícias, emitidas esta semana pela ACEA e pelo ADAC, só me surpreendem por tardias. É mais que óbvio que o caso Dieselgate projetou uma exagerada sombra de desconfiança sobre todos os motores Diesel, uma desconfiança que não se justifica face às mais recentes gerações de motores Diesel. “Uma coisa são os motores Diesel antigos, outra coisa são os modernos” diz a ACEA, uma declaração com que eu não poderia concordar mais. Mas a associação dos construtores demorou a tomar uma atitude pública em defesa dos seus representados, que são os quinze maiores construtores baseados na Europa. Os resultados são convincentes, mas podem já vir tarde, tendo em conta as dimensões de “papão” que o Diesel tomou aos olhos dos consumidores.

Governos recuam

No entanto, há aqui uma coincidência temporal com aquilo que alguns governos começam a dizer, quando afirmam que o Diesel ainda vai ter um papel importante na redução de CO2. Talvez lhes tenham chegado às mãos outros relatórios, os que dizem que, com a descida nas vendas dos carros Diesel na Europa, trocados por carros com motores a gasolina, as emissões de CO2 voltaram a subir. Não é preciso ter um mestrado em poluição para perceber o óbvio: as emissões de CO2 são diretamente proporcionais ao consumo de combustível. Ou seja, motores que gastem mais, emitem mais. É o que se passa com os motores a gasolina, face aos Diesel, apesar das evoluções dos primeiros.

“Muitos dos carros testados ficam abaixo das normas que só vão entrar em vigor em 2020”, diz a ACEA

A ACEA revelou que, dos 270 modelos Diesel que testou segundo as normas WLTP – com o sistema RDE (Real Driving Emissions) em que um aparelho de medições é montado na traseira do carro e o teste é feito na estrada, não é uma simulação em laboratório – todos cumpriram a norma Euro6d-Temp atualmente em vigor. Este teste mede as emissões de NOx e de partículas, aquelas em que os motores Diesel são piores. “Muitos dos carros testados ficam abaixo das normas que só vão entrar em vigor em 2020”, diz a ACEA, sublinhando que os 270 modelos testados representam famílias de versões, estimando o ADAC que estejamos a falar de 1200 versões Diesel que cumprem a norma.

Gasolina vende mais

No terceiro quadrimestre deste ano, as vendas de veículos de passageiros na Europa dividiram-se da seguinte forma: 58% a gasolina, 33% a gasóleo, 7,8% de outros combustíveis e 2% elétricos e “Plug-in”. São números que não deixam esperanças de redução de emissões de CO2, pelo menos no curto prazo. Por isso é importante que os Diesel recuperem, enquanto os elétricos e “Plug-in” não ganham expressão.

“Os construtores fizeram grandes investimentos para conseguir rapidamente atingir as reduções enormes de NOx. É importante que se pare de demonizar a tecnologia Diesel como um todo. Em vez disso, devemos diferenciar entre os antigos Diesel e os da nova geração” afirmou Erik Jonnaert, secretário geral da ACEA.

Ele acrescentou ainda que “os Diesel modernos, em conjunto com políticas de renovação de frotas e combinados com motorizações alternativas, vão ter um papel importante no esforço das cidades para atingirem as suas metas de poluição” concluíndo: “os Diesel vão continuar a ser importantes para reduzir as emissões de CO2 no curto e médio prazos.”

Os melhores automóveis medidos são 95 a 99% melhores do que os medidos pelo ADAC em 2012

Alguns poderão dizer que a ACEA apenas está a fazer lóbi a favor dos construtores de automóveis, uma verdade de La Palisse, pois é exatamente para isso que esta associação existe. Mas os números, são os números.

O ADAC, clube automóvel alemão, está a fazer os seus próprios testes RDE, para já tem 25 modelos medidos e as conclusões são interessantes. Todos cumprem a norma em vigor para o NOx e, face à antiga norma EU5 emitem, em média, menos 85% de NOx. Os melhores automóveis medidos são 95 a 99% melhores do que os medidos pelo ADAC em 2012.

Concretizando, o ADAC anuncia que 52% dos Diesel medidos fica abaixo da norma que impõe um limite de 80 mg/km de NOx. Os restantes ficam dentro da margem de tolerância.

De 528 para… 8!

Só para dar um exemplo, a média de NOx dos carros medidos pelo ADAC em 2012, segundo a norma EU5, era de 528 mg/km. Nos testes que está a fazer, o melhor carro medido até agora foi o BMW X1 sDrive 18d com apenas 8 mg/km de NOx.

Numa altura em que alguns governos, como o britânico, estão a retirar os incentivos à compra de carros “Plug-in” e a reduzir os reservados aos elétricos, não deixa de ser curioso observar a conclusão do ADAC, quando sugere que seria bom existirem incentivos financeiros para os carros que menos NOx emitissem, como alguns dos modernos Diesel.

Conclusão

Para quem pensava que o motor Diesel estava morto, aqui está uma inesperada prova de vida. A propalada subida nas vendas dos carros elétricos não é para já, como os números o demonstram, nem se trata de uma solução que vá acabar com todas as outras. Como me disse Robert Irlinger, líder do departamento i na BMW, em conversa durante o recente salão de Paris: “a influência da política é muito forte nesta área”, só espero que desta vez a influência seja no bom sentido.

Francisco Mota