19/04/2019. Hoje é um daqueles dias do ano em que muitos pais e mães vão ouvir a pergunta que acompanha qualquer viagem em família: “Ainda falta muito para chegarmos?…”

 

Não tenho claramente competências para explicar por que razão as crianças começam a perguntar “se ainda falta muito para chegar” pouco depois de se sentarem no seu banco e de a viagem começar.

“Ainda falta muito?…”

Não sei se é apenas pela excitação provocada pela expetativa de ir encontrar alguém de que gostam. Ou se é pela mudança de ares, por estarem confinadas a um espaço reduzido durante bastante tempo ou por terem a atenção dos pais em exclusivo durante algumas horas.

Também pode ser por razões mais sérias que escapam à atenção dos pais, como alguma fobia por espaços fechados ou pelo movimento. A verdade é que não conheço uma criança que não faça a proverbial pergunta: “ainda falta muito?…”

Quando o miúdo era eu

Isso faz-me recuar no tempo e esbarrar com memórias antigas, de muitas viagens de carro em família, quando eu era um dos pequenos que ia no banco de trás. Nos tempos em que não havia cintos de segurança nos bancos traseiros, e muito menos cadeirinhas para as crianças. Nem sei como a minha geração conseguiu sobreviver, mas isso é outra história.

Lembro-me de as minhas irmãs fazerem a fatídica pergunta muitas vezes, mas não me lembro de a fazer eu próprio. Talvez porque já estaria infetado com o “vírus” dos automóveis. Para mim, a viagem em si é que era o ponto alto do dia, não era o destino.

O culpado desta “doença” era o meu pai, claro. Como a minha mãe não tinha medo de andar depressa de carro, o meu pai transformava qualquer viagem num troço de rali. Não que cometesse qualquer tipo de loucuras, mas simplesmente aproveitava ao máximo o que o carro tinha para dar.

Fosse um Carocha ou um GTI, a atitude era sempre a mesma: não perder tempo, manter o ritmo, não travar muito, para não ter que acelerar muito. Uma condução toda em “souplesse” como se dizia nos anos setenta.

O gozo era a viagem

Eu, que me sentava sempre atrás dele, observava todos os movimentos, do carro, do trânsito das mãos dele no volante e não me coibia de mandar uns “bitaites.” Honestamente, não consigo perceber como o meu pai tinha paciência para me ouvir.

Claro que da minha boca nunca ouviu a tal pergunta do “ainda falta muito?…” mas sempre que alguém se atrevia a pedir para parar, para ir à casa de banho, ele ficava frustrado. Era como se tivesse acabado de ter um furo a meio de um troço, que lhe ia fazer perder tempo e baixar a média.

Enfim, os tempos eram outros. O número de carros na estrada era incomensuravelmente menor, a disciplina ao volante muito superior e a performance dos carros muitíssimo inferior.

Se fosse hoje…

Hoje, a realidade é completamente diferente. Os carros são incomparavelmente melhores, tal como as estradas, mas o trânsito cresceu exponencialmente e a necessidade de maior controlo policial é mais que evidente.

Nem vale a pena pensar em usar uma via principal de outra maneira que não seja cumprindo rigorosamente a sinalética, sem esquecer de acrescentar uma segunda camada de atenção para as desatenções dos outros utentes da via.

Se eu fosse criança hoje, seria muito difícil que eu não fizesse a mesma pergunta que todas as crianças fazem “ainda falta muito?…” tal é o tédio para quem viaja no banco de trás, que facilmente resvala para a irritação e crispação, se for mais que uma criança no carro.

O efeito na segurança

Acerca deste assunto, a Nissan revelou há pouco tempo os resultados de um inquérito feito a 5000 pais de toda a Europa, tentando saber mais detalhes sobre os efeitos na condução, do mau comportamento das crianças dentro de um carro.

Cerca de 60% dos pais diz que tem dificuldade em concentrar-se na condução, quando leva crianças a bordo e 30% chega a confessar que se sente menos seguro da sua condução.

Não é caso para menos, quando os pais enumeram os maus comportamentos das crianças que transportam: birras, choros, gritos, pontapés nas costas do banco do condutor, dizendo também que chegam a abrir os cintos de segurança e a atirar brinquedos pelo habitáculo.

É um daqueles casos em que a tentação será dizer: “se um filho meu fizesse isso…” mas a verdade é que atos destes já devem ter acontecido a todos os pais.

Como reagem os pais

As reações dos pais/condutores a este tipo de comportamentos é realmente preocupante. Ainda segundo o mesmo inquérito, os pais confessam que chegam a passar semáforos vermelhos por distração, desviam os olhos da estrada, esquecem-se de fazer o pisca, fazem travagens bruscas e injustificadas, mudam repentinamente de faixa, chegam a parar o carro e irritam-se com os outros condutores.

Como se resolve isto? Noutros tempos, metendo as crianças a cantar, fazendo jogos de pergunta/resposta, jogos de identificação de marcas de carros ou outros jogos de viagem que eram muito comuns, mas que já passaram de moda.

Hoje, os pais preferem entreter as crianças nas viagens com tablets ou smartphones, apesar de todos os malefícios associados a ler um monitor num carro em andamento. Alguns usam brinquedos, música ou mesmo doces, para manter os miúdos quietos.

Assistências à condução

Do lado da Nissan, como de outros construtores, a resposta está no aumento e aperfeiçoamento dos sistemas de alerta e assistência à condução, como o ProPilot que já equipa o Leaf e mantém o carro na sua faixa de rodagem, sempre a uma distância de segurança do carro da frente.

Um sistema muito útil mesmo quando as crianças não vão no carro, mas quando o condutor insiste em não largar as mãos e os olhos do seu smartphone.

Conclusão

Viajar de carro com crianças a bordo não é fácil. E escrevo isto depois de ter acabado de fazer uma viagem de três horas, que devia ter demorado apenas uma hora, não fosse o trânsito e o mau tempo. E isso não é culpa dos mais pequenos. Como sempre, dar-lhes mais atenção, tentando manter uma conversa que os interesse é sempre o melhor remédio. Não é fácil, mas resulta melhor do que responder simplesmente: “estamos quase a chegar.”

Francisco Mota