29/4/2022. Injustamente escorraçados dos incentivos públicos, a favor dos “plug-in”, afinal pode ser que os híbridos “normais” possam vir a receber benefícios. Adivinhe quem está por detrás desta mudança na mente de alguns políticos?
Há mais de vinte anos que a Toyota tem investido nas motorizações híbridas. Começou com o primeiro Prius em 1997, sem ganhar dinheiro com a inovação, mas conseguiu mudar mentalidades e hoje domina por completo a tecnologia e o mercado.
No seu conjunto, os 15 milhões de híbridos vendidos pela Toyota e Lexus no último quarto de século evitaram a emissão de toneladas de gases poluentes para a atmosfera.
Nos últimos anos, a Toyota tem sido, na Europa, a marca líder em média de emissões da sua gama, graças às vendas de modelos híbridos, que atingem os 70% de todos os Toyota vendidos na Europa.
HEV ficaram de fora
Ainda assim, quando chegou a altura dos Estados incentivarem/financiarem a transição para a eletrificação, escolheram apoiar apenas os “plug-in”, no que aos híbridos diz respeito.
As razões dos políticos estão ligadas à possibilidade que os “plug-in” têm de ser conduzidos em modo 100% elétrico durante algumas dezenas de quilómetros e de estarem homologados com emissões muito baixas.
Os hábitos de condução dos utilizadores de veículos “plug-in” não são os ideais
Mas a realidade acabou por mostrar que os hábitos de condução de muitos utilizadores de veículos “plug-in” não são os ideais. Não carregam a bateria vezes suficientes e, por isso, não conduzem em modo elétrico durante quilómetros suficientes para fazerem a diferença.
Homologações WLTP irrealistas
Acresce que as homologações de consumos dos “plug-in”, as famosas normas WLTP, são feitas em ciclos de condução simulados em laboratório, relativamente curtos e começando sempre com a bateria a 100% de carga.
Resultado, os consumos homologados andam muitas vezes abaixo dos 2,0 l/100 km e as emissões ficam facilmente abaixo das 50 g/km de CO2. Valores excecionais, mas irrealistas.
Num teste comparativo que fiz entre as versões híbrida e “plug-in” do novo Lexus NX (pode ver o vídeo no canal YouTube do Targa 67, seguindo o LINK no final deste texto) concluí que os consumos do primeiro são francamente mais baixos que os do segundo, quando este é conduzido com a bateria a zero.
Realidade incómoda
Esta realidade começou a ser demasiado óbvia para ser ignorada pelos políticos e as coisas podem alterar-se para os próximos anos, pelo menos na próxima dúzia de anos, até a proibição de venda de veículos a gasolina ou gasóleo ser proibida, como é vontade da CE para 2035.
Recentemente, outro facto, que passou relativamente despercebido, veio tornar o assunto ainda mais atual e urgente. Aconteceu no Reino Unido e foi descrito pela imprensa local nos termos seguintes.
A Toyota terá pedido esclarecimentos sobre como vão ser classificados os seus híbridos
Face à ausência de detalhes no processo de fim da produção de veículos térmicos, que o Reino Unido adiantou para 2030, a Toyota terá pedido esclarecimentos sobre como vão ser classificados os seus híbridos entre 2030 e 2035.
Durante este período, a venda de híbridos no Reino Unido vai ser permitida, mas falta definir o conceito de híbrido. Para já, apenas os “plug-in” estariam a ser considerados. Mas nada foi ainda definido.
A “curiosidade” da Toyota
Por que razão o gigante japonês fez este pedido? Muito simples: quer saber que destino dar às duas fábricas que tem instaladas na ilha britânica e que foram sendo otimizadas para o fabrico de híbridos ao longo dos anos.
Como é lógico, a Toyota quer saber se valerá a pena continuar a fabricar híbridos no Reino Unido ou se dá outro destino às suas duas fábricas britânicas.
Quer saber se pode continuar a produzir híbridos, sujeitando-os à continuação do processo de evolução que tem levado a cabo como nenhuma outra marca (já vão na quarta geração) ou se têm que escolher outra via.
Pode fechar as fábricas…
Subjacente fica sempre a hipótese de a Toyota fechar as fábricas e sair do país, seguindo o exemplo da sua compatriota Honda. E deixando um rasto de 3500 desempregados.
Claro que a comunicação da Toyota não coloca a questão tão vincadamente nestes termos, mas sabemos como estas coisas funcionam, quando se fala da cultura japonesa.
Ter mais 3,5 milhares de desempregados é um problema que qualquer governo dispensa
E quando a conversa chega a este ponto, é claro que os ouvidos dos políticos se tornam imediatamente mais sensíveis. Ter que resolver a questão social de mais 3,5 milhares de desempregados é um problema que qualquer governo dispensa.
Afinal, os HEV são “bons”
Por tudo isto, começam a surgir no Reino Unido alguns rumores de que “seria mais justo” apoiar a compra de veículos híbridos não recarregáveis do exterior, ou seja, não “plug-in”.
Nada disto será tratado nas páginas dos jornais, não é o estilo da Toyota. Mas se os híbridos passarem a receber incentivos no Reino Unido, já sabemos quem venceu…
E se isso acontecer no Reino Unido, com Brexit ou sem Brexit, é mais que provável que a mudança se estenda aos mercados da Europa continental.
Muitos não têm culpa
Tirar daqui a conclusão de que a “culpa” de tudo isto é dos condutores dos “plug-in”, que não os carregam com a frequência ideal, será um erro grosseiro. A verdade é que, muitos, não têm onde os carregar de forma eficiente.
Se não tiverem pontos de carga em casa ou no trabalho, não é com a rede pública que vão resolver o seu problema.
O crescimento da oferta de carregadores públicos não para de crescer, isso é certo. Mas está a acontecer sobretudo no segmento de mercado dos carregadores rápidos e ultra-rápidos. E são raros os “plug-in” que podem usar estes carregadores.
Conclusão
Poucos duvidam que a transição para os veículos 100% elétricos vai ser o futuro. Mas, até lá chegar, é bom que os construtores de automóveis consigam os recursos financeiros para concretizar esse investimento. A subida na venda dos híbridos não “plug-in” podia contribuir para os construtores ganharem balanço suficiente para a nova fase, ao mesmo tempo que reduziriam as emissões poluentes reais.
Francisco Mota
Ler também seguindo o LINK:
Vídeo – Lexus NX 350h vs. 450h+ Híbrido ou Plug-in? Qual o melhor?