Edição de 2022 "adiada" para 2023, diz a organização

Antevisões servem para testar as reações do público

Imaginação à prova em alguns "estudos"

Novas tecnologias em exposição, mas a que preço?

Nos salões também se fazem outras experiências

Contactos informais nos salões não têm equivalente digital

Um carro num stand, a fórmula tem mais de 100 anos

"Concept-cars" fazem parte da festa

8/10/2021. O Salão de Genebra de 2022 foi cancelado. É a terceira edição seguida que não se realiza, mas os organizadores prometem “mundos e fundos” para 2023. Pode ser tarde demais…

 

Não preciso explicar a importância do Salão Automóvel de Genebra. É o preferido dos construtores, do público e dos jornalistas. Em pouco espaço, o salão reúne, uma vez por ano, tudo aquilo que é importante na indústria automóvel.

Novos modelos, concept-cars, grandes marcas, pequenas marcas, novas marcas. Está lá tudo exposto, num formato compacto fácil de ver e organizado em território neutro.

É, por isso, o Salão onde se deslocam mais CEOs, diretores de Design, diretores de produto, diretores de engenharia e todas as figuras importantes dos construtores. Para saber o que se passa no mundo dos automóveis, não há melhor.

Uma surpresa? Nem por isso…

Depois do recente mini-salão de Munique talvez não se esperasse que o salão de Genebra 2022 fosse já cancelado. A Imprensa especializada até “puxou” por Munique, em vão.

As marcas desertaram de Genebra, como já o tinham feito de Munique.

Mas as marcas desertaram de Genebra, uma após outra, como já o tinham feito de Munique e deixou de haver quórum para abrir as portas em Fevereiro.

Na verdade, a saúde do salão de Genebra tinha vindo a decair nos anos pré-pandemia. A edição de 2019 foi das mais fracas de sempre, com muitas marcas ausentes.

A culpa é dos semi-condutores?…

Para 2022, a organização tentou convencer as marcas a participar, vendendo a ideia de que seria o regresso à normalidade.

Só que a normalidade já não é o que era. E, em cima disso, caiu agora a “pandemia” dos semi-condutores.

As marcas têm outras prioridades, dizem os organizadores do salão de Genebra

Segundo a organização do salão, terá sido essa a razão apontada por muitos construtores para desistirem da edição de 2022. Mas será uma razão ou uma desculpa?

“As marcas têm outras prioridades, nesta altura” dizem os organizadores de Genebra, sugerindo que os custos industriais da falta de semi-condutores são essa prioridade.

O problema dos salões vem de trás

Mas as marcas não deixaram de fazer publicidade aos seus novos modelos, nem de organizar lançamentos de carros novos para a Imprensa. A minha agenda está cheia para as próximas semanas.

A verdade – que não é de agora, nada tem a ver com a pandemia, nem com os semi-condutores – é que o investimento numa ação de marketing e publicidade como é um salão automóvel, tem retorno cada vez mais incerto.

O futuro é digital, mas será em Genebra?

A organização do salão de Genebra diz estar a trabalhar numa plataforma digital para complementar a experiência presencial da edição de 2023, que esperam saia assim reforçada.

Mas já tiveram quase dois anos para fazer isso, depois do cancelamento da edição de 2020. E ainda não foram capazes de a implementar.

Esperava-se que, cancelada a edição presencial de 2022, fosse organizada em alternativa uma versão digital.

Seria uma evolução daquilo que os homens de Genebra fizeram – à pressa mas com mérito – quando a edição de 2020 foi interdita devido ao Covid-19. Mas nem para isso os construtores mostraram disponibilidade.

Quem tem saudades de Genebra?

Tirando os contactos informais, que eram muitos e muitas vezes frutuosos durante o Salão de Genebra, não penso que os grandes agentes da indústria tenham sentido a falta do salão de Genebra para o funcionamento do seu negócio.

O mundo mudou e a fórmula dos salões tornou-se obsoleta.

É uma fórmula de excessos, num mundo que está numa tendência de downsizing em todas as áreas. Excesso de espetáculo, excesso de futilidades, excesso de viagens, excesso de CO2 emitido por toda a logística. E isso hoje conta, nem que seja por questões de imagem.

Conclusão

Fui a quase todas as edições do salão de Genebra dos últimos trinta anos, era sempre um ponto alto do ano. Mas dou por mim a pensar que não lhe tenho sentido a falta. É o fim de uma era.

Francisco Mota

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