Cupra Born chega em Janeiro (fotos de Eugeni Sunyer)

O perfil é a vista mais parecida com o VW ID.3

Jantes e pneus maiores e suspensão mais baixa

Muito suave e silencioso na cidade

O desenho da traseira diferencia o Born

O Cupra Born é feito na Alemanha

Condução fácil e confortável. Em cidade e na montanha

Grande distância entre-eixos e baixo C.G.

A dinâmica em curva é mais desportiva que a do ID.3

Volante Cupra com botões de modos de condução

Head Up Display com realidade aumentada

Acabamentos com as cores da Cupra

Banco integrais com bom apoio lateral

Muito espaço na segunda fila

Mala tem 385 litros de capacidade

A Cupra entra nos 100% elétricos com o Born, uma interpretação mais radical do VW ID.3, tanto no estilo, como no habitáculo e mesmo na mecânica. Mas será melhor ou pior que o ID.3? Primeiro teste, primeiras respostas.

 

As boas práticas do passado não foram alteradas com a passagem para os carros elétricos, pelo menos no Grupo Volkswagen. Partilhar plataformas e o máximo possível de componentes é uma estratégia tão valiosa no mundo dos carros elétricos, como nos a combustão.

É neste contexto que surge o Born, o primeiro modelo da marca espanhola a entrar nos 100% elétricos, usando como base a plataforma MEB. E é também o primeiro modelo do grupo a seguir as pisadas do ID.3.

Curiosamente, não foi a marca Seat a ter a prioridade, o que se explica pelo posicionamento mais premium da Cupra, capaz de absorver melhor os custos mais altos que um carro elétrico ainda tem.

Mas também há uma aposta no crescimento da Cupra, a marca precisa de subir das 50 000 unidades que vendeu no ano passado. Um bom número, em termos relativos.

“Gémeo” do ID.3?

O Born aposta nas cores e nas decorações para se diferenciar do ID.3, mas não só. O desenho da frente é bem mais radical que o do VW, com o símbolo da Cupra em grandes dimensões no capót e na tampa da mala.

O formato dos faróis, farolins e para-choques muda, tal como o desenho e dimensão das jantes. Não é muito, mas talvez seja o suficiente para agradar a uma “tribo” que se está a juntar em volta da Cupra, sobretudo em Espanha.

Por dentro, a ideia é a mesma. Todos os componentes são iguais aos do ID.3, mas o Born tem direito ao seu próprio volante, com dois enormes botões redondos para os modos de condução: o da esquerda percorre todos os modos (Range/Comfort/Performance/Cupra/Individual) e o da direita vai direto ao modo Cupra, o mais desportivo. Que é opcional, como já veremos…

Interior diferenciado

Há vários detalhes de decoração na cor oficial da marca, o cobre, bem como acabamentos em imitação de pele, com costuras na mesma cor. Os bancos são integrais, sem apoio de cabeça ajustável, mas com bom apoio lateral.

Não posso dizer que a qualidade do habitáculo é superior ao ID.3, mas o aspeto é melhor, com um ambiente mais sofisticado. Quanto ao espaço interior, é o mesmo do VW, mais que suficiente, na frente e muito amplo, na segunda fila.

Para conhecer o Born ao vivo, fui guiá-lo a Barcelona

Estas são as mudanças visíveis, para conhecer as outras fui a Barcelona testar uma das primeiras unidades do Born. Primeiro em cidade, onde a condução mostrou a facilidade e suavidade já conhecidas do ID.3.

A mesma mecânica

Resposta pronta do acelerador, mesmo em modo Range, bom isolamento acústico, boa calibração do pedal de travão e direção bem assistida, com raio de viragem muito curto.

Há dois níveis de regeneração, o mais intenso “B” selecciona-se no comando da transmissão, que está no enfiamento do painel de instrumentos, como no ID.3.

Guiei a versão mais potente, com motor de ímanes permanentes colocado atrás, com 170 kW (231 cv), 310 Nm e tração atrás. Faz 16 000 rpm.

Estava equipado com a bateria maior (77 kWh), uma combinação que não está disponível no ID.3.

Um 4×4 mais potente?

Perguntei a Gerhard Lux, o responsável da técnica elétrica na marca, se estava prevista uma versão mais potente, com um segundo motor no eixo da frente. A resposta foi um “nim” dizendo apenas que “estão atentos às capacidades desta plataforma.” Para mim, isto é um sim…

Não tive oportunidade de testar consumos nem estimar autonomias, por isso fico-me pelos números anunciados para esta combinação motor/bateria. Autonomia combinada de 540 km e aceleração 0-100 km/h em 7,0 segundos.

Também estão disponíveis duas baterias mais pequenas e mais mais leves, de 45 kWh e de 58 kWh. A primeira combinada com o motor de 110 kW (150 cv).

Para a bateria de 77 kW, a Cupra anuncia uma carga total em 7h30, numa wallbox de 11 kW; e 38 minutos para ir dos 5 aos 80%, num carregador rápido de 125 kW. Mas a bateria está apta a carregar a 170 kW, demorando então 35 minutos para fazer os 5-80%.

E-Boost para chegar aos 231 cv

Para chegar aos 231cv (170 kW), há um opcional “E-Boost Performance Pack” que é aplicado à versão de 204 cv (150 kW) e só é ativada no modo Cupra, um modo que só está disponível com este Pack, onde estão incluídos ainda o volante Cupra, discos de travão maiores à frente e jantes de 19 polegadas.

O software “espreme” a bateria de 77 kWh ao limite, para de lá retirar mais 27 cv

Onde é que se vão buscar os 20 kW extra? A um software que “espreme” o máximo que a bateria refrigerada a líquido tem para dar, quando se acelera até ao batente. É nessa situação que se ganham os 27 cv, em relação à versão de 204 cv. Os 310 Nm não se alteram.

Suspensão com outros argumentos

Mas como de um Cupra se espera algo mais em termos dinâmicos, foram feitas também alterações mecânicas, face ao ID.3 a começar pela disponibilidade, em opção, de pneus 235/40 R20, nesta versão mais potente. Nas outras, as jantes são de 18” e 19”.

A suspensão é 15 mm mais baixa, na frente e 10 mm, atrás que o ID.3 e tem amortecedores variáveis e ajustáveis, em opção, que estavam montados na unidade que guiei.

Outras diferenças importantes são a direção progressiva e os travões com quatro discos de maior diâmetro, bem como detalhes de calibração (não especificados) no software de gestão da bateria, direção e amortecedores.

Sair de Barcelona numa sexta-feira…

Depois de 40 minutos na confusão do trânsito de um sexta-feira à tarde em Barcelona, encontrei uma estrada desimpedida para poder fazer um teste de arranque que se mostrou convincente.

A relação final da transmissão é mais curta no Born, o que ajuda a fazer os 0-100 km/h em 7,0 segundos, sendo 0,3 segundos melhor que o mais rápido dos ID.3 de 204 cv.

Mas é possível melhor. Mantendo o E-Boost Performance Pack, mas optando pela bateria (mais leve) de 58 kWh, os 0-100 km/h descem para os 6,6 segundos, a autonomia também desce para os 424 km.

Dinâmica mais controlada

As curvas que se seguiram, com o modo Cupra seleccionado, serviram para mostrar que, no 15º nível de maior amortecimento, o Born tem um controlo de massas superior ao do ID.3, conservando a carroçaria mais estável, mesmo quando se abordam encadeados de curvas a velocidades altas.

maior precisão do eixo da frente, melhor tato da direção e superior estabilidade da carroçaria. Também a travagem inspira maior confiança, o que verifiquei numa sequência muito rápida da curvas a descer, com zonas de travagem severa.

O Born mostrou uma atitude sobretudo neutra, fruto da suspensão mais baixa

Neste tipo de condução, mais rápida em estrada larga de montanha, o Born mostrou uma atitude sobretudo neutra, fruto de um Centro de Gravidade baixo, da distribuição de pesos de 50% por cada eixo e da suspensão traseira multibraço. Sem esquecer os pneus 235.

ESC Sport e Off

Aumentando a velocidade de entrada em curva, o comportamento progride para uma ligeira subviragem antes do ESC entrar em cena, de forma atempada e discreta, mas frequente.

O ESC tem um modo Sport, deixando então usufruir um pouco mais da tração traseira. Quando se acelera a partir do meio da curva, a traseira ensaia uma ligeira deriva, que nem precisa de correção.

Mas, também aqui é possível melhor, com os pneus 235/40 R20, pode ter-se a posição “off” do ESC, que a Cupra avisa “ser aconselhável usar apenas em pista”. Apesar de o “meu” Born ter os pneus certos, não tinha esta opção.

Um “pisar” Cupra

A suspensão de amortecimento ajustável (DCC no vocabulário do grupo VW) mantém sempre um nível de conforto muito bom, mesmo no nível mais alto, comprovando assim a filosofia da Cupra de proporcionar uma dinâmica que mistura cuidadosamente duas prioridades: desportividade e conforto. O “pisar sofisticado” da suspensão foi atingido.

O único preço que já se conhece é o da versão de 204 cv com bateria de 58 kWh, que vai custar 38 000 euros, equiparando-o ao ID.3. Será preciso analisar as tabelas de equipamento definitivas do Born para ver como se compara com o ID.3 na relação custo/benefício.

Conclusão

Qual a resposta à pergunta inicial?… As primeiras impressões são claras: o Born tem uma dinâmica mais desportiva que o ID.3, como seria de esperar. Será preciso aguardar pelo ID.3 GTX para fazer uma comparação mais justa a este nível. Mas as diferenças a que os compradores vão dar mais importância são o estilo e o ambiente interior, mais radicais. Podem não ser do gosto de todos, mas têm uma personalidade mais vincada.

Francisco Mota

Ler também, seguindo o LINK:

Teste em vídeo – VW ID.3 vai revolucionar os elétricos?