23/6/2023. A Renault mostrou o seu novo topo de gama, um SUV com perfil coupé para se posicionar no segmento D, acima do Austral e Espace. Até aqui, nada de surpreendente. A surpresa chegou quando o pano foi tirado de cima do Rafale e todos o viram. A Renault diz que é a nova linguagem de estilo da marca, mas as semelhanças com a atual linguagem de estilo da Peugeot são flagrantes. Imitação, coincidência, tendência – afinal o que se passou?

 

A Renault criou um ambiente de espetativa antes da apresentação do seu novo topo de gama, o Rafale, mostrando uma imagem do modelo tapado com um pano que deixava perceber tratar-se de um SUV-coupé. Mas faltava conhecer os detalhes para ver qual seria a anunciada nova linguagem de estilo da marca francesa.

Quando o pano caiu, também caíram os queixos de muitos observadores. Não porque faltasse ao Rafale elegância ou atualidade, pelo contrário. O estilo é tão elegante quanto pode ser um SUV-Coupé posicionado no segmento D, com proporções equilibradas e detalhes que preenchem a generosa área de carroçaria de um modelo deste segmento.

“Igual” ao Peugeot 408…

A questão é outra: o Rafale parece um Peugeot. Não há outra maneira de o dizer. Quem conheça os mais recentes produtos da marca do leão, facilmente identifica no Rafale linhas muito próximas às de modelos como o 408 ou mesmo 3008.

O desenho dos faróis da frente, as formas da grelha e a maneira como se enquadra com eles e com as entradas de ar que estão por baixo, o recorte do capót, até as formas triangulares dos extremos do para-choques fazem lembrar o 408 e isto só para falar da frente.

Atrás, as luzes têm um formato diferente do Peugeot, mas o spoiler do tejadilho com extremos pontiagudos, o volume destacado a meio do para-choques, tudo é parecido ao 408. Tal como no perfil, com uma linha de cintura com uma descontinuidade na zona da porta de trás, executada de forma diferente, mas seguindo o mesmo conceito.

Como será o 3008 coupé?

Claro que o Rafale tem uma pose mais alta, face ao 408 que tem um tejadilho assumidamente mais baixo que o normal nos SUV. Mas as semelhanças podem vir a ser ainda maiores quando a Peugeot mostrar, ainda este ano, a nova geração do 3008 que, segundo sei, terá também uma versão com tejadilho coupé.

Estaremos perante um caso de imitação, uma coincidência ou apenas o seguir de tendências, coisa que no passado também já aconteceu? É difícil saber, mas tentei reunir alguma informação para tentar perceber como se chegou até aqui.

O principal “suspeito”

A primeira pista é a mais óbvia, o Vice-Presidente de Design da Renault é Gilles Vidal, que desempenhou cargo semelhante na Peugeot até 2020. É o principal “suspeito”.

Em comunicado, a Renault afirma que o Rafale “é o primeiro veículo de produção inteiramente desenhado de acordo com a nova linguagem visual que Gilles Vidal trouxe para a marca, como chefe do Design.”

Isto é praticamente a confissão do “crime”, sabendo que foi Vidal o responsável pelo estilo do Peugeot 408 e de todos os modelos que a marca tem neste momento à venda. Tanto quanto sei, Vidal ainda dirigiu o estilo do próximo 3008 coupé, que será muito interessante de descobrir…

Demasiado óbvio

Será que Vidal fez mesmo o que o comunicado da Renault diz e que “trouxe para a Renault” o estilo que o fez famoso na Peugeot?…

Seria uma situação muito pouco abonatória da sua imaginação como estilista. Um mero “copy-paste” de algo que já tinha feito antes. Uma manobra demasiado óbvia para ser verdade.

Vidal já mostrou que vale mais do que isso, durante a década em que esteve à frente do estilo da Peugeot, entre 2010 e 2020.

O que se passou?

Mas então o que se passou verdadeiramente? Segundo consegui apurar, o estilo do Rafale já estaria definido quando Vidal chegou à Renault, há pouco mais de dois anos.

Esta informação faz todo o sentido, pois o processo de desenhar um modelo novo, ainda para mais com a responsabilidade de estrear uma nova linguagem de estilo, não é coisa que se faça em apenas dois anos.

Acredito que Vidal tenha acrescentado alguns detalhes, talvez até para diferenciar o mais possível o Rafale do 408, mas a sua intervenção não deverá ter sido muito profunda.

Renault a copiar?

Será então uma cópia declarada da Renault aos produtos da Peugeot? Laurens van den Acker, o Vice Presidente de design do Grupo Renault (chefe de Vidal) não é conhecido por seguir os outros estilistas, pelo contrário.

O trabalho de refundação da imagem dos produtos Renault e Dacia que lidera desde 2009 foi notável, contribuindo para dar às duas marcas uma identidade que antes estava em falta.

Contudo, o estilo dos mais recentes Renault tem sido criticado por uma certa estagnação, desde que a atual linguagem foi estreada no Clio iV de 2012.

“Eles” falam todos

É possível que o sucesso do estilo da Peugeot há vários anos tenha soado como sinal de alarme na Renault para fazer uma mudança mais substancial.

Mas o mais certo é que, no caso do Rafale, se trate apenas de seguir tendências. Ao contrário do que se julga – e isso já me foi confirmado por mais que um responsável de estilo – a comunidade dos profissionais desta área não trabalha de forma isolada, fechados nos “bunkers” das respetivas marcas, obrigados a total confidencialidade.

Há comunicação entre eles, muitas vezes a nível totalmente informal e também há transferências de profissionais de vários níveis, na cadeia hierárquica, entre as marcas.

As tendências existem

A informação sobre o que se está a fazer e quais são as tendências do futuro é algo que circula neste meio restrito. E isso tem sido confirmado em muitas soluções que surgem em automóveis concorrentes de forma quase simultânea.

Não sei exatamente quando foi iniciado o projeto Rafale, em termos de estilo, mas não acredito que isso tenha acontecido há menos de quatro anos. E, nessa altura, o Peugeot 408 ainda não tinha sido mostrado, pelo menos fora dos muros altos da Peugeot.

Conclusão

Seja com for, imagino o que seria dito do desenho do Rafale se tivesse sido apresentado por uma marca chinesa. Todos gritariam “plágio!”, alguns iriam sugerir processos judiciais por quebra de direitos de autor – seria o escândalo. Neste caso, as reações têm sido muito mais moderadas, o que diz alguma coisa sobre a maneira de ser europeia. Não acredito que a Peugeot venha a ter algum tipo de iniciativa a este respeito, a não ser um ou outro comentário jocoso nas redes sociais, do estilo: “nós fazemos os originais”.

Francisco Mota

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