22/9/2023. As recentes declarações e decisões de alguns políticos europeus, em relação aos carros elétricos, parecem uma coisa, mas acabam por ser outra. Mais uma vez, a classe política não tem problemas em usar-se da transferência energética para ganhar votos.

 

No próximo ano vai haver eleições gerais no Reino Unido, por isso o atual primeiro-ministro já começou a sua campanha. Não admira que a decisão que anunciou esta semana vá no sentido de agradar a alguns eleitores, mesmo se vai contra aquilo que fez nos anos anteriores.

Rishi Sunak anunciou que a proibição de venda de carros a combustão vai ser atrasada de 2030 para 2035, pretensamente porque o Reino Unido era “o país do mundo que estava mais à frente” na transição energética.

Disse que “a população vai poder continuar a comprar carros a combustão depois de 2030” a data que tinha sido estabelecida pelo governo como limite. Uma data que antecedia de cinco anos aquela que foi acordada entre os estados da União Europeia, ou seja, 2035.

Construtores não gostaram

Sem dúvida que o Brexit trouxe a alguns governantes do Reino Unido a vontade de fazer coisas diferentes, para justificar a saída. Mas, aos pouco e poucos, foram percebendo que talvez esse não seja o melhor caminho.

Contudo, este atraso e alinhamento com a Europa, não foi do agrado de muitos construtores de automóveis. E as razões são fáceis de entender. Tudo o que é preciso mudar na indústria para passar da produção de carros a combustão a carros elétricos não é algo que se faça em meses ou poucos anos.

Esta medida, veio pôr em causa a negociação de longo prazo entre construtores e fornecedores, veio criar o caos no planeamento dos produtos a lançar e veio trazer confusão aos compradores de automóveis.

Uma única vantagem

Podemos dizer que se trata de “apenas” cinco anos de atraso, mas cinco anos é muito tempo na indústria automóvel, mais ainda numa fase de revolução como aquela por que está a passar.

Este caso tem uma única vantagem, que é mostrar as consequências de um atraso deste tipo, a todos os que defendem na Europa o adiamento da proibição de venda de carros a combustão a partir de 2035.

Para os construtores que já investiram milhares de milhões de euros e dólares nos carros elétricos, obrigados a seguir as diretivas dos políticos, atrasos como estes são mais uma facada nas costas.

Vender elétricos já!

Qualquer construtor que esteja empenhado nos elétricos, precisa de os vender em grande número o mais cedo possível, não o contrário. “Precisamos de vender elétricos agora” ouvi de um CEO de uma das mais importantes marcas europeias.

Enquanto os políticos do Reino Unido trocam as voltas aos construtores, com o risco de os ver deslocar investimentos para países com menos dúvidas, na Europa também se ouvem coisas “interessantes.”

Na Comissão Europeia começou finalmente a falar-se de aumentar as taxas aos carros elétricos importados da China, na busca de uma paridade fiscal que não tem existido, beneficiando o “Made in China.”

Investigação em Bruxelas

A Comissão Europeia mandou a Pequim o vice-presidente executivo com a pasta do comércio, pedir às autoridades chinesas para colaborar numa investigação de Bruxelas sobre alegadas subvenções ilegais chinesas ao setor dos carros elétricos.

As autoridades chinesas já disseram que essa investigação é uma demonstração de protecionismo à economia europeia.

Mas talvez já seja tarde. Segundo a Comissão Europeia, os carros elétricos chineses já representam 8% das vendas na Europa, a preços 20% mais baixos, em média, que os europeus. Há quem diga que a indústria automóvel chinesa tem dez anos de avanço face à Europa e os resultados estão à vista.

Europeus queixam-se

Mas isto está longe de ser uma ajuda ao produtores europeus de carros elétricos, que se continuam a queixar de poucas ajudas à produção, poucos incentivos à compra e, mais importante, estagnação no crescimento da rede de abastecimento.

A verdade é que, como estão as coisas, os construtores europeus não conseguem descer a preços iguais aos dos seus rivais chineses, sem perder dinheiro. E o mercado faz o que faz sempre: escolhe o produto mais competitivo.

Conclusão

Enquanto o primeiro-ministro do Reino Unido diz, basicamente, que não há pressa em vender mais carros elétricos, os construtores chineses aumentam a sua penetração no mercado europeu. A continuar assim, é bem possível que venhamos a ter umas quantas Nokias entre as marcas europeias de automóveis.

Francisco Mota

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