21/7/2023. Para quem acompanha o noticiário da indústria automóvel, não é novidade encontrar a Tesla entre os principais destaques do dia. Qual a razão para isso e, já agora, quais são as últimas da marca americana é o tema da Crónica à 6ª feira desta semana no blog TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

A Tesla não faz publicidade tradicional, ou seja, não contribui diretamente para os orçamentos dos orgãos de informação. Mas não é por isso que deixa de ter todo o espaço que poderia desejar nos media. A razão para isso é muito simples.

Fundada em 2003 e dirigida por uma personalidade muito carismática, a Tesla tem sido fonte inesgotável de informações, rumores e simples expeculações em praticamente tudo aquilo que tem feito.

A atitude fora da norma do seu líder Elon Musk é suficiente para gerar o “buzz” que promove a Tesla às primeiras páginas, físicas e digitais, dos maiores orgãos de informação do globo. E dos mais pequenos também.

Musk é o “outdoor”

Musk e o seu gabinete de comunicação sabem bem como estar sempre nas notícias, como as gerar, como as anunciar, como as propagar e delas tirar o melhor proveito. Em vez de páginas de publicidade ou “outdoors”, Musk usa o Twitter. Mas não só.

O processo de crescimento da Tesla é normal que gere notícias e ainda não terminou, porque as ambições de Musk crescem com o crescimento do negócio. Primeiro falava nas marcas premium alemãs como alvo, agora já deixa entender que o objetivo é superar a Toyota, o maior construtor do mundo.

É sempre notícia

Considerando que a Tesla raramente faz as coisas de acordo com a norma da indústria, é claro que muitas das suas manobras acabam por ser notícia. O corte nos preços dos seus automóveis foi algo raramente visto no setor e globalmente difundido.

Se é notícia, interessa aos consumidores de informação, ao grande público. E os orgãos de informação nada mais têm a fazer do que explorar o filão e dar todo o espaço e mais algum à Tesla. O que ganham em audiência compensa a falta de investimento publicitário da Tesla, ou pelo menos é o que parece.

Uma semana muito agitada

Esta reflexão surge ao fim de alguns dias em que a Tesla esteve particularmente presente no noticiário. Aproximava-se a data da apresentação dos resultados financeiros do segundo trimestre de 2023 e era preciso impressionar os acionistas, para o continuarem a ser.

Discutiu-se se as generosas descidas de preços iriam ou não afetar os lucros. Uma coisa é certa, os “saldos” fizeram efeito, pois o Model Y foi o carro mais vendido na Europa em Junho, batendo o Dacia Sandero e o VW T-Roc, terminando o primeiro semestre como o modelo mais vendido na Europa. Conclusão: o preço ainda manda, seja a que nível for.

Vender tecnologia

A Tesla também anunciou que está disposta a licenciar a sua tecnologia de ajudas eletrónicas à condução com outros construtores, no caminho para a condução autónoma.

O interesse da marca nesta “partilha”, para lá do lucro, é óbvio: um futuro com muitos carros autónomos na estrada é mais fácil para os autónomos, do que se existirem muitos não autónomos. Ao volante, os computadores são mais previsíveis que os humanos.

A marca já fechou negócio com outros construtores (Ford, GM, Rivian e Nissan) para a partilha dos seus supercarregadores com os utilizadores de modelos dessas marcas a poderem frequentar os icónicos supercarregadores Tesla.

Mas todos vão ter de converter a ficha de carregamento para o modelo usado pelos Tesla, neste caso “free of charge” em relação ao pagamento de direitos.

A maior fábrica da europa

Outra notícia dos últimos dias foi o anuncio do início da produção da “pick-up” Cybertruck, quatro anos depois de ter sido mostrado o primeiro protótipo e que, dizem, conta já com uma lista de espera de 1,7 milhões de compradores.

Mas talvez a maior notícia seja o plano de ampliação da fábrica europeia da Tesla perto de Berlim, na Alemanha. O projeto é tornar esta na maior fábrica de automóveis da Europa, incluindo aumento da fabricação de baterias no local.

O objetivo será duplicar a capacidade de produção para 1 milhão de carros/ano na fábrica de Gruenheide, aberta em 2022, com as obras a terminar perto do final de 2024. Os residentes nas vizinhanças das instalações parece não terem recebido a notícia com tanto entusiasmo como os acionistas.

Chegaram os resultados

Entretanto, no fim da semana, a Tesla anunciou mesmo os resultados financeiros do segundo trimestre deste ano. Em termos de produção, foi um trimestre recorde na história da marca, com entrega de 466 000 veículos.

A receita bruta no segundo trimestre subiu 47% face a igual período do ano passado. A margem operacional foi de 9,6% o que, segundo os especialistas, anda na média dos construtores de automóveis generalistas.

A margem bruta no segundo trimestre foi de 18,2%, menos que os 19,3% registados no primeiro trimestre. Não sou um especialista de economia, por isso não me vou alargar em considerações. Mas quem lida diariamente com estes assuntos diz que os resultados são bons, sem serem excecionais.

Conclusão

A Tesla parece estar numa fase de alguns sacrifícios nos lucros, com o objetivo de conquistar mais mercado. Por outro lado, está também a equilibrar o volume de produção com a procura. Mas o maior equilíbrio é sempre entre o volume de produção e o lucro unitário. Produzir menos e mais caro, parece estar a dar lugar a produzir mais e mais barato.

Francisco Mota

(foto de João Apolinário)

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