30/9/2022. Depois do “escândalo” que foi a grelha gigante do M3, M4 e i4, a BMW volta a chocar a sensibilidade estética de muitos com o novo SUV XM. “Grotesco” foi a coisa mais simpática que já lhe ouvi chamar, mas será que os homens da BMW perderam mesmo o juízo?

 

Quando foi mostrada, a gigantesca grelha dos atuais M3, M4 e i4 gerou discussão durante dias, nas redes sociais. O gabinete de estilo da marca de Munique foi insultado de tudo o que é possível imaginar, quando mostrou este “duplo rim inchado”.

Quem cresceu a admirar a estética desportiva mas conservadora dos BMW dos anos setenta, oitenta e noventa, não poderia ter tido outra reação. Mesmo os que admiravam os modelos do início do século, reagiram mal.

Foi um choque, é verdade, mas parece que já ninguém se lembra da era Chris Bangle, quando o chefe do estilo da marca decidiu lançar o “seu” Série 7, um carro que, afinal, até envelheceu bem. Hoje está igualmente feio como no primeiro dia.

XM passa todas as marcas

Mas nada chega aos calcanhares do novo XM, mostrado em versão final esta semana. Para quem se lembra, XM já foi o nome de um Citroën e parece que a BMW teve mesmo que pagar alguma coisa à Stellantis para usar o nome.

Porquê XM? Porque é a maneira mais simples de juntar duas coisas: o X que significa SUV, na BMW, e o departamento de carros desportivos M, que é dado como o criador deste XM. É o pináculo dos dois conceitos, segundo a marca, adicionar qualquer algarismo só o iria diminuir.

Os hiper SUV

Produzir SUV grandes ou enormes é coisa que já não choca ninguém, nem sequer na Europa, onde se pode comprar um Rolls Royce Cullinan de 5,34 metros e 2,7 toneladas. Ou mesmo um Bentley Bentayga de 5,14 metros e 2,6 toneladas. Ao lado destes, o X7 de 5,12 metros e 2,4 toneladas é um júnior.

O tamanho é sinónimo de respeito, na loucura que é este segmento dos SUV sobre dimensionados. Mas, na verdade, estou só a falar do mercado europeu. Nos EUA pode comprar-se um Cadillac Escalade de 5,8 metros e 2,8 toneladas.

Não é SUV… é SAV

O BMW XM está no topo da pirâmide dos SUV da marca da hélice (tudo começou com os aviões, “mais leves que o ar…”) mas, cedo os engenheiros perceberam que não ia ser pelo comprimento e pelo peso que se iriam impor. Talvez por isso os colegas do marketing lhe decidiram chamar SAV.

Por uma razão simples, se exagerassem nas dimensões, decerto que isso iria afetar a dinâmica e depois os críticos saltavam em cima da BMW M, dizendo que tinham perdido a assinatura dinâmica.

Por isso deixaram o “X” um pouco de lado e apostaram forte no “M”.  O comprimento é de “apenas” 5,1 metros, mais curto que o próprio X7. E para tirar o máximo da parte “M” recorreram a uma motorização híbrida “plug-in”.

Um hiper PHEV

O motor a gasolina é uma nova iteração do V8 biturbo 4.4 com 489 cv a que se “somam” os 197 cv do motor elétrico, resultando numa potência combinada de 653 cv e 800 Nm de binário.

Números monstruosos, que superam até os 650 cv do Lamborghini Urus, mas, curiosamente, não os seus 850 Nm.

Com toda esta potência, que nenhum BMW de produção teve até hoje, o XM faz os 0-100 km/h em 4,35 segundos. É batido em 0,75 pelo Urus, que foi lançado em 2017 e nem tem nenhuma ajuda híbrida. Porquê?…

Talvez porque, dentro da “monstruosidade” (mais aparente que real) do Urus, o seu peso fica-se pelas 2,2 toneladas, enquanto o XM bate todos os recordes e atinge as 2,785 toneladas, tanto como o Escalade.

Modo 100% elétrico

A bateria de 25,7 kWh será a principal culpada, mas é a única maneira que a BMW encontrou de anunciar uma autonomia em modo 100% elétrico de 88 km, no máximo, limpando assim um pouco a pegada ecológica do XM.

Enfim, os números, por mais excessivos e inúteis que sejam, são sempre mais fáceis de explicar, face a um grupo de consumidores para quem só o “super-hiper-ultra” é suficiente. Mas o estilo?…

A grande verdade é que os compradores de produtos como o XM e similares nada têm a ver com os que compravam berlinas BMW desportivas no final do século passado e princípio do atual.

Quanto mais chocante…

Nem sequer são uma nova geração, que conhece o passado e a história da marca ao detalhe. São gente diferente, que talvez olhe pouco para o passado.

São clientes diferentes, que escolhem os carros que compram pela coluna da direita, como fazem quando escolhem o vinho no restaurante. Para esses, quanto mais caro e mais “chocante”, melhor. E o XM é as duas coisas.

Conclusão

É comum dizer-se que a “culpa” deste tipo de mudanças estar a ocorrer é dos novos e ricos consumidores chineses. Em parte é verdade, pois aì a procura não para de crescer. Mas, nos mercados tradicionais, as vendas não se têm propriamente ressentido com as decisões do gabinete de estilo da BMW, em 2021, o grupo vendeu 2,5 milhões de veículos, subindo 8,4% face ao ano anterior. E isso diz muito sobre a transferência de clientes pela qual a marca está a passar.

Francisco Mota

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