BMW i4 M50 (fotos de João Apolinário)

O habitual "olhar" dos BMW

O i4 é a versão elétrica do Série 4 Gran Coupé

Jantes de 19" são um bom compromisso, tendo amortecedores ajustáveis

M50 é a versão elétrica mais potente, com 544 cv

Esta é a parte menos polémica da nova grelha

São poucas as diferenças entre o i4 e os outros Série 4 Grand Coupé

Muito boa qualidade de materiais e de construção

Painel de instrumentos digital

Aspeto do ecrã tátil central em modo Sport Boost

Transmissão tem uma alavanca convencional

O ESC tem três posições, uma delas "off"

Comandos dos modos de condução

Botão rotativo do "infotainment"

Bancos desportivos M Sport são muito bons

Piso muito alto torna lugares de trás desconfortáveis

Vidros das portas não têm aros

Mala tem 470 litros e quinta porta

Muito preciso e rápido: um verdadeiro "M"

Suspensão confortável em modo Comfort

Tato de condução típico da BMW, mesmo tratando-se de um elétrico

Acelera dos 0 aos 100 km/h em 3,9 segundos

O departamento de carros desportivos da BMW, a famosa “M”, faz 50 anos. O elétrico i4 M50 é a prenda perfeita para quem andou meio século a tirar o máximo que os motores a combustão têm para dar. Ou será que não?…

 

No início, a BMW Motorsport GmbH era simplesmente o departamento de competição da BMW, fundado em 1972 para assegurar as participações da marca nas corridas. Mas a “M” rapidamente se teve que involver na produção em série, para ter o instrumento de base que lhe servisse para as pistas.

E esse instrumento foi o coupé 3.0 CSL, também conhecido como o “batmobile” devido à sua enorme asa traseira, spoiler frontal e lâmina no tejadilho. Era a versão de estrada que servia para homologar o carro de competição, que ganhou campeonatos logo no primeiro ano de serviço, em 1973.

Na versão de estrada, o 3.0 CSL tinha 206 cv, mas na versão de competição chegou aos 440 cv, suficientes para atingir os 275 km/h e acelerar dos 0 aos 100 km/h em 4,0 segundos.

Muitos M que ficaram na história

Nos 50 anos seguintes a BMW M transformou-se no departamento de versões desportivas da marca, produzindo modelos que ficaram para a história como o coupé de motor central M1 e as consecutivas gerações do M3, M5, M2 e M4 levando a marca para um terreno que era o exclusivo de emblemas dedicados só a desportivos.

Este ano, a BMW M comemora os 50 anos de vida e que melhor prenda poderia dar a si própria do que o elétrico i4 M50?… Ou será que não?… A transição para a eletrificação é o futuro e o i4 M50 marca essa transição também na “M” com um modelo 100% elétrico de altas prestações.

Elétricos há muitos…

Só que, fazer elétricos com muita potência e pouca alma já foi demonstrado por várias marcas que não é difícil. Altas prestações em reta são um objetivo relativamente fácil de atingir, mas para a M, isso nunca foi suficiente.

O i4 é a versão elétrica do Série 4 Gran Coupé

Por isso, este teste ao i4 M50 vai ter que mostrar se a M está no bom caminho, ou se a essência dos seus modelos desportivos se vai diluir num mercado em que qualquer marca consegue ter tanta ou mais potência que um BMW M.

M50 é a versão elétrica mais potente, com 544 cv

Dito de forma simples, o i4 M50 é “apenas” a versão 100% elétrica do Série 4 Gran Coupé. A plataforma é a mesma, com o motor a combustão substituído por dois motores elétricos, um por eixo para garantir a tração às quatro rodas.

O que muda no i4

A bateria de 80,7 kWh úteis está colocada sob o habitáculo, para garantir que o centro de gravidade resulta o mais baixo possível e para não prejudicar a capacidade da mala, que permanece nos 470 litros, com acesso através de uma quinta porta.

Vidros das portas não têm aros

Em vez de fazer já uma plataforma dedicada em exclusivo a modelos elétricos, a BMW preferiu adaptar a plataforma que tão bem tem servido o Série 4 e Série 3, entre outros. Mas, em termos de utilização, tem um problema.

Piso muito alto torna lugares de trás desconfortáveis

Esse problema é que o piso interior fica mais alto, devido à bateria, o que obriga os passageiros da segunda fila a viajar com os joelhos altos e as coxas desapoiadas. É pouco confortável para os lugares dos extremos e quase impraticável para o lugar do meio, mais estreito, alto e duro.

À frente pouco muda

Mas, nos lugares da frente isso quase não se nota. A posição de condução continua a ser baixa, com as pernas pouco dobradas e o volante (grosso, mas circular) perfeitamente colocado. A generosa amplitude de ajustes permite a condutores de qualquer estatura encontrar a postura ideal.

Bancos desportivos M Sport são muito bons

Não ter feito ainda a revolução elétrica, permitiu também manter um habitáculo que é familiar a quem conhece os mais recentes produtos da marca. A começar pela excelente qualidade de materiais e montagem, no topo do segmento.

Transmissão tem uma alavanca convencional

Depois, continuam a existir vários botões na consola e volante, uma alavanca da transmissão digna desse nome e o habitual comando rotativo iDrive do infotainment. Aqui é que está a novidade do i4, com o painel de instrumentos e o ecrã tátil central unidos num único visor ligeiramente encurvado.

Muitos modos

Há um botão para ligar o carro e que afixa os gráficos futuristas no painel de instrumentos e mostra a relativa facilidade de utilização do infotainment, à exceção dos comandos da climatização, que lá estão incluídos.

Comandos dos modos de condução

Há vários modos de condução disponíveis: Eco Pro/Comfort/Sport, com o primeiro e o último a poderem ser configurados pelo condutor. Existe uma variante do último, o Sport Boost, que é o único em que os 544 cv máximos estão disponíveis.

Para poupar a bateria, nos modos Eco Pro e Comfort, a potência máxima está limitada aos 476 cv. Os modos de condução alteram o amortecimento variável em dois níveis.

Aspeto do ecrã tátil central em modo Sport Boost

E depois ainda há quatro modos de regeneração na desaceleração: Auto/Alto/Médio/Baixo. O primeiro ajusta a retenção de acordo com o trânsito e o traçado da via. Os outros propõem três níveis, tendo o mais forte a função “one pedal” de imobilização.

Em cidade

O meu modo preferido para cidade foi o Auto, que funciona muito bem. Em autoestrada, usei o Baixo, que deixa o carro deslizar em vez de o “prender” muito. Mas a parte criticável é que, para mudar este modos, tem que se procurar uma página algures nos menus do infotainment.

Jantes de 19″ são um bom compromisso, tendo amortecedores ajustáveis

O i4 M50 que testei tinha pneus 245/40 R19, na frente e 255/40 R19, atrás que se mostraram um bom compromisso entre aderência e conforto. Mesmo nos pisos em pior estado, o M50 não se mostrou demasiado intolerante.

Muito boa qualidade de materiais e de construção

Em cidade, a baixa velocidade, nem sempre os dois motores estão a trabalhar, pois a força de um deles é mais que suficiente e poupa-se alguma energia. Em Eco Pro, a resposta do acelerador já é muito pronta e despachada, sem ser nada nervosa.

Não gasta pouco…

A calibração do pedal de travão também está muito bem feita e a direção não é excessivamente leve, tem o peso certo e só o grande raio de viragem atrapalha um pouco nas manobras, tal como a fraca visibilidade para trás.

Painel de instrumentos digital

Com o A/C desligado, modo Eco Pro e regeneração em Alto, o meu teste de consumos em cidade resultou num valor de 20,2 kWh/100 km. Não é um número baixo, nem podia ser, tendo em conta que o i4 M50 pesa 2215 kg.

Fazendo as contas aos 80,7 kWh de capacidade útil da bateria, a autonomia real em cidade será de 400 km, o que não é fenomenal.

Na autoestrada

Passando para a autoestrada e para o modo Comfort, o i4 M50 mantém toda a vocação de estradista das versões a gasolina ou Diesel.

Movimentos parasitas da carroçaria quase inexistentes, amortecimento muito eficiente e confortável e muito baixos ruídos de funcionamento, rolamento ou aerodinâmicos, aqui com o Cx de 0,25 e a superfície frontal projetada de 2,33 m2 a dar uma importante ajuda.

Suspensão confortável em modo Comfort

No meu teste de consumos em autoestrada, circulando a 120 km/h estabilizados, regeneração no Baixo e com A/C desligado, o consumo não variou muito, registando 20,1 kWh/100 km, ou seja, a autonomia é praticamente a mesma.

Fiz ainda mais uma medição de consumos em autoestrada, a 100 km/h estabilizados e com o A/C ligado, baixando para os 17,8 kWh/100 km, o que levaria a autonomia aos 453 km, um valor que, ainda assim, está longe de ser brilhante.

E o espírito M?…

Só faltava testar o i4 M50 numa estrada secundária, com as curvas certas e sem trânsito. Afinal os 544 cv e 795 Nm permitem anunciar uma aceleração 0-100 km/h em 3,9 segundos, um valor digno de um verdadeiro M.

Muito preciso e rápido: um verdadeiro “M”

Passando ao modo Sport Boost, os altifalantes começam a emitir um som artificial de funcionamento que é demasiado alto e demasiado fantasioso. Ao mesmo tempo, instrumentos e ecrã central passam a tons de vermelho.

Esta é a parte menos polémica da nova grelha

O tato do acelerador fica bem mais sensível e nervoso. Faço um arranque a fundo e a aceleração é bastante impressionante, só não sendo mais porque a tração às quatro rodas é perfeita: o i4 M50 é simplesmente “disparado” a direito pela reta.

Um nível superior

O ESC pode regular-se entre on/sport/off e, não sendo demasiado interventivo no primeiro modo, preferi testar o segundo, que se mostrou liberal o suficiente, antes de desligar tudo e ficar com toda a responsabilidade nas mãos.

O ESC tem três posições, uma delas “off”

O enorme binário faz as pequenas retas desaparecer e passa a palavra aos travões, aqui os desportivos M Sport que não revelaram qualquer dificuldade.

Contudo, deixei a regeneração no nível médio, o que dá uma boa ajuda no início da travagem. Mas preferia que existissem patilhas no volante para ir ajustando a regeneração, mesmo em condução rápida.

O tato de condução M

A direção desportiva mostrou uma excelente precisão e rapidez na colocação da frente na linha certa. O tato é o de um verdadeiro BMW M, com reações rápidas mas consistentes.

Acelera dos 0 aos 100 km/h em 3,9 segundos

pouca inclinação lateral em curva, devido à bateria em posição baixa e ao amortecimento em posição mais forte. Mesmo em mau piso, a estabilidade em curva é notável, quando se aumenta o ritmo.

Em curvas mais fechadas, de baixa velocidade, sobretudo com o piso um pouco empoeirado, quando se reacelera para sair da curva, a tração traseira ganha à de frente e ensaia uma ligeira deriva de traseira, que nem precisa de correção, mas que sabe bem.

Muito neutro

Em curvas mais rápidas, o equilíbrio da tração às quatro rodas prefere uma atitude sobretudo neutra, com muito boa resistência à subviragem e mostrando que a distribuição de pesos pelos dois eixos continua muito equitativa.

Tato de condução típico da BMW, mesmo tratando-se de um elétrico

O binário mais do que compensa o peso e só a direção podia ter um pouco mais de tato, quando se acelera a fundo e se sente a frente menos rigorosa do que devia. Claro que os consumos sobem facilmente para o dobro, quando se anda depressa.

O habitual “olhar” dos BMW

Comparando com o i4 eDrive40 de 340 cv e tração traseira, o i4 xDrive M50 sobe a outro patamar de performance e de controlo. Mas o modelo menos potente acaba por ser mais divertido de guiar, para quem gosta de “brincar” com a sobreviragem.

Conclusão

O i4 M50 é a primeira berlina desportiva elétrica da BMW e o que se pode dizer é que o trabalho foi muito bem feito. Claro que se percebem os compromissos de usar uma plataforma que não nasceu para ser 100% elétrica, sobretudo no peso e nos consumos. Mas, mesmo sabendo que há áreas a melhorar, todo o tato de condução, a qualidade e performance são dignas de um verdadeiro M. Por isso, sim, o i4 M50 é a prenda ideal para os 50 anos da BMW M, nesta fase de transição.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

BMW i4 xDrive M50 Gran Coupé

Potência: 544 cv

Preço: 74 500 euros

Veredicto: 4 (0 a 5)

 

Ler também, seguindo o LINK:

Teste em pista – BMW i4: Sim!… Há elétricos bem divertidos