Honda e:NY1 (fotos de João Apolinário)

Frente sem grelha e com porta para a tomada

Jantes específicas com pneus 225/50 R18

Faróis são os mesmos do HR-V

A altura ao solo parece maior do que é na realidade: 135 mm

Que departamento de marketing aprova um nome destes?...

Puxadores das portas "escondidos" na zona vidrada

Palavra Honda substitui o símbolo na tampa da mala

e:NY1 é a versão elétrica do B-SUV HR-V

Perceção de qualidade não é das melhores do segmento

Painel de instrumentos com muito boa leitura

Patilhas para ajustar a intensidade da regeneração

Ecrã tátil dividido em três zonas

Botões individuais da transmissão obrigam a desviar os olhos da estrada

Posição de condução alta, para o segmento

Bastante espaço em comprimento e altura, mas não em largura

Dinâmica muito pouco entusiasmante

Aceleração 0-100 km/h anunciada em 7,6 segundos

Condução virada para a facilidade de operação

Suspensão confortável o suficiente

Para o seu segundo elétrico no mercado Europeu, a Honda não podia deixar de escolher o segmento B-SUV, o de maior crescimento na região. O que vale este enigmático e:NY1 é o mote para mais um Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

 

Os japoneses não fazem nada que não tenha uma explicação, mesmo que a lógica só seja óbvia para alguns. É o que se passa com o estranho nome deste B-SUV elétrico da Honda, feito com base na mais recente geração do HR-V, lançada em 2021 com motorização híbrida.

Em vez de HR-V EV, ou HR-V Electric (que já não era fácil) a marca fundada em 1948 preferiu a enigmática designação e:NY1 e avança uma explicação. O “e” porque é um elétrico; “NY” quer dizer “new you” e o “1” porque se trata do primeiro elétrico da nova geração. Eu pensava que o primeiro tinha sido o citadino Honda E… Mas há quem diga que, lido tudo de uma vez, o nome pode significar “anyone”, aludindo à expansão dos elétricos.

A altura ao solo parece maior do que é na realidade: 135 mm

São demasiadas explicações para um B-SUV elétrico de 4,387 metros de comprimento, com 2,607 metros de distância entre-eixos, praticamente as mesmas cotas do líder do segmento B-SUV elétrico em Portugal, o Peugeot E-2008.

Derivado do HR-V

As diferenças de estilo para a versão híbrida são poucas e ficam-se pela frente sem grelha, com a porta para as tomadas de carregamento, e pelo desenho dos para-choques, bem como das jantes, que no e:NY1 são de 18” com pneus 225/50 R18. O símbolo da marca foi substituído pelo nome escrito por extenso sob a faixa que une as luzes de trás.

O perfil alude levemente a um “fastback” com bastante inclinação do vidro traseiro, que leva um spoiler proeminente no topo e pelos puxadores das portas de trás dissimulados na área vidrada. A altura ao solo parece maior do que é (135 mm) devido ao tamanho das rodas e ao desenho da parte inferior da carroçaria.

e:NY1 é a versão elétrica do B-SUV HR-V

A mala tem uma capacidade de 361 litros e acesso correto, mas é relativamente estreita. Tem um espaço sob o piso para guardar os cabos da bateria, pois não existe um compartimento sob o capót dianteiro.

Por dentro

Na segunda fila da bancos falta largura. Há bastante comprimento para as pernas, a altura e o acesso são razoáveis, mas a largura é insuficiente para levar três adultos. O piso é alto e obriga as pernas a irem mal apoiadas.

Perceção de qualidade não é das melhores do segmento

Nos lugares da frente, logicamente que a questão da largura não se coloca, até porque a consola não ocupa muito espaço. Os bancos são confortáveis o suficiente e têm algum suporte lateral. A posição de condução é alta, para o segmento, o que proporciona boa visibilidade para a frente e para os lados. O vidro baixo atrás obriga a prestar atenção à câmara de marcha-atrás nas manobras.

Ecrã gigante

O volante tem boa pega, mas a amplitude do ajuste em alcance é insuficiente, o que obriga a levar as pernas demasiado fletidas. O painel de instrumentos digital não tem informação a mais e a sua definição é muito boa, como é hábito na Honda, facilitando a leitura. Mas o computador de bordo é pouco intuitivo.

Posição de condução alta, para o segmento

O ecrã tátil central é muito maior do que na versão híbrida do HR-V, com 15,1” de diagonal e disposto na vertical, ocupando uma grande área. Não sobra espaço para muitos botões físicos. A regulação da climatização é feita no monitor, o que obriga a desviar os olhos da estrada. Mas, pelo menos, os respetivos comandos estão permanentemente visíveis no terço inferior do ecrã.

Mais críticas para o terço do meio, onde se encontram os menus pouco intuitivos para as outras funções do infotainement, deixando a parte superior para a navegação. Críticas também para os comandos da transmissão, os botões P, R, N e D que estão separados em botões individuais, nem todos de atuação igual, o que os torna confusos em manobras.

Botões separados da transmissão obrigam a desviar os olhos da estrada

Quanto à perceção de qualidade dos interiores, o que se nota é uma falta de homogeneidade. A maioria dos plásticos são duros, mas também há zonas forradas a pele sintética com reprodução de pespontos. Nada de muito impressionante. Em termos de utilização, faltam mais porta-objetos.

O sistema elétrico

O sistema elétrico deste e:NY1 utiliza um motor elétrico dianteiro com tração às rodas da frente. Tem 204 cv e 310 Nm, sendo alimentado por uma bateria de 68,8 kWh brutos (61,9 kWh úteis) colocada sob o habitáculo. Isto faz o peso atingir os 1730 kg, cerca de mais 350 kg que a versão híbrida do HR-V.

A Honda anuncia uma autonomia WLTP em ciclo misto de 412 km. Uma carga completa a 11 kW AC demora 6h00, enquanto que para ir dos 0 aos 80% a 78 kW DC, demora 45 minutos.

Patilhas para ajustar a intensidade da regeneração

Há três modos de condução: Eco/Normal/Sport. Para o teste em cidade, comecei pelo primeiro que mostrou um doseamento fácil e suave do acelerador, com boas prestações. As patilhas no volante servem para escolher entre quatro níveis de intensidade na regeneração durante a desaceleração, mas não há função “one pedal”.

Os níveis são muito próximos e pouco intensos e também não há um nível zero, para deixar o carro deslizar, puxado apenas pela inércia. Felizmente, o pedal de travão não é difícil de dosear.

Consumo baixo em cidade

A direção tem um diâmetro de viragem de 11,6 metros, o que não é brilhante e a assistência pareceu-me exagerada, ficando muito leve e com pouco tato, mesmo em cidade. Muito boa insonorização em meio urbano e a dupla suspensão/pneus consegue um nível de conforto aceitável, mesmo em pisos imperfeitos.

Painel de instrumentos com muito boa leitura

No habitual Teste TARGA 67 de consumos reais, obtive um valor de 12,6 kWh/100 km, em percurso urbano, sempre com o A/C desligado, em modo Eco e usando as patilhas da forma que me pareceu a mais lógica. Isto equivale a uma autonomia real em cidade de 491 km.

Em autoestrada, com a regeneração no mínimo, ainda em modo Eco, A/C desligado e a uma velocidade estabilizada de 120 km/h, o valor que registei foi de 21,4 kWh/100 km, o que equivale a uma autonomia real em autoestrada de 290 km. Ou seja, bons consumos em cidade e consumos normais em autoestrada.

Dinâmica pouco entusiasmante

Em vias rápidas ou autoestradas, a suspensão deixa a carroçaria oscilar um pouco em excesso. É verdade que continua confortável, mas podia ter um pouco mais de controlo, até porque assim fica sensível aos ventos laterais. A insonorização continua muito boa.

Dinâmica muito pouco entusiasmante

Antes de terminar o Teste TARGA 67, uma passagem por uma estrada secundária, agora em modo de condução Sport, que aumenta bastante a rapidez de resposta do acelerador e diminui a assistência da direção. Os amortecedores não são adaptativos. A Honda anuncia uma aceleração 0-100 km/h de 7,6 segundos, o que pareceu perfeitamente credível. A velocidade máxima é de 160 km/h.

Boa aceleração, quando se carrega no pedal da direita a fundo, mas não propriamente impressionante, para um elétrico dos nossos dias. A travagem, com quatro travões de disco, revelou-se suficiente e o uso das patilhas de regeneração faz algum efeito.

Binário mal modulado

Infelizmente, a modulação dos 310 Nm de binário máximo não está perfeita, deixando as rodas motrizes dianteiras perder tração e patinar assim que se acelera com mais intenção. Isso acontece não só na reaceleração para sair de uma curva lenta, mas até em reta se a aderência não for perfeita.

Condução virada para a facilidade de operação

As perdas de tração, em condução rápida são apenas um dos sinais que o e:NY1 dá ao condutor para baixar o ritmo da condução. A inclinação da carroçaria em curva e as oscilações nos encadeados, são outros. O e:NY1 pode ser fabricado pela marca que produz o Civic Type R, mas o comprador alvo é totalmente diferente.

Exagerando um pouco com a velocidade de entrada em curva, a subviragem instala-se rapidamente e obriga o ESC a arregaçar as mangas e resolver a questão.

Conclusão

Não sei como um departamento de marketing pode aprovar um nome como e:NY1, mas essa é a menor das preocupações que a Honda deve ter com o seu segundo elétrico na Europa. É certo que o espaço, o conforto e a insonorização são pontos fortes, tal como a autonomia em cidade. Mas a qualidade apercebida, a dinâmica extra-urbana e sobretudo o preço, retiram competitividade a este B-SUV elétrico.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Honda e:NY1

Potência: 204 cv

Preço: 54 750 euros

Veredicto: 3 estrelas

 

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Primeiro Teste – Honda CR-V e:PHEV: subida de segmento