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10/09/2021. Luca de Meo, o CEO do Group Renault, quer fazer mudanças profundas. Numa conversa, durante o salão de Munique, deu algumas pistas que apontam para um rumo mais pragmático.

 

Os anos de experiência nesta profissão têm muitas vantagens, uma delas é ter conseguido estabelecer alguns laços de confiança com figuras de topo da indústria. Isso abre a porta a um nível de comunicação mais informal e, quase sempre, mais rico.

Sem querer estar a puxar pelos galões (que não os tenho) cabe aqui dizer que conheço Luca de Meo há alguns anos e que já o entrevistei em diversos cenários, quando passou por outras marcas antes de aceitar o desafio do Group Renault, para liderar a Renault, Dacia, Alpine e Lada.

Meo está oficialmente na Renault desde o ano passado, quando entrou “as coisas estavam uma confusão” mas não perdeu tempo a remendar aquilo que era mais urgente.

Sempre dentro de um estilo bastante interventivo, sobretudo nas áreas do marketing e do estilo. “Meo gosta de estar na cozinha” dizem-me fontes do grupo.

Meo em Munique

No estranho salão de Munique, onde apareceram muito poucas marcas e quase só as alemãs, o “stand” da Renault parecia uma ilha do “antigo normal”. Com grande destaque para o novo Mégane E-Tech e também para o “concept-car” do R5 Electric, que estará no mercado em 2024.

A conversa com Luca de Meo aconteceu durante uma mesa redonda com outros colegas de vários países, poucos, para não se perder o fio à meada.

Comecei com uma pequena provocação: sendo a Renault uma marca famosa pela inovação, por colocar no mercado modelos originais e revolucionários como a Espace, Scénic e Twingo, como se enquadra este regresso ao passado com o R5 Prototype elétrico?

“As pessoas queriam o R5”

Meo diz que “a certa altura perdemos o caminho e temos que recuar para recomeçar”. Acrescentou também que a apresentação deste R5 elétrico e nostálgico tem sido um sucesso, tanto com o público, como com a comunicação. Referiu até o exemplo de um concessionário que lhe disse ter andado 15 anos a pedir à Renault o regresso do R5.

Reconhecendo os méritos da Espace, Scénic e Twingo, disse que “também fizemos carros como o Avantime e o Velsatis…” e que “ não podemos arriscar como nesses tempos.”

Meo acredita que o regresso do R5 “é o que as pessoas queriam” e acrescenta que já passou o tempo em que os carros elétricos tinham que ter um aspeto estranho, numa clara referência ao estilo do Zoe.

Acabar com os ciclos de sete anos

Um dos problemas dos desenhos nostálgicos aparece quando chega a altura de fazer um restyling. Muitas vezes é um beco sem saída, pois mudada a primeira recriação, afasta-se do desenho do original que se queria evocar e perde-se o efeito.

A resposta de Meo é muito interessante: “quem disse que ao fim de sete anos temos que mudar o carro? Podemos apenas atualizar o software e manter o modelo sem grandes alterações. A indústria habituou-se a ciclos de produto de sete anos, mas isso vai ter que mudar.”

Aqui está uma ideia nova, ainda no plano das intenções e certamente a validar pelo comportamento dos rivais. Se os outros continuarem nos ciclos de sete anos, não vai ser a Renault sozinha a fazer outra coisa.

Retro-futuristas e não só

De qualquer maneira, Meo confirmou que a marca vai ter mais modelos elétricos “retro-futuristicos” como o R5, mas também modelos com estilo contemporâneo, como o Mégane E-Tech Electric.

Meo admite que “a indústria perdeu alguma magia do passado, o poder de surpreender. Só se pensa em sinergias e redução de custos.”

Como seria de esperar, Meo considera o Megane E-Tech Electric como um novo começo “um pouco como a VW fez com o I.D.3” acrescentando que nem tudo são SUV. “O segmento “C” continua a ser o mais vendido na Europa.”

O exemplo da Apple

Quanto à questão sobre se os automóveis se vão transformar em “dispositivos” como os smartphones, Meo avança com um exemplo curioso “no negócio da Apple, apenas 5% dos lucros vêm do software, tudo o resto vem do hardware. Mas, claro que tem de se ter software, para poder usar o hardware.”

O diagnóstico que faz do estado de marcas como a Renault é comum ao que todos fazem: “as marcas generalistas estão entaladas entre as premium e as low cost” mas o Group Renault está precavido nesse particular com a Dacia, a melhor sucedida entre as low cost.

A Dacia também se aproxima de uma encruzilhada, mas isso vai ter que ficar para outra crónica. Por agora, basta dizer que a eletrificação não será meiga para a marca Romena.

Conclusão

Mal posso esperar para ver como será a Renault daqui a cinco ou dez anos. Veremos qual o resultado do “efeito Meo” nos modelos que então estarão à venda, se bem que o novo CEO acabou por admitir no final da conversa que a Renault não se vai descaracterizar: “no futuro, vamos ter carros como a Espace, Scénic e o Twingo.” Só espero que o sejam na inovação e não tanto no estilo “retro-futurista”.

Francisco Mota

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