Lancia Pu+Ra HPE ou o futuro da marca nas ruas de Madrid

O "concept-car" da Lancia alvo de todas as atenções

Linhas de um verdadeiro carro de sonho

Clara a inspiração no Stratos, deste ângulo

Lancia por extenso será uma solução usada nos modelos de série

Um Lancia Pu+Ra HPE a manobrar nas ruas de Madrid

Era preciso passar para o outro lado da rua, mas o trânsito não estava fácil

As formas únicas do volante e painel de instrumentos ao centro

Ecrã tátil é também uma mesa para os lugares de trás

Já estacionado no lugar definitivo, após muitas manobras

Oportunidade de ocupar um lugar no futuro da Lancia

30/6/2023. Numa rua estreita, no centro de Madrid, encontrei o futuro da Lancia. O “concept-car” Pu+Ra HPE a andar pelos seus próprios meios, na confusão do trânsito local, transmitiu-me uma mensagem mais forte do que a conferência formal que se seguiu, onde o plano da marca para os próximos dez anos foi anunciado.

 

Foi nas ruas de Madrid, sob um Sol escaldante, que encontrei o futuro da Lancia. O plano era assistir a uma conferência, numa sala climatizada, mas cheguei antes da hora prevista e acabei por ter um contato não programado com o “concept-car” Pu+Ra HPE.

Funcionários da Lancia manobravam o Pu+Ra HPE para o colocarem à porta do edifício onde seria organizada a conferência, com o “concept-car” a andar pelos seus próprios meios – elétricos, claro.

Ver um “carro de sonho” (como se lhes chamava há muitos anos) a andar numa rua estreita de uma grande cidade, é uma oportunidade rara. Mais ainda quando o faz pelos seus próprios meios e com matrículas.

No mundo real

A sequência de manobras para colocar o Pu+Ra HPE no lugar de estacionamento que lhe estava reservado à porta do edifício onde seria organizada a conferência, não teve nada de glamoroso.

Mas foi este contraste entre as formas assumidamente sonhadoras do “concept-car” e a mundana necessidade de o manobrar, como se fosse um carro normal, que me fascinou.

De algum modo, esses momentos colocaram o futuro da Lancia no mundo real, agora. Foram imagens que deram uma inesperada dose de credibilidade a todo o plano de renascimento da marca italiana.

Um carro de sonho

Claro que o Pu+Ra HPE não será produzido. Um coupé 2+2 não é uma prioridade para a Lancia, nem para nenhuma marca nos tempos que correm. Ainda para mais num carro pequeno e compacto.

Mas os estilistas da marca apontam para vários aspetos deste “concept-car” que vão inspirar os modelos a apresentar nos próximos anos.

A frente em “cálice”, como é designado o efeito dos elementos de luz que formam uma cruz na frente, será um deles.

As formas simples e puras dos flancos, também vão ser uma inspiração. Mas a traseira, com as luzes a lembrar o Stratos dos anos 1970, talvez não seja usada, pelos menos da maneira que o “concept-car” a exibe.

Uma coisa é certa, este é mesmo um carro de sonho, como as grandes casas do estilo automóvel italiano faziam no século passado. Pininfarina, Bertone, Zagato… está tudo aqui!

Fonte de inspiração

Não é apenas um futuro carro de série, com linhas exageradas, para ir habituando o público ao que aí vem. Não é um exercício de cinismo, como muitas marcas fazem com os “concept-cars”, é algo de genuíno.

O próprio nome tem um significado: Pu+Ra significa Puro e Radical, mostrando como se podem juntar as duas tendências de desenho.

HPE é uma sigla antiga que significava High Performance Estate, nos modelos que a usaram, passando agora o “E” a significar Electric, como seria de esperar. E HPE será a sigla que deverá ser usada para as versões mais desportivas dos próximos novos Lancia elétricos.

“Retro-design” é que não!

Em conversa informal com um dos designers deste exercício de estilo, fiquei a saber que a ideia foi ir buscar alguns detalhes estilísticos icónicos do passado da marca.

Mas, de maneira nenhuma, está previsto que os novos Lancia, apesar de manterem nomes antigos, venham a seguir o caminho do estilo nostálgico.

Em 2024, será lançado o novo Ypsilon, com versões 100% elétrica e “mild hybrid”. Em 2026 será a vez do Delta e em 2028 chegará o Gamma para o topo da… gama. Todos com plataformas da Stellantis.

Em direção à eletrificação

No plano de eletrificação da marca está definido que, a partir de 2026, todos os novos modelos que a marca lançar no mercado vão ser 100% elétricos. E, a partir de 2028, só vai vender modelos 100% elétricos.

A Lancia quer posicionar-se como uma marca de prestígio, disso não há dúvidas, mas não são nomeados adversários diretos. A intenção é cativar quem tem um gosto particular pelo design italiano de automóveis.

Por esse critério foram seleccionados para iniciar a fase de lançamento da Lancia os seguintes países: Espanha, França, Alemanha, Holanda, Bélgica e… Portugal.

Novo ambiente

Vão ser nomeados 70 novos concessionários, em 70 cidades principais na Europa, começando por Milão e entre as quais se encontram Lisboa e Porto.

Claro que a imagem de marca muda, tal como o ambiente desses concessionários. Em coordenação com o interior dos próprios modelos.

No Pu+Ra HPE há quase uma obsessão pelos círculos, com ecrãs táteis horizontais nessa forma, à frente e atrás, que mais parecem mesas de café. Não será fácil passar isto à produção.

Mas outras zonas do interior, que foram feitas em colaboração com os especialistas de mobiliário italiano da empresa Cassina, podem muito bem seguir para a produção, nomeadamente os revestimentos e o sentido acolhedor.

Voltar aos ralis?…

Na apresentação deste plano, a Lancia fez referência ao longo património da marca na competição, com natural destaque para o campeonato do mundo de ralis.

A Lancia venceu 10 vezes o título de marcas no WRC, continuando hoje a ser a marca recordista, apesar de se ter retirado há trinta anos.

Modelos como o Stratos, Rally 037, Delta S4 e Delta Integrale são sempre citados, como é óbvio. As memórias não morreram, nem entre os entusiastas que viveram alguns destes tempos, nem junto dos mais novos que os descobriram já no mundo virtual.

Sem que haja um anúncio oficial, oficiosamente foi-me dito que a Lancia voltará às competições, seguramente ao WRC. Quando isso irá acontecer, é mais difícil de dizer. A prevista mudança de regulamentos técnicos do WRC, agendada para 2027, poderá ser a oportunidade perfeita.

Conclusão

A Lancia já teve muitos planos de recuperação, mas nenhum funcionou a longo prazo. Este parece ser feito com um nível de ambição bem medido, como tudo o que nasce na Stellantis. Só não se espere que o Delta Integrale volte numa interpretação retro-futurista, como outras marcas estão a fazer.

Francisco Mota

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