5/8/2022. Na utilização diária de um carro, há sempre coisas que irritam. Coisas mal pensadas ou vitimas do corte nos custos de produção. A ausência de uma roda sobresselente é uma das mais irritantes.

 

Silly Season. Chegou oficialmente aquele altura do ano que o mundo desacelera, as férias passam a ser a ocupação principal e… não se passa nada. Por isso, a Crónica à 6ª feira no seu formato habitual também foi de férias em Agosto. Volta na primeira semana de Setembro.

Mas, tal como aconteceu em 2021, para “fazer as férias” da Crónica à 6ª feira regressou “Coisas que Irritam”. Uma daquelas mini-séries de Verão que (espero…) sirva para ocupar alguns dos momentos das férias e fazer sorrir.

Depois dos quatro episódios das “Coisas que Irritam” publicados em Agosto do ano passado, que pode ler pesquisando no super motor de busca deste Blog Targa 67 (lupa no canto superior direito) agora avanço para o número 5.

Aqui está o link para a primeira:

Coisas que irritam 1 – o fecho de capót escondido

Episódio 5

E estamos perante mais um tema fraturante entre os utilizadores de automóveis: a ausência da roda sobresselente. Sim, sobresselente e não sobressalente, que isso é a maneira como se diz no Brasil. E muito menos suplente, que isso são os jogadores de futebol.

O assunto já não é novo, mas continua tão irritante como no dia em que alguém disse numa reunião do conselho de administração de uma grande marca de automóveis (não me lembro qual): “e se deixássemos de oferecer a roda sobresselente?”

A ideia foi acolhida com entusiasmo por todos, dos estilistas aos responsáveis pelo “packaging” (a arrumação dos elementos num carro) e sobretudo dos contabilistas, que viram aqui um parcela a abater.

A roda “de bicicleta”

Mas a coisa foi por passos. Primeiro passo foi a “oferta” de uma roda sobresselente de dimensões muito mais reduzidas, com um pneu que mais parece de um motociclo. Uma redução de custos que o marketing vendeu como redução de peso.

Mais barata, igual para todas as versões e comum a vários modelos diferentes, foi a sinergia a funcionar em pleno. Os automobilistas que as têm de utilizar percebem o ganho em espaço na mala mas, no dia de a usar, percebem que há sempre duas faces numa moeda.

Estas rodas de emergência são mesmo mesmo isso, para usar apenas em caso de não haver outra solução

Limitadas a 80 km/h e com muito menos aderência, estas rodas de emergência são mesmo isso, para usar apenas em caso de não haver outra solução ao pneu furado e durante o menor tempo possível.

Sem sobresselente

Mas o passo seguinte foi mais radical e passou pela abolição, pura e simples, de qualquer tipo de roda sobresselente. Mais uma vez a redução de peso e aumento do espaço para a mala a servir de álibi, com a ajuda da estatística a dizer que os furos são raros.

O automobilista encolhe os ombros e espera que o seu recorde de anos “sem ter um único furo” continue por muitos e longos anos. Até ao dia…

Em muitos anos de testes de novos automóveis, é lógico que não podia escapar eternamente aos furos: quantos mais carros testados e quantos mais quilómetros percorridos, menos a estatística estaria do meu lado.

O kit anti-furo

E o relatório de furos, sem roda sobresselente, que tenho para apresentar não é nada simpático e, sobretudo, foi causador de belas sessões de irritação. Das mais variadas maneiras.

Em vez da roda sobresselente a bordo, os construtores “oferecem” um kit anti-furo, constituído por uma embalagem de líquido selante e um compressor de ar que se liga ao isqueiro do carro.

A ideia é encaixar a embalagem do selante no compressor, atarrachar o tubo à válvula do pneu e ligar o compressor à corrente. A máquina faz um ruído estridente e saltita no chão enquanto empurra o líquido para dentro do pneu.

Nem sempre corre bem…

É suposto esse líquido ir à procura do furo e tapá-lo por dentro, enquanto o compressor continua a encher o pneu até à pressão recomendada. Se tudo correr bem, temos pneu para chegar até à próxima casa de venda de pneus, ou estação de serviço que remende furos.

Com o kit anti-furo raramente as coisas correm bem, pela minha experiência…

Claro que nem sempre tudo corre bem. Na verdade, pela minha experiência, raramente tudo corre bem. Pois é preciso que o furo seja pequeno e num local onde o selante consiga fazer o seu trabalho. São muitos “ses”, para um sistema que se apoia na estatística.

O meu irritante relatório…

De todos os episódios que tenho para contar, o menos mau foi um furo lento. Nem cheguei a usar o selante (para não sujar a jante por dentro) e limitei-me a encher o pneu, que se aguentava durante uns quinze minutos até precisar de voltar a receber ar. Mas cheguei à oficina, depois de fazer a operação umas quatro vezes.

Num outro caso, com um SUV em teste num caminho de terra algures no meio do Alentejo, não tive tanta sorte. O pneu “partiu” a tela lateral e o selante era cuspido por uma minúscula fresta. Arrastei lentamente o SUV até à estrada asfaltada mais próxima e o reboque tratou do resto.

Também tive um caso em que o pneu rebentou a meio de uma curva, felizmente sem mais consequências a não ser um pneu novo. O buraco no pneu era visível a olho nu e a solução foi ligar para a assistência em viagem e esperar pelo reboque e pelo táxi. No fim do dia, fui buscar novamente o carro à oficina, já com um pneu novo montado.

Sem pneu, sem chave…

Outro caso menos agradável foi o de um carro que, além de não ter uma roda sobresselente, também não tinha uma chave de rodas. Além do furo, somou-se uma roda desapertada e tive que parar numa “bomba” e ir pedindo às pessoas que estavam a abastecer os seus carros se me emprestavam uma chave de rodas.

Lá consegui encontrar uma chave que servisse, apertei a roda, devolvi a chave e comecei o procedimento do compressor e do selante. Neste caso com bons resultados, pois chegou para ir até à oficina da marca.

Como na Fórmula 1

Nada disto se teria passado se tivesse um pneu sobresselente na mala. Quando eles existiam e os pneus se furavam com maior frequência, troquei muitos pneus furados sem grande problema.

Eu e o meu pai desenvolvemos uma estratégia de troca de pneus, tal qual uma equipa de F1…

Num dos carros que o meu pai teve quando eu era adolescente, os pneus tinham tendência a “partir” ao mínimo toque num buraco. Foi o suficiente para desenvolvermos uma estratégia de troca de pneus em que cada um fazia rapidamente a sua função. Tal qual uma equipa de F1…

Um punha o macaco, o outro trazia a roda sobresselente e desapertava as porcas. Um tirava a roda furada e guardava-a na mala, o outro punha a roda nova e apertava as porcas, enquanto o outro voltava e baixava o macaco. Em pouco mais de dois minutos estava feito.

Conclusão

Hoje, são poucos os carros novos que têm roda sobresselente, muito menos com as dimensões das outras quatro. O automobilista tem que ter fé na estatística e rezar para não acertar em nenhum buraco escondido. Mas ainda há marcas que propõem a roda sobresselente como um opcional. Um verdadeiro “luxo”…

Francisco Mota

Para ler outras Coisas que Irritam, seguir este LINK:

Coisas que irritam 4 – o GPS que nunca funciona bem