Onde estará o fecho para desbloquear o capót?...

Alavanca no interior: esta está bem à vista

Capót salta com um "clanck" a confirmar

Alguns fechos estão em cima...

... outros fechos estão em baixo

Avisos importantes, para os dedos e para a gravata

Terceira etapa - encontrar a vareta

Vareta no sítio e está feito!

6/8/2021. Na utilização diária de um carro, há muitas coisas que irritam. Algumas por estarem mal pensadas, outras por serem pouco usadas. O fecho do capót, escondido lá por baixo, é uma das mais irritantes.

 

Há alguns anos, que já vão para décadas, abrir o capót do carro era uma ação relativamente normal. Não direi que fosse frequente, mas era feita normalmente por quase todos os automobilistas. Sobretudo os que garantiam que “percebiam de mecânica.”

Levantar o capót para ir puxar a vareta e verificar o nível do óleo, era uma operação necessária e que dava credibilidade a quem o fazia. Se mergulhar a cabeça no compartimento do motor tivesse como objetivo verificar o nível de água do radiador, então já estaríamos a falar de um “especialista”, ou de um carro com uma avaria crónica.

Estava tudo no Manual

Abrir o capót era um ato tão normal como mudar um pneu furado. Os “caloiros” nestas coisas dos automóveis pegavam, às escondidas, no “Manual de Instruções”, essa obra quase bíblica.

Folheavam avidamente o livro, à procura do desenho que mostrava onde estava a alavanca para abrir o capót, memorizavam os “bonecos”, lendo o mínimo do Manual e nunca mais voltavam a essa página.

Hoje, tudo mudou; ou melhor, tudo menos os mecanismos de abertura e fecho do capót e aí é que está o problema.

Abrir o capót: para quê?…

Com a incrível subida de fiabilidade dos automóveis, a necessidade de verificação da água do radiador é uma precaução que desapareceu. Em alguns carros, até mesmo a verificação do líquido do limpa para-brisas deixou de ser uma preocupação, quando há uma luz avisadora, além de que um depósito cheio parece durar um ano.

Basta um simples telefonema para a “Assistência em Viagem”, esse novo São Cristóvão dos automobilistas

Quanto a abrir o capót para investigar alguma avaria (manifestação maior do conhecimento de de quem o fazia), foi hoje substituída por um simples telefonema para a “Assistência em Viagem”, esse novo São Cristóvão dos automobilistas.

Não há razão para abrir o capót. A Audi e a Smart chegaram a lançar modelos em que o capót não se abria (casos do A2 e do fortwo) e tinha que ser retirado aliviando parafusos.

Eu tenho que abrir o capót…

Nos meus testes, contudo, abrir o capót continua a ser uma rotina a cada novo modelo que guio. Não só por querer ver como o construtor “arruma” todos os componentes, mas também para verificar, por exemplo, a existência de barras anti-aproximação nas torres de suspensão (o novo Corsa tem uma solução curiosa…) e não só.

Nos carros elétricos, são cada vez mais aqueles que usam o espaço libertado na frente, pelo desaparecimento do motor de combustão, para lá instalar uma segunda bagageira, a chamada “Frunk”, muito prática para colocar os cabos de recarga da bateria.

Um processo irritante

Por isso, acabo por ter que abrir o capót de todos os carros que testo. E aí chegam as irritações. Tudo começa com a procura da alavanca no interior, para soltar o capót. Com tantas normas que há para os automóveis, parece não haver uma para a colocação desta simples alavanca no habitáculo.

As melhores estão na base do pilar dianteiro do tejadilho. Para puxar algumas dessas, é preciso abrir a porta, o que faz sentido em termos de segurança. Mas depois começa a caça!

Escondidas da vista

Muitas estão escondidas sob o tablier, impossíveis de ver sem enfiar a cabeça sob o volante. Para evitar esse desconforto, lanço a mão para o desconhecido, dedilhando parafusos e cabos elétricos, sempre à espera de cortar um dedo ou apanhar um “esticão”.

Quando acerto, respiro de alívio. A primeira parte está cumprida e o capót dá um salto lá na frente

Quando toco em alguma coisa que parece ser a alavanca do capót, respiro fundo e puxo. Já me aconteceu cair o volante: era a alavanca da sua regulação em altura e alcance!

Quando acerto, respiro de alívio. A primeira parte está cumprida e o capót dá um salto lá na frente, confirmado por um “clanck” sonoro.

O pior é lá na frente

Mas o pior ainda está para vir. A seguir é preciso puxar o capót para cima, o que não se pode fazer sem desengatar o fecho de segurança. Uma medida importante, para evitar que o capót se abra em movimento.

Geralmente, não vou ver o “Manual de Instruções”, porque acho que “não vale a pena para uma coisa tão simples”; ou porque cada vez menos carros o trazem em formato papel – em alguns é preciso usar o smartphone, ler um código QR e depois descarregar o Manual de Instruções.

Onde estará a alavanca?

Seja como for, começa a irritante odisseia de procurar a patilha, o fecho, a alavanca ou o que quer que seja que desengata o fecho e permite abrir o capót. Quando enfio a mão na fresta que ficou aberta sob o capót, não faço ideia de qual o formato do “gatilho” de que estou à procura.

Também não sei para que lado está o dispositivo de desengate, e a mão tem que varrer quase toda a largura da fresta, da esquerda para a direita, à espera de bater com os dedos em algo que se sinta poder ser o fecho.

Lesões à vista

Neste irritante processo de busca, uma coisa está garantida: a mão vai ficar suja, de poeira, de óleo ou das duas substâncias e depois nunca há onde limpar a mão.

Na pior das hipóteses, se o carro estiver quente, há sempre a ameaça latente de queimar a ponta dos dedos ou, pelo menos, de fazer uns arranhões. Raramente os dedos saem incólumes desta exploração às escuras.

É para puxar, para empurrar, para inclinar para um lado ou para o outro?

Quando finalmente se encontra o que parece ser o tal “gatilho” para libertar o capót, surge a última dúvida: é para puxar, para empurrar, para inclinar para um lado ou para o outro?

Perigo de “uppercut”

Mais uma série de tentativas, expondo os dedos a mais possibilidades de lesões e quando finalmente se percebe como funciona o mecanismo oculto, é preciso aferir a força necessária para o fazer mexer.

Com a outra mão – que esteve todo este tempo a segurar o capót, não vá ele fechar-se e entalar a mão que anda à procura do fecho – faço pequenos movimentos para ver se o fecho já está solto.

Quando o fecho se desprende, a ansiosa mão que segura o capót geralmente acaba por aplicar mais força do que é necessário e o capót sobe direito ao queixo, sendo preciso um movimento decidido da cabeça para não levar um “uppercut” metálico.

A terceira etapa

Só falta a última etapa. Encontrar a vareta que mantém o capót aberto, desengatá-la com uma mão, enquanto a outra segura o capót por cima da cabeça e depois procurar o orifício onde inserir a dita vareta. Se tudo correr bem, a cabeça não bate no capót, quando recuo para apreciar o motor.

Conclusão

Normalizar a localização e atuação dos fechos necessários para abrir o capót talvez não fosse uma má ideia. Por um lado, evitava a irritação de todo o processo, por outro lado tornaria a ação mais clara e rápida, o que se pode revelar importante em situações de emergência.

Francisco Mota

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