28/5/2021. Carlos Tavares, o líder da Stellantis, quarto maior grupo automóvel, deu um prazo de dez anos para a Alfa, Lancia e DS mostrarem o que valem. Depois…
Ao juntar a PSA com a FCA, criando o gigante Stellantis, com 14 marcas em atividade no mercado, Carlos Tavares, o líder do mega-consórcio, ficou com vários problemas para resolver.
O mais óbvio é saber o que fazer às marcas problemáticas do grupo, nomeadamente a Alfa Romeo, Lancia e DS. Em todas elas se reconhece potencial de crescimento, mas falta o resto.
O resto começa por ser dinheiro e Tavares já garantiu que vai existir investimento nestas marcas para que cresçam significativamente durante a próxima década. O que vai acontecer depois, não foi dito, mas parece óbvio que só pode ser uma de duas coisas: fechar ou vender.
Os sub-grupos de marcas
Na necessária reorganização do grupo, que tem passado por nomeações quase todas as semanas, as marcas da Stellantis foram agrupadas, juntando-se as que têm maiores afinidades e que podem partilhar mais entre si.
Assim, a Alfa Romeo, Lancia e DS estão no grupo das marcas premium. Os outros grupos são constituídos da seguinte forma: A Fiat, Abarth e Citroën formam um dos grupos; a Peugeot, Opel e Vauxhall, estão noutro grupo. Estes são os três grupos mais importantes.
Mas depois ainda há o grupo das marcas americanas Chrysler, Dodge e Ram. As únicas marcas que não se juntam em grupos são a Jeep, claramente devido à sua maior dimensão e a Maserati, devido à especificidade dos seus produtos.
O trabalho que já está feito
Não é preciso uma bola de cristal para adivinhar que percursos devem estar previstos para a maioria destes sub-grupos. Tavares não é adepto de grandes revoluções, pelo menos que se vejam de fora.
Evolução será a palavra de ordem, até porque não é preciso muito mais para marcas como a Peugeot, Citroën e até Opel. O mais difícil já está feito.
O que falta fazer na DS
Mas com a Alfa, Lancia e DS a questão é diferente. Comecemos pela última, que foi fundada em 2014, num “spin-off” da Citroën, “roubando” à marca do “double chevron” o seu maior ativo histórico, precisamente a herança do fabuloso Citroën DS.
A DS começou com modelos adaptados do catálogo da Citroën, tendo depois evoluído para o mesmo método de todas as marcas da PSA: partilhar plataformas e o máximo de componentes com outros modelos do grupo, mas com uma estética e habitáculo diferenciados.
O processo não começou mal, mas as vendas depressa começaram a cair, sobretudo no mercado da China, a maior aposta da DS, onde a marca desceu 68% entre 2018 e 2019, os dois últimos anos “normais” de que há registo.
O lançamento do novo DS4 traz muitas esperanças, mas esperava-se que o B-SUV DS3 Crossback tivesse tido maior impacte no segmento com maior crescimento na Europa.
Ainda assim, a marca tem a vantagem de já dispor de uma gama totalmente eletrificada, com versões híbridas “plug-in” e até uma versão elétrica no DS3 Crossback. Uma posição de que a Alfa e a Lancia estão muito distantes.
Lancia: pode ser tudo
A Lancia, que só vende o Ypsilon em Itália, deverá seguir um percurso paralelo ao da DS. O seu património histórico é agora distante e difuso para os compradores mais novos, por isso deve suportar uma mudança de rumo sem problema. Desde que seja numa direção que agrade a um número significativo de compradores.
Partilhar plataformas, mecânicas e soluçõs específicas com a DS, não será nenhum problema para a Lancia. Mesmo na era da eletrificação. Desde que o gabinete de estilo acerte com as preferências dos comparadores, algo de que a Lancia tem andado arredada há demasiado tempo.
E a Alfa Romeo?…
O caso mais sensível é o da Alfa Romeo. Nos tempos recentes a marca fez um trabalho com melhores resultados ao nível da imagem do que das vendas, sobretudo à custa das versões Quadrifoglio do Giulia e Stelvio. Mas o mais difícil está por fazer.
Tavares admite que, na Alfa Romeo, “existe uma disconexão entre os produtos, a história e a quem nos estamos a dirigir.” Acrescentando ainda que “temos de perceber a quem nos estamos a dirigir e que promessas a marca lhes está a fazer.”
Sobreposição é problema?
Quando se tem um portefólio de 14 marcas para dirigir, há a tentação de as tentar afastar, com o receio de que umas possam roubar vendas às outras. Mas o grupo VW já percebeu, ao longo dos anos, que isso pode não ser assim tão importante.
Cada marca tem a sua força numa dada região da Europa e deve ser para aí que se aponta o foco. Um exemplo: a Seat vende bem no Sul da Europa e a Skoda vende bem nos mercados mais a Norte, a questão da sobreposição entre ambas nem se coloca.
Conclusão
Outra questão é saber se os 10 anos que Tavares está a dar agora à Alfa, Lancia e DS para apresentarem resultados são suficientes. Relembro que, quando a DS foi lançada em 2014, Tavares dizia que seriam preciso 15 anos para que a DS fosse vista como uma marca premium como as alemãs. Entretanto já passaram sete anos e ainda há muito por fazer.
Francisco Mota
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