O LCP 2000 tinha dois pequenos motores em opção

A traseira cortada na vertical tinha efeitos aerodinâmicos

Materiais leves limitavam o peso

Alguns detalhes seriam usados no Volvo 480

A performance não era a prioridade do LCP

A terceira porta dava acesso a dois lugares virados para trás

Nos finais dos anos setenta já a Volvo trabalhava nas energias alternativas e nos materiais leves. O “concept-car”  LCP mostrava a visão de futuro da Volvo, em 1983. Ainda hoje algumas das suas soluções são atuais.

 

Na Primavera de 1983, faz agora precisamente 38 anos, a Volvo mostrava à Imprensa o resultado do trabalho de uma das suas equipas de investigação e desenvolvimento, liderada pelo engenheiro Rolf Mellde.

O “concept-car” totalmente funcional que foi mostrado nessa altura recebeu o nome LCP 2000, as iniciais de “Light Component Project” para o ano 2000. Tratava-se de um estudo que pretendia encontrar vias para a diminuição do impacte dos automóveis no meio ambiente.

Por esta altura, a mensagem que mais efeito fazia nas campanhas de marketing era a potência e a performance, mesmo se as versões mais potentes de cada modelo funcionavam essencialmente como locomotiva das versões menos potentes e mais acessíveis.

Uma ideia em contra-ciclo

Por isso, quando o LCP surgiu, defendendo valores como os dos materiais leves, combustíveis alternativos e redução de consumo, parecia estar em contra-ciclo, mas a Volvo mostrava já preocupações ambientais que passavam pela conceção dos seus automóveis.

A verdade é que o LCP 2000 não surgia do nada. A ideia original começou a ser trabalhada em 1979, muito influenciada por um estudo de quadriciclo elétrico que a Volvo tinha feito em 1976, o Elbil e também por outro estudo de baixo pelo, o Ellen.

O caderno de encargos do LCP 2000 era exigente, para alguns dos envolvidos começou por parecer impossível de cumprir. Desde logo porque o plano era fazer um protótipo em que tudo estivesse a funcionar. Não era fazer apenas uma maqueta para mostrar num salão internacional do automóvel.

Baixo peso e baixo consumo

O habitáculo tinha que levar pelo menos duas pessoas, o peso máximo do carro não poderia excede os 700 kg e o consumo máximo tinha que ficar abaixo dos 4 litros/100 km. Algo visto como totalmente irrealista, na altura

Para atingir estes objetivos, os engenheiros sob o comando de Mellde teriam que recorrer aos mais avançados conhecimentos em termos de materiais e de tecnologia de motores, bem como antecipar algumas das tecnologias que estavam ainda em desenvolvimento.

Estes projetos têm sempre esse mérito, o de incentivar os envolvidos a explorar novas ideias a um ritmo mais acelerado que o normal, potenciando assim soluções para aplicação futura.

Quatro exemplares construídos

Nada menos do que quatro exemplares do LCP 2000 foram construídas, todos com diferenças técnicas entre si. Foram vistos em público pela primeira vez num seminário sobre ambiente, organizado na Primavera de 1983, em Estocolmo.

A aparência do LCP 2000 era bastante futurista, para a altura, mas não em excesso. O capót era muito inclinado, a traseira cortada na vertical e a grande porta traseira em plástico dava acesso aos dois lugares extra, virados para trás, por motivos de segurança e de organização do espaço. E não anulavam o espaço para bagagens.

Olhando com atenção para o desenho do LCP 2000, é possível encontrar alguns detalhes de estilo que seriam usados três anos depois, quando o Volvo 480 foi apresentado.

Dois tipos de motores

Os quatro LCP 2000 estavam equipados com dois tipos diferentes de motores, ambos Diesel, colocados em posição dianteira transversal e movendo as rodas dianteiras.

A tecnologia Diesel de nova geração estava numa fase de grande expansão, por isso a Volvo investia nos Diesel, mas de forma diferente da maioria das marcas. Em vez de ir à procura de valores elevados de potência e binário, com motores de grande cilindrada, preferia o oposto.

Um dos motores tinha 1.3 litros e debitava 50 cv, sendo o bloco feito em liga de Magnésio. O outro motor era um 1.4 litros de 90 cv, com um mais convencional bloco em ferro fundido.

Este 1.4 tinha contudo a particularidade de não usar um circuito de refrigeração de água, para os cilindros. Em vez disso, era o próprio óleo do motor que o arrefecia.

Este segundo motor estava preparado para consumir gasóleo mas também outros tipos de combustíveis sustentáveis, como o óleo de semente de colza. Diz, quem o viu passar, que deixava no ar um cheiro a alimentos fritos. Os ingleses juravam que cheirava a “fish and chips”.

A transmissão às rodas da frente estava a cargo de uma caixa manual de cinco velocidades ou uma caixa de variação contínua CVT, mas já com controlo eletrónico.

Novos materiais

Tanto a estrutura como a carroçaria utilizavam materiais leves pouco comuns nos anos oitenta, como o Magnésio ou o Alumínio, tanto por razões de poupança de peso, como de facilidade de reciclagem. E também por aquilo que se previa vir a ser a sua disponibilidade no futuro.

A grande surpresa era a utilização de fibra de carbono para a estrutura das portas, um material que, na altura, era completamente novo e pouco conhecido.

Mas, como muitas vezes acontece com estudos e “concept-cars” tão avançados para o seu tempo como o LCP 2000, o mercado não estava preparado para o conceito de um carro pequeno, leve e em que a prioridade era a redução de consumo, não a subida das prestações.

Por isso, o LCP 2000 não deu origem direta a um modelo de produção em grande série, como poderia ter acontecido hoje.

Base para estudos de energia

Contudo, o LCP 2000 seria a base de trabalho para estudos detalhados de consumo de energia durante o ciclo de vida total de um veículo. Desde a extração da matéria prima, passando pela produção, utilização, manutenção e reciclagem.

Foram estes estudos que estiveram na base da estratégia ambiental da Volvo e a sucessiva declaração ambiental para novos modelos, que se seguiu em 1998.

Conclusão

Hoje, o LCP 2000 pertence ao espólio museológico da marca, continuando a atrair a atenção de quem se preocupa com o meio ambiente. É o testemunho de uma maneira de pensar inovadora e criativa, um pouco “fora da caixa”, que sempre caracterizou os modelos da Volvo e que hoje tem na eletrificação da sua gama uma das demonstrações mais concretas.

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