11/1/2019 Sabe qual a marca que subiu 400% nas vendas? E a que desceu 100%? A ACAP divulgou as vendas de carros em 2018, a melhor altura do ano para brincar com os números.

É sempre com alguma expetativa que aguardo a divulgação, pela ACAP, da lista das marcas mais vendidas no ano anterior. Não só porque fico a saber se o mercado subiu ou desceu, mas também porque é a altura para poder fazer algumas contas divertidas, quando cruzamos as percentagens com os valores absolutos. Convido-o a acompanhar-me neste momento de lazer, sabendo que pode aceder à lista completa aqui: http://www.autoinforma.pt/vendas-veiculos-automoveis-portugal-2018.html?MIT=1

Só vendas de ligeiros

Olhando apenas para as vendas de ligeiros de passageiros, o ano de 2018 fechou com uma subida de 2,8% face a 2017, tendo sido vendidos nada menos do que 228 290 carros novos. Só para saber, os ligeiros de mercadorias venderam 39 306 e subiram 2,0%; os pesados venderam 5617 e desceram 2,0%.
Proponho desde já a primeira brincadeira, na forma de uma pergunta: para onde foram duzentos e vinte e oito mil, duzentos e noventa carros novos?…

Em Portugal, menos de um terço dos automóveis novos vendidos foram efetivamente comprados pelo seu utilizador

Para quem tenha lido o recente estudo do Observatório ACP, que concluíu que a idade média dos automóveis a circular nas nossas estradas é de 9,3 anos e que os utilizadores só os deixam “morrer” quando têm, em média, 111 000 km, estes números das vendas de 2018 (e dos anos anteriores também) podem parecer intrigantes.
A resposta é, contudo, relativamente simples: em Portugal, menos de um terço dos automóveis novos vendidos foram efetivamente comprados pelo seu utilizador. A maior parte é comprada pelas empresas de “rent-a-car” e por frotas de empresas, como carros de serviço.

O TOP 10 de 2018

Esses carros, subtraindo os que forem exportados como usados, vão acabar por ser vendidos a um utilizador final, mas já como usados, não como novos. Isto para já não entrar noutro tipo de “engenharias” em que é fértil o mercado nacional.
Voltando à lista da ACAP, o TOP 10 das marcas mais vendidas em Portugal, no ano de 2018 foi:

1ª – Renault
2ª – Peugeot
3ª – Mercedes-Benz
4ª – Nissan
5ª – Fiat
6ª – BMW
7ª – Citroën
8ª – Opel
9ª – VW
10ª – Toyota

A Renault vendeu 31 215 carros e a Toyota chegou aos 10 042, só para dar uma ideia das diferenças. A Peugeot, que ficou em segunda, vendeu 22 980 unidades. Impressionante é também a presença da Mercedes-Benz em terceiro lugar absoluto.
De entre estas dez marcas, a que mais subiu face a 2017 foi a Citroën, com mais 18% de carros vendidos, logo seguida pela Toyota (mais 17,7%) e pela Nissan (mais 16,2%). Quanto à marca que mais desceu foi a VW, com menos 24,7%. Aliás, no Top 10, só mais duas marcas desceram: BMW (menos 5,0%) e Opel (menos 3,7%).

Brincar com os números

Até aqui, o assunto é sério e importante, até podemos sacar da calculadora e começar a somar as marcas do mesmo grupo, para concluir que a aliança Renault/Nissan/Dacia/Mitsubishi está à frente da Peugeot/Citroën/Opel/DS, com uma margem de mais de cinco mil carros.
Mas a diversão começa quando olhamos um pouco mais abaixo na tabela da ACAP e encontramos a marca que mais cresceu em 2018, com uma subida de uns estrondosos 401,4%, nada mais, nada menos. E essa marca foi a Jeep, que passou dos 289 carros vendidos em 2017 para os 1449 de 2018. Nada mau…

A descida da Audi, que escorregou uns assustadores 49,5% e a Land Rover, que caiu 25,6% não são nada confortáveis

No polo oposto, temos uma marca que também pertence à FCA, a Lancia, que desceu 100%, passando de dois carros vendidos para zero, lógico, pois a marca retirou-se do mercado. Mais preocupante é a descida da Audi, que escorregou uns assustadores 49,5%, refletindo a instabilidade que atravessa o importador nacional. E a descida de 25,6% da Land Rover também não é nada confortável.

Menções honrosas

Marcas que merecem menções honrosas, mesmo tendo ficado fora do Top 10 são a Hyundai, que subiu 32,3% (chegou aos 4600 carros), a Alfa Romeo, que subiu 24,1%, apesar de só ter vendido 1102 carros e a Porsche, que subiu 25,6% ao vender 260 carros.
Mais diversão começa quando olhamos para as marcas de luxo como a Lamborghini que subiu 75% (vendeu 7 carros, tinha vendido 4), a Bentley que subiu 70% (passou de 10 para 17) e a Ferrari que subiu 15% (de 20 para 23). Percentagens que ficam bem em qualquer folha de Excel e que, apesar de corresponderem a valores absolutos baixos, não deixam de fazer pensar no poder de compra de alguns portugueses.

Conclusão

Mas volto ao princípio e ao estudo do Observatório do ACP. Segundo o maior clube português, o rácio de automóveis por habitante é de 459 carros por cada 1000 pessoas, com as famílias a ter, em média, dois carros. Desses, 46,4% são utilitários e apenas 9,0% são SUV. E se estava a pensar que o Diesel têm os dias contados, note esta última conclusão do estudo: 58% dos carros a circular são a gasóleo, 40,1% são a gasolina e todos os outros representam apenas 1,9%. Enfim, para quem gosta de brincar com os números, as vendas de carros novos em Portugal são um verdadeiro parque de diversões. Mas é preciso ter cuidado, para não bater com a cabeça no chão.
Francisco Mota