Renault Scenic E-Tech Electric (fotos de João Apolinário)

Grelha é feita com um padrão de losangos

Losango também inspira as luzes de trás

Proporções são as de um SUV clássico

A quarta geração do Scenic é um SUV elétrico

Muitos motivos geométricos nas formas exteriores

Jantes sem simetria têm estilo invulgar

Scenic tem ar de "concept-car"

Aspeto do habitáculo comum ao Megane E-Tech Electric

Perceção de qualidade não é homogénea no interior

Alavanca da transmissão está na coluna de direção

Muitos comandos do lado direito do volante

Botões físicos para funções prioritárias sob o ecrã tátil

Infotainment tem Google embarcado com algumas aplicações

Botão para regular a opacidade do tejadilho de vidro

Tejadilho totalmente translúcido...

... tejadilho semi-opaco...

... e tejadilho totalmente opaco

Boa posição de condução, tecido é 100% reciclado

Bom espaço em comprimento mas piso é alto em relação ao assento

Suportes para smartphone e tablet no apoio de braços

Mala tem 545 litros de capacidade, mas é funda

Sob a mala há um espaço para os cabos da bateria

Dinâmica precisa e neutra com boa tração

Suspensão bem amortecida mas não super-confortável

Direção um pouco leve, mas precisa e direta o suficiente

Muito preciso em curva e com boa estabilidade

O Renault Scenic E-Tech Electric já esteve em Portugal para ser testado no TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário. Saiba como se comporta o SUV elétrico francês nas nossas estradas.

 

A quarta geração do Renault Scenic já chegou a Portugal, mas apenas para o primeiro teste em estradas portuguesas no TARGA 67. As primeiras entregas estão agendadas para o final do primeiro trimestre.

Ao fim de 28 anos, o Scenic, que nasceu monovolume em 1996 e teve imenso sucesso, passou a SUV 100% elétrico. Mas a sua missão não mudou muito: servir as famílias que procuram um compacto espaçoso e versátil. Agora na era elétrica.

Proporções são as de um SUV clássico

O Scenic E-Tech Electric é o segundo modelo da nova geração de elétricos da Renault, que começou com o Megane E-Tech Electric, com o qual partilha a plataforma CMF-EV.

Novo estilo

Mas enquanto o Megane faz a transição entre o estilo dos modelos a motor de combustão e os elétricos, na gama Renault, o Scenic dá mais um passo e estreia uma nova linguagem de estilo.

O novo desenho assenta em linhas retas e arestas vincadas com uma nova face, feita de faróis de novo formato e três elementos. As luzes de dia são inspiradas no losango e a rede que forma a grelha da frente também.

Scenic tem ar de “concept-car”

O perfil é o clássico de um C-SUV, com capôt e tejadilho horizontais, para marcar as proporções e maximizar a habitabilidade, respetivamente. A tampa da mala evita o ângulo coupé, para garantir 545 litros de capacidade.

E a vista de trás segue o mesmo tema das arestas e do losango, sem nenhuma ligação entre as luzes de trás e dando ao Scenic um ar de “concept-car” que as jantes de desenho assimétrico reforçam.

Como é por dentro

O Scenic tem mais 10 cm de distância entre-eixos (2,78 m) que o Megane e já veremos quais as consequências. O comprimento de 4,47 metros fica perto dos 4,58 metros do VW ID.4, seu rival direto.

Aspeto do habitáculo comum ao Megane E-Tech Electric

Por dentro, os bancos estão posicionados mais altos que no Megane, como se espera de um SUV. O espaço atrás é bem maior em comprimento, o piso é plano mas alto em relação ao assento, deixando as pernas mal apoiadas. Há pouco espaço sob os bancos da frente, para esticar os pés.

O tejadilho alto beneficia a altura disponível e facilita o acesso, a largura é suficiente, mas o lugar do meio é mais estreito, alto e duro.

Levando só dois passageiros na segunda fila, é possível rebater o apoio de braços, que tem práticos suportes individuais para smartphones ou tablets.

Boa posição de condução

A posição de condução é mais direita que no Megane, permanecendo o volante grande de aro quase quadrado, mas que tem boa pega e amplos ajustes.

Boa posição de condução, tecido é 100% reciclado

Ao banco também não faltam ajustes, sendo confortável e tendo bom apoio lateral. A alavanca da transmissão é uma haste na coluna de direção, convivendo de perto com a outra haste dos limpa para-brisas, com o antiquado satélite do som, com as patilhas da regeneração e ainda com os botões do volante. Quase é preciso a agilidade de um acordeonista…

O painel de instrumentos digital tem gráficos novos e varia de aspeto pressionando o botão háptico “view” no volante. É muito fácil de ler, pois não está sobrecarregado de informação.

Google a bordo

O ecrã tátil central está na vertical, como é hábito na marca, e tem aplicações Google embarcadas que funcionam muito bem, sobretudo em coordenação com os comandos por voz. A organização dos menus podia ser mais intuitiva, mas tem um friso de botões físicos em rodapé, para as funções de uso prioritário.

Bom espaço em comprimento mas piso é alto em relação ao assento

A consola tem vários compartimento com divisórias amovíveis, mas está posicionada junto ao piso. Podia ter um segundo andar, como muitos outros construtores usam.

Perceção de qualidade

Quanto à perceção de qualidade, o que posso dizer é que não é homogénea. Há superfícies forradas a pele sintética com pespontos e até aplicações com acabamento metálico ou em madeira. Mas também há muitas superfícies com plásticos duros de aspeto simples.

Perceção de qualidade não é homogénea no interior

Alguns tecidos são reciclados, como 100% dos forros dos bancos e as aplicações nas portas. Os plásticos do tablier também são 80% reciclados. Não há pele de origem animal no Scenic.

O que é o Solarbay

Novidade no habitáculo é o Solarbay, um tejadilho panorâmico em vidro, fechado, com possibilidade de regular a sua opacidade, portanto, a quantidade de luz (e calor) que entra no habitáculo. Isso pode ser feito em várias secções.

… tejadilho semi-opaco…

Basta carregar num botão para escolher a parte do vidro que se quer escurecer. Ganha-se 30 mm em altura, pois não é precisa uma cortina. Vou precisar de esperar pelo Verão para ver se o isolamento do calor é eficaz.

Modos de condução

Para colocar o motor “ready” é preciso pressionar um botão de aspeto simplório posicionado sob o painel de instrumentos e oculto pelo aro do volante.

Os modos de condução Eco/Comfort/Sport/Perso escolhem-se no botão Multi Sense no volante, este com melhor aspeto. Comecei pelo primeiro que se mostrou bem adaptado ao trânsito urbano.

Dinâmica precisa e neutra com boa tração

O acelerador está bem calibrado para esta utilização, dando resposta rápida, mas sem excessos nem soluços desnecessários. A regeneração na desaceleração pode ser regulada através de patilhas no volante, em quatro níveis.

Regeneração com patilhas

É sempre uma boa solução, pois acrescenta algum controlo à condução de um elétrico. Tem nível zero, que permite deixar deslizar o Scenic sob a sua inércia em declives favoráveis. Mas não tem função “one-pedal”.

A regeneração não imobiliza nunca o Scenic, é preciso usar os travões, o que não é problema, pois estão bem calibrados e são fáceis de dosear.

Muitos comandos do lado direito do volante

A direção tem um pouco de assistência em excesso, em qualquer dos modos, mas é precisa e tem bom tato. O diâmetro de viragem é de 10,9 metros, facilitando as manobras.

A visibilidade para trás é difícil através do retrovisor, a não ser que se ligue a sua função de ecrã digital, que transmite a imagem que está a ser captada por uma câmara. Também os retrovisores exteriores ficam no campo de visão em alguns cruzamentos e entroncamentos, mas para isso não há solução.

Consumos razoáveis

A suspensão é relativamente firme e os pneus são de medida 235/45 R20, por isso este Scenic E-Tech Electric Iconic não é super-confortável. Mas consegue digerir bem a maioria das irregularidades do piso, sem passar muitos solavancos para o habitáculo.

Infotainment tem Google embarcado com algumas aplicações

No meu habitual teste de consumos reais em cidade, em modo Eco, com A/C desligado e usando as patilhas, obtive um valor de 16,7 kWh/100 km. Fazendo as contas à capacidade útil da bateria de 87 kWh resulta numa autonomia real em cidade de 521 km.

Em autoestrada, rolando a 120 km/h constantes, em modo eco e usando o nível zero de regeneração, obtive um valor de 24,0 kWh/100 km, equivalendo a uma autonomia real de 363 km.

O painel de instrumentos indica, a cada momento, três autonomias previstas com a energia restante na bateria. Uma para circulação em autoestrada, outra para cidade e a relativa à condução nos últimos quilómetros.

Jantes sem simetria têm estilo invulgar

A Renault anuncia uma autonomia em ciclo misto, segundo a norma de laboratório WLTP, de 620 km e um carregamento a uma potência máxima de 150 kW DC, condições em que demora 38 minutos para ir dos 15 aos 80% de carga.

Muito silencioso

Feitos os testes de consumo em modo Eco e escolhendo agora o modo Comfort, que não altera nada na suspensão, nota-se uma resposta mais rápida do acelerador, que mantém um ressalto a pedir força no pedal para chegar à aceleração máxima.

Em autoestrada, o Scenic é muito silencioso, quase nada chegando aos ouvidos do rolamento dos pneus. De ruídos aerodinâmicos só alguma coisa, mas acima dos 120 km/h.

Suspensão bem amortecida mas não super-confortável

Nestas condições, a suspensão controla muito bem os movimentos da carroçaria, não deixando gerar nenhumas daquelas oscilações típicas de alguns SUV. Em muitas situações, os 1842 kg são suficientes para fazer deslizar o Scenic, mantendo a velocidade, sem necessidade de usar o acelerador.

Boas prestações

Quando passei para estradas secundárias e escolhi o modo Sport, o acelerador subiu para um terceiro nível de prontidão dos 220 cv.

A Renault anuncia os 0-100 km/h em 8,4 segundos, um tempo razoável para esta relação peso/potência. Acelerando a fundo, nota-se que a gestão do binário está muito melhor que nos primeiros Megane E-Tech Electric que testei. A Renault confirma que fez evoluir o software.

Direção um pouco leve, mas precisa e direta o suficiente

Assim, as rodas da frente não têm dificuldade em colocar os 300 Nm no chão. A dinâmica em estradas com muitas curvas está em bom nível.

A frente entra com precisão e rapidez mais que suficientes, para um SUV familiar. A inclinação lateral é pouca e a atitude é bastante neutra e muito bem controlada.

Muito bem controlado

As vias do Scenic são 32 mm mais largas que as do Mégane, para lidar com a maior altura, resultando num comportamento muito estável e que inspira confiança, tanto mais que o uso das patilhas pode ser também uma forma de controlo.

Querendo exagerar um pouco, é claro que a subviragem surge na primeira metade da curva, mas é de fácil e imediata resolução, bastando aliviar o acelerador. Ou então deixar o ESC fazer o seu trabalho de forma muito eficiente.

Muito preciso em curva e com boa estabilidade

Entrando mais devagar em curva, mas deixando a desaceleração para mais tarde, consegue-se até fazer deslizar ligeiramente a traseira, ajudando a rodar o Scenic. Mas só se o condutor realmente o provocar e com o ESC a entrar em cena pouco depois.

Conclusão

O Scenic E-Tech Electric com bateria de 87 kWh mostrou competências na habitabilidade, na dinâmica, na facilidade de utilização e na autonomia. A perceção de qualidade do habitáculo podia ser melhor e há algumas falhas de ergonomia. Quanto ao preço, esta versão topo de gama Iconic custa 52 650 euros. Mas a versão de acesso Evolution, com 170 cv, bateria de 60 kWh e 420 km de autonomia WLTP custa desde 40 690 euros. O que já dá que pensar.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Renault Scenic E-Tech Electric 87

Potência: 220 cv

Preço: 52 650 euros

Veredicto: 4 estrelas

 

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Crónica – Ampere: Nasceu a “start-up” da Renault para os elétricos