Diz-se que em equipa que ganha não se mexe, mas é claro que isso não é verdade. A Porsche mexeu no Macan S e o resultado é um SUV melhor. Mas há sempre um mas…

 

A história do Macan ficará como um exemplo de extensão de vida de uma plataforma, para lá do esperado. Relembro que o Macan foi lançado em 2014, feito com base na plataforma MLB usada pelo Audi Q5 de 2008.

Entretanto, em 2016, o SUV médio da Audi foi substituído por uma nova geração, feita com base na nova plataforma MLBevo, mas o Macan, que recebeu agora um restyling, permaneceu na plataforma anterior. Porquê?…

Por duas razões. Em primeiro lugar, porque se percebeu que seria possível atualizar o Macan sem ter que passar para uma nova plataforma, com todos os custos que isso implica.

Em segundo lugar, porque a Porsche já decidiu que a próxima geração do Macan será exclusivamente elétrica, razão pela qual o investimento na plataforma MLBevo faria ainda menos sentido.

Ninguém diria…

Para os clientes, julgo que isto pouca importância terá, sobretudo a partir do momento em que o sistema de infotainment foi atualizado para a última geração, que se conhece de outros modelos do grupo, incluindo as opções de conetividade mais procuradas. Também a lista de ajudas à condução foi atualizada ao gosto do momento.

Este “facelift” é relativamente subtil, no plano estético, com a mudança mais visível a ser o aparecimento da barra refletora que une os dois farolins traseiros, uma herança dos antigos 911, que foi sendo aplicada a todos os Porsche mais recentes.

Claro que agora já não é “refletora” como nos anos setenta, é feita de LED, para uma assinatura luminosa única. No resto da carroçaria, as mudanças são as habituais, com novos para-choques, retrovisores e pouco mais.

Tendo vendido 350 000 unidades em quatro anos, não havia grandes razões para revolucionar no estilo, nem isso faria parte do plano de negócio.

Novo Macan S é mesmo novo?

Nesta versão Macan S, que testei, há contudo uma mudança significativa, debaixo do capót. O motor V6 turbo a gasolina passou a ser o que já equipa o Cayenne e Panamera, uma unidade Audi, diferente do anterior de origem Porsche.

Mas com isso ganhou-se 14 cv e 20 Nm, sendo agora a potência máxima de 354 cv e o binário de 480 Nm.

O V6 tem um único turbocompressor, que é “twinscroll” e está montado no interior do “V” para acabar com o tempo de resposta da turbina. Os apoios do motor também são diferentes, para minimizar o seu movimento.

O V6 está associado a uma caixa PDK de dupla embraiagem e sete relações, com patilhas no volante. A tração é às quatro rodas com embraiagem multidiscos central.

Mais uns “pozinhos”

Mas a Porsche, sendo a Porsche, não se ficou por aqui. A suspensão foi modificada, recebendo braços inferiores em Alumínio, na frente e barras estabilizadoras diferentes. Também os pneus da frente são meia polegada mais estreitos que anteriormente e os de trás continuam a ser mais largos que os da frente.

Na prática, o Macan S começa por impressionar pela alta qualidade do habitáculo, mais ainda com o interior forrado a pele, opcional. O monitor central de 10,9” é muito fácil de usar e só é pena que o painel de instrumentos não tenha também sido atualizado, mas isso seria decerto um custo exagerado para o projeto.

Outro ponto em que se nota a idade da plataforma é na habitabilidade nos lugares traseiros. Dois adultos vão bem, três, nem por isso.

Para o condutor ficou guardado o melhor: uma posição de condução muito boa, com fácil visibilidade e a opção pelo volante GT, que inclui o botão rotativo para a escolha dos modos de condução Normal/Sport/Sport Plus/Individual, além do botão Sport Response ao centro, que mete tudo em Sport durante 20 segundos. Mais para o “show” que para o “go”.

Ainda tem “chave”

Em vez de um botão, o Macan continua a usar a “chave” com o formato de um Macan em miniatura, para ligar o motor, depois de inserida na sua doca, à esquerda do volante, como sempre, nos Porsche.

O V6 emite um som suave e discreto, talvez até demais. A caixa PDK é totalmente suave nas manobras a baixa velocidade e muito obediente com as patilhas.

Mas o que mais impressiona nos primeiros quilómetros é o conforto. Esta unidade tinha o amortecimento ajustável em três níveis, o que ajuda. Mas, em compensação estava equipada com as enormes jantes de 21”, num desenho a fazer lembrar as clássicas Fuchs.

Faz os 0-100 km/h em 5,1s

O motor sobe de regime de maneira muito linear e suave, típico de uma linha de binário plana entre as 1360 e as 4800 rpm. Ainda assim, nota-se um acréscimo de vontade a partir das 2000 rpm.

A caixa escolhe sempre a relação certa, seja em D ou S e o resultado é uma aceleração que se prova ser sempre mais rápida do que parece: 0-100 km/h em 5,1 segundos, com o pacote opcional Sports Chrono que esta unidade tinha.

A caixa faz “bolina” em ritmos moderados e constantes, em terreno plano, permitindo consumos médios na casa dos 12,0 l/100 km, numa utilização tranquila.

Mas um Porsche, mesmo um SUV, não foi feito só para passear. Escolhida uma estrada com curvas médias e lentas, com bom piso mas não muito larga, o Macan S agrada de imediato pelo rigor, pela certeza da direção. Não é muito leve, mas transmite imensa confiança.

Mesmo rodando o botão do volante para Sport Plus, desligando o controlo de estabilidade e depois ir escolhendo entre os três níveis de amortecimento consoante a estrada (é para isso que serve o botão separado) o Macan S continua confortável e com imensa aderência lateral, oferta dos pneus 295/35 R12, atrás e 265/40 R21, à frente.

Outra atitude

No entanto, não são precisas muitas curvas feitas mais depressa para se perceber que o equilíbrio dinâmico do Macan mudou. A Porsche diz que a transmissão foi otimizada para o tornar mais neutro, e isso é verdade.

Mas a memória que tenho da versão anterior era de uma sobreviragem mais acessível, assim o condutor a pedisse. As novas barras estabilizadoras contribuem para esta atitude mais neutra, portanto mais previsível para todos os condutores.

E os pneus traseiros, mais largos que os da frente, são uma mera questão de estilo, acabando a traseira por ter mais aderência que a frente o que, num 4×4, resulta sempre em subviragem, a não ser que a potência seja muito alta, o que não é o caso.

Mais ainda porque o peso de 1940 kg também não é baixo, resultado da plataforma ser mais antiga.

“Esturrar” os pneus ou…

Exagerando na entrada em curva, é claro que a frente subvira. Continuando a carregar no acelerador, a potência acaba por passar para as rodas traseiras e a atitude muda gradualmente para neutro, a meio da curva e depois ligeiramente sobreviradora, na saída. Mas entretanto, já se tirou uma substancial parte da vida dos Pirelli PZero…

Mais vale entrar em curva mais devagar, evitando a saída de frente, e acelerar forte só na segunda metade à procura de uma pequena deriva que mereça contrabrecagem. Ainda assim, a atitude do Macan S permanece bastante neutra.

Claramente, a Porsche retirou alguma da “rebeldia” do anterior modelo, que era capaz de fazer “slides” de potência com razoável facilidade.

Agora, esse exercício fica reservado para pisos muito escorregadios. Falta dizer que, a este ritmo, o consumo sobe facilmente aos 25 l/100 km, o que não é de espantar.

Conclusão

Apesar de o Macan S ter perdido um pouco da “loucura” que marcava a primeira edição, pelo menos nesta versão “S” e com as jantes de 21” montadas, a verdade é que a sua agilidade e noção de controlo em condução desportiva continua acima dos seus rivais. A experiência de condução continua a ser única e verdadeiramente Porsche e isso deverá deixar os seus compradores plenamente satisfeitos.

Potência: 354 cv

Preço: 89 612 euros

Veredicto: 4 (0 a 5)

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