09/08/2019 – Os planos das marcas para os seus próximos compactos desportivos, os chamados “GTI” não podiam ser mais diversos. Há quem defenda a passagem para os elétricos, a experiência com os híbridos ou a insistência na gasolina. Qual será o melhor?…

Nunca, como hoje, o comprador entusiasta pelos modelos desportivos compactos, conhecidos como “GTI” – desde que a Volkswagen utilizou a sigla pela primeira vez, no Golf de 1976 – teve uma escolha tão vasta e diferenciada.

Para quem continua a achar que há uma magia única num familiar de cinco portas e dois volumes, com um motor de altas prestações, a escolha é mesmo o mais difícil.

Entre os mais pequenos do segmento B, os utilitários e os maiores do segmento C, os familiares compactos, não é difícil encontrar mais de duas dezenas de opções.

O aumento da oferta deste tipo de carro não é um reflexo da subida da procura, pelo menos em mercados como o nosso, em que o preço e os consumos acabam por conspirar contra os “GTI”.

Pelo mesmo preço, ou menos, um comprador preferia, até há pouco tempo, optar por um potente Diesel. Claro que agora a tendência é outra, mas isso não levou a uma subida de vendas dos “GTI”.

Dominados pela novidade

É um nicho de mercado completamente liderado pela oferta e, sobretudo, pela novidade. Quando chega um novo “GTI” ao mercado, os entusiastas discutem apaixonadamente as características técnicas e as performances, comparam com as referências do segmento e, apenas uma mão cheia deles, avança para a compra. No segundo ano, as vendas costumam descer a pique.

Mas os “GTI” continuam a ser importantes para as marcas e para as gamas em que se inserem. Ainda são a versão aspiracional para muitos compradores, mesmo para os que nunca a irão comprar. Para as marcas, são uma maneira de publicitar a gama, a marca e os méritos da sua engenharia.

Publicidade pura

Algumas marcas precisam deles para dar continuidade a uma tradição que vem do passado e que traria má publicidade se fosse interrompida. Imagina o Golf sem uma versão GTI?… O que diria a legião de admiradores (e fanáticos) que o Golf GTI tem pelo mundo fora?

Para outras marcas, é a maneira de fazer a ligação entre as suas atividades desportivas e os modelos de produção em grande série, mesmo se o “GTI” de estrada pouco ou nada tenha a ver com a versão de competição.

Por exemplo, entre o Fiesta WRC e o Fiesta ST, julgo que pouco mais do que o símbolo na grelha será comum.

Por tudo isto, ter um “GTI” na gama continua a ser boa ideia, mesmo nesta época de anunciadas “grandes mudanças” na mobilidade e na propaganda da “transferência energética”.

Que futuro para os GTI?

Mas os construtores começam a pensar como poderá ser o “GTI” do futuro e como poderá continuar a desempenhar o seu papel.

A Peugeot espantou tudo e todos quando anunciou que a sua próxima coleção de GTI será constituída por veículos totalmente elétricos. Aliás, foi essa a justificação para se ter retirado do campeonato mundial de Rallycross, porque os promotores da disciplina decidiram adiar a prevista passagem para os carros elétricos.

Da BMW, diz-se que o novo Série 1, que passou para tração à frente, poderá ter uma versão desportiva de 400 cv e motorização híbrida “plug-in”, com o modo elétrico a resistir durante 100 km.

A Toyota já confirmou versões GR Sport de modelos como o Corolla, mas apenas mexem na estética, não na mecânica. Contudo, estão previstas versões GR, só que ainda não foram anunciadas para que modelos.

Será que a marca vai fazer aquilo que nunca fez durante mais de vinte anos de produção de modelos híbridos compactos e lançar um Corolla GR híbrido?

E o que vai acontecer ao Golf GTI?

Há mais fabricantes a pensar nos híbridos “plug-in” como base para versões desportivas tipo “GTI” e menos na solução 100% elétrica.

Os testes que fiz de condução desportiva em modelos elétricos têm mostrado que os consumos sobem vertiginosamente, acabando com a autonomia da bateria em poucos quilómetros.

No meio de todas as opções possíveis, o que vai fazer a Volkswagen com a próxima geração do Golf GTI?…

Numa altura em que a marca está mais empenhada que nenhuma outra na construção do seu edifício elétrico, com a nova geração de modelos I.D., a verdade é que continua a saber distinguir os elétricos dos térmicos.

Ao que se sabe, o próximo Golf GTI vai continuar a usar uma versão do atual motor 2.0 turbo de quatro cilindros, com mais potência, que deverá subir para perto dos 290 cv, na versão mais potente.

Isto depois de ter sido equacionada a hipótese de transformar o GTI num híbrido “plug-in”, aproveitando a experiência ganha com o anterior GTE.

A experiência de condução

Talvez a VW tenha concluído o que para mim é óbvio. A experiência de condução de um desportivo não se fica pela aceleração em linha reta, algo em que os elétricos são muito bons.

Num “GTI”, por definição, isso nunca foi o mais importante. O que realmente fascina é o envolvimento da condução, o comportamento em curva, a resposta rápida às ordens do condutor.

A facilidade de controlo, para lá dos limites de aderência, a interação com a transmissão, a escolha da relação certa para a próxima curva, seja numa caixa manual ou numa de dupla embraiagem. É isto que faz a experiência de guiar um “GTI” algo de realmente especial.

E o som. O som do motor a subir de regime, a chegar ao corte, a encher os pulmões e a recuperar empurrado pelo binário. Para isto é preciso um motor a gasolina, nenhuma outra opção proporciona a mesma experiência.

É preciso um escape, uma caixa de velocidades e um peso o mais baixo possível. Nada disto se consegue com uma motorização elétrica. Pelo menos até agora.

Conclusão

Com níveis de produção baixos, face a todas as outras versões, não são certamente os poucos “GTI” que saem das linhas de montagem a comprometer as emissões de cada gama.
Resta saber quanto tempo irá resistir este conceito “GTI” aos avanços da “transferência energética”.

Francisco Mota

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