Chama-se travagem autónoma de emergência e já se generalizou. A partir de 2021 será mesmo obrigatória. Mas fique atento, porque estes sistemas ainda são pouco fiáveis. Saiba em que situações podem falhar.

 

Quando um sistema tem a possibilidade de ser desativado pelo condutor, geralmente é sinal de que não funciona 100% bem em todas as situações.

Talvez já não se lembre, mas alguns dos primeiros carros equipados com ABS, tinham um botão para o desativar, caso o condutor não se sentisse confortável com o seu funcionamento.

A vibração no pedal era tão violenta que assustava o condutor e o levava a aliviar a travagem, em vez de carregar o máximo possível.

O ABS foi sendo apurado e hoje a maioria dos condutores não tem queixas a apontar-lhe. É um dos muitos “anjos da guarda” que os carros mais modernos trazem, ou assistências à condução, como se convencionou chamar.

Travagem autónoma de emergência: o que é?

Um desses sistemas é a travagem autónoma de emergência ou Autonomous Emergency Braking (AEB), que já se pode encontrar em muitos dos modelos novos à venda no mercado.

A Comissão Europeia (CE) decidiu mesmo que vai passar a ser obrigatória em todos os carros novos comercializados a partir de 2021 na Europa.

Segundo um estudo divulgado pelo mesmo organismo, a obrigatoriedade destes sistemas irá diminuir em 7300 o número de mortes em acidentes de viação, entre 2020 e 2030, reduzindo em 39 000 o número de feridos graves, no mesmo período.

A CE garante ainda que a AEB reduz em 38% as batidas por trás, quase sempre originadas por distrações dos condutores.

Numa época em que são raros os condutores que não vão a olhar para o telemóvel enquanto conduzem, até espanta que esse número não seja maior.

Quem já está a esfregar as mãos de contente são as seguradoras, pois 80% de todos os acidentes são precisamente as batidas por trás.

Esta decisão da CE insere-se numa diretiva que vai obrigar a que os automóveis novos vendidos a partir de 2021 tenham obrigatoriamente 11 novos sistemas de assistência à condução. Mas a travagem autónoma de emergência será a que se prevê tenha mais efeitos diretos.

AEB, como funciona?

Mas afinal como funciona a travagem autónoma de emergência? Muito simples: através de radar, lidar ou câmaras de vídeo stereo, a AEB consegue detetar se o carro em frente, está a travar inesperadamente depressa.

Compara essa desaceleração com a velocidade do seu carro e deteta se o condutor está ou não a reagir. Em caso negativo, demora menos de um segundo a despoletar uma travagem de emergência.

Em alguns casos utiliza a capacidade de travagem máxima, atuando portanto o ABS, noutros casos fica um pouco abaixo. Em qualquer caso, o sistema desativa-se se detetar que o condutor está a reagir ao perigo potencial.

Mas isso pode não ser uma boa notícia, pois é sabido que a maioria dos condutores não sabe travar realmente a fundo. Talvez seja uma herança genética da altura em que os carros não tinham ABS e travar completamente a fundo significava bloquear as rodas e perder o controlo do carro.

Os melhores AEB funcionam até aos 60 km/h, conseguindo, na pior das hipóteses, diminuir a severidade do embate, se este for inevitável. Mas conseguem evitar muitos outros acidentes, a velocidades mais baixas. São capazes de detetar e diferenciar entre um carro, um peão ou um ciclista e agir em conformidade.

Volvo estreou AEB em 2009

O primeiro AEB foi lançado em 2009, pela Volvo, numa tentativa de ajudar o condutor, pois é sabido que 90% dos acidentes se devem a erro humano. E não só do condutor.

O AEB evita acidentes em que o condutor vai distraído e não trava a tempo, mas também intervêm quando um ciclista muda de trajetória repentinamente ou quando um peão atravessa a estrada sem cuidado.

Mas então onde está o problema?

A questão é que a AEB ainda não é fiável, falha clamorosamente em muitas situações, avaliando mal a situação que o condutor tem pela frente.

São vários os exemplos de falhas do sistema, que já tive a oportunidade de viver na primeira pessoa, enquanto testava novos modelos. E as falhas continuam a acontecer, em várias marcas.
As principais situações em que fui “vítima” do mal funcionamento da AEB foram as seguintes

Rampas de garagens

Ao subir uma rampa de garagem de inclinação moderada, a muito baixa velocidade, o sistema entra em ação e faz uma travagem a fundo, sem que nada o justifique.

Isto já me aconteceu em vários modelos, mas não é fácil reproduzir a mesma situação, à mesma velocidade, como o mesmo carro. Possivelmente é uma questão de brilho ou reflexos no piso de algumas rampas, que poderá iludir o sistema.

Carros estacionados em cima do passeio, numa curva.

Esta falha é particularmente alarmante, pois acontece a velocidades que podem ser um pouco mais altas, por exemplo a 50 km/h.

Mais uma vez, a AEB avalia mal a situação e interpreta um carro estacionado em cima do passeio, numa curva, como um obstáculo perigoso no meio da estrada e trava a fundo, assustando todos os ocupantes, na melhor das hipóteses.

No pior dos casos, pode mesmo originar um acidente, caso atrás siga um carro a curta distância. Nenhum condutor pode estar à espera que o condutor do carro da frente trave, numa situação destas. Nem consegue reagir a tempo.

Cruzamentos com muito trânsito.

Outra situação em que a AEB pode avaliar mal a situação e travar a fundo numa altura em que não deve, aconteceu-me num cruzamento sem semáforos, a baixa velocidade.

O tráfego intenso faz os carros circularem perto uns dos outros e aconteceu-me avançar para o cruzamento quando um outro veículo estava quase a sair do cruzamento, em ângulo reto.

A AEB do carro que eu guiava travou a fundo bem no meio do cruzamento, imobilizando o carro na pior altura possível. Claramente, o sistema não está calibrado para situações destas.

Tabuleiro da ponte 25 de Abril

A AEB não consegue ler as subtilezas do trânsito, por isso trava muitas vezes em situações em que o condutor já percebeu que o carro da frente está preste a avançar e não será preciso travar.

Há várias situações em que a AEB não funciona bem, uma das mais bizarras foi-me relatada por um amigo que experimentou uma travagem de emergência totalmente extemporânea na ponte 25 de Abril, numa das faixas com piso metálico. Talvez um reflexo ou um brilho tenha enganado o radar. Tudo não passou de um susto, mas um acidente podia facilmente ter acontecido.

Conclusão

Não posso deixar de admitir que a AEB também já me evitou ter que fazer travagens de emergência, antecipando-se e facilitando-me a vida. Calculo que faça o mesmo diariamente a muitos outros condutores, mas a verdade é que o sistema ainda não é totalmente fiável, podendo ter o efeito contrário ao pretendido. É precisa mais evolução, só espero que isso aconteça antes de os construtores serem obrigados a instalar a AEB em todos os carros.

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