BYD Atto 3 (fotos de João Apolinário)

Condução suave e confortável no Atto 3

Motor e tração dianteira proporcionam boas prestações

Desenho conservador da frente

Atto 3 é um crossover do segmento C

Alguma originalidade nas luzes de trás

Faróis com estilo fácil de agradar

Marca com pouco destaque na frente

Pneus de perfil alto ajudam no conforto

Este é o ponta de lança da marca na Europa

BYD faz automóveis desde 2003

Volante com boa pega mas pouca regulação em alcance

Pequeno painel de instrumentos difícil de ler

Desenho original da alavanca da transmissão

Botões da consola pequenos são difíceis de usar

Saídas de ar da climatização

As "cordas de guitarra" nas bolsas das portas

Fechos das portas por cima dos altifalantes

Boa qualidade de materiais e desenho expressivo

Ecrã central pode ser usado na horizontal...

... ou na vertical, carregando num botão elétrico

Bancos macios e confortáveis na frente

Bastante espaço na segunda fila de bancos

Mala com bom acesso e 440 litros de capacidade

Depois de um Primeiro Teste nos Países Baixos, onde está sediada a BYD Auto Europe, agora chegou a vez de testar o Atto 3 em estradas portuguesas e aferir consumos e autonomias. Descubra isso e mais alguma coisa neste Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

 

O Primeiro Teste do BYD Atto 3 nos Países Baixos tinha deixado boas impressões, como pode ler seguindo o link no final deste Teste TARGA 67. Mas sei como um exercício destes, muito limitado no tempo e feito em terreno desconhecido, pode ser incompleto. Por isso, só um teste nas estradas portuguesas, com tempo para fazer tudo, pode dar o veredicto correto.

BYD faz automóveis desde 2003

“Build Your Dreams” é o nome da marca que se identifica como BYD, com origem na China e fundada há 27 anos, inicialmente como fabricante de baterias recarregáveis para eletrónica de consumo. Se teve um telemóvel Nokia nos anos noventa, o mais certo é que tenha andado com uma bateria BYD no bolso.

BYD Auto

O nascimento da BYD Auto, para construção de automóveis, aconteceu em 2003 na altura centrada em veículos comerciais e industriais com motor de combustão para o mercado interno. Mas, cinco anos depois, lançou o seu primeiro veículo elétrico, aproveitando o conhecimento que tinha das baterias.

Este é o ponta de lança da marca na Europa

Nos últimos nove anos, lidera as vendas de veículos eletrificados na China e produz mais carros que a Tesla, somando os 100% elétricos com os PHEV. Só no primeiro semestre de 2023 já entregou 1,25 milhões de BEV e PHEV, no caminho para duplicar os números do ano passado. É aquilo a que se costuma chamar um “gigante” da indústria, que poucos conheciam na Europa.

Agora, a Europa

A BYD tem estado a instalar-se nos vários mercados europeus, com parcerias locais feitas com alguns dos melhores importadores/distribuidores de cada país. Em Portugal, juntou-se à Salvador Caetano e abriu duas lojas, no centro de Lisboa e Porto, com pontos de assistência em Cascais e Gaia.

Atto 3 é um crossover do segmento C

O Atto 3 pertence à mais recente geração de carros elétricos da BYD, utilizando a nova plataforma e-Platform 3.0 com bateria colocada sob o piso. A bateria é fabricada pela própria BYD segundo uma configuração única, com células em lâmina, em vez de cilindro.

Bateria em lâmina e LFP

Segundo a marca, isto facilita a gestão da temperatura, aumenta a segurança em caso de acidente e diminui o espaço ocupado em 50%, além de usar uma química LFP (Fosfato Ferroso de Lítio) mais resistente a incêndios e mais barata. Tem 60,48 kWh de capacidade útil e pesa 420 kg.

Alguma originalidade nas luzes de trás

A autonomia anunciada é de 420 km, para ciclo combinado e de 565 km, para ciclo urbano, ambos segundo o protocolo WLTP. São valores alinhados com os do VW ID.3 com bateria de 58 kWh, apontado pela BYD como o principal rival do Atto 3.

Desenho conservador

O motor elétrico de ímanes permanentes tem 204 cv e 310 Nm, está colocado à frente, transmitindo tração às rodas dianteiras através de uma transmissão de uma velocidade. O desenho do Atto 3 é bastante conservador, sem detalhes demasiado vistosos, feito ao gosto europeu.

Marca com pouco destaque na frente

O perfil é o de um crossover, com suspensão ligeiramente mais alta e maior sensação de altura ao solo do que o ID.3, conseguida com o habitual “truque” dos aros pretos nas cavas das rodas. As luzes de trás têm uma forma original, ligadas por uma linha refletora. A frente tem as iniciais no centro de uma placa de efeito metálico.

Interior original

O interior é bem mais original, a começar pelo grande ecrã central tátil de 15,6” com um motor elétrico que o roda da horizontal para a vertical. Na prática é mais um “gadget” que outra coisa, pois na posição horizontal é mais fácil de usar.

Boa qualidade de materiais e desenho expressivo

As outras originalidades do habitáculo são as saídas de ar da climatização, os fechos das portas por cima dos altifalantes, a forma do punho da alavanca da transmissão e os cabos elásticos que delimitam as bolsas nas portas e se podem dedilhar como numa guitarra, emitindo sons a condizer.

Ecrã na vertical, carregando num botão elétrico

Tanto no ecrã central como no pequeno painel de instrumentos atrás do volante, o tipo de letra usado é pequeno e difícil de ler. Os botões da consola central também são pequenos e não estão bem colocados. A ergonomia pode melhorar.

Boa qualidade

O tablier tem formas ondulantes e arredondadas que se repetem nas portas, a qualidade dos materiais está ligeiramente acima da média do segmento, com muitas zonas de tato suave.

Bancos macios e confortáveis na frente

A posição de condução usufrui de bancos macios e confortáveis, com apoio lateral suficiente. O condutor vai relativamente alto, devido à bateria e o volante não tem regulação em alcance suficiente. No banco de trás, há espaço em comprimento, altura e largura para dois passageiros.

Bastante espaço na segunda fila de bancos

O piso é plano e o lugar do meio nem sequer é demasiado estreito. A mala tem 440 litros de capacidade, um bom valor para o segmento, tendo em conta que o comprimento total do Atto 3 é de 4,455 metros.

Muito suave em cidade

Há três modos de condução à escolha: Eco/Normal/Sport e depois ainda é possível regular a assistência da direção em separado em dois níveis. A intensidade da regeneração também se pode ajustar em dois níveis. Em ambos os casos, as diferenças não são muitas.

BYD Atto 3 (fotos de João Apolinário)

Suavidade é a palavra que vem à mente assim que se arranca pela primeira vez. Em modo Eco, conduzindo em cidade, o binário entregue às rodas da frente não é exagerado e o acelerador permite um doseamento fácil.

O mesmo se pode dizer do pedal de travão, que acaba a ser usado com maior frequência que o habitual em muitos carros elétricos, porque a intensidade da regeneração é baixa.

Fácil de guiar

A direção é leve mas não em excesso e consegue transmitir algum tato da estrada. O raio de viragem é curto, o que facilita as manobras, ao contrário da visibilidade para trás, ficando muito dependente das câmaras, que têm boa qualidade.

Condução suave e confortável no Atto 3

A suspensão e os pneus de medida 235/50 R18, com bastante altura, proporcionam um nível de conforto acima da média neste segmento. Só pisos muito partidos incomodam a suspensão McPherson, à frente e independente, atrás. O Atto 3 é fácil e confortável de guiar em cidade, sem pedir grande adaptação.

Bons consumos

No meu habitual teste de consumos em cidade, em modo Eco, com a regeneração no máximo e com o A/C desligado, obtive um valor de 14,1 kWh/100 km. Fazendo as contas à capacidade útil da bateria de 60,48 kWh, calcula-se uma autonomia real em cidade de 429 km.

Em autoestrada, a 120 km/h estabilizados, o consumo subiu aos 19,8 kWh/100 km, correspondendo a uma autonomia real em autoestrada de 305 km.

Pequeno painel de instrumentos difícil de ler

Tal como em cidade, a condução em autoestrada é muito suave e com poucos ruídos de rolamento, mas ouvem-se silvos aerodinâmicos. Os sistemas de assistência à condução não são demasiado intrusivos e a suspensão controla bem os movimentos parasitas da carroçaria.

Comportamento em curva

Passando ao modo Sport, ganha-se um pouco mais de sensibilidade no acelerador e a direção fica um pouco menos assistida, mas as diferenças são pequenas. A sensibilidade do travão também aumenta, ficando com um ataque inicial mais decidido.

Motor e tração dianteira proporcionam boas prestações

A atitude em curva começa por ser neutra, com muita aderência, mas com mais inclinação lateral do que se poderia esperar, tendo em conta que o Centro de Gravidade é baixo. Efeito dos pneus de perfil alto e do peso que chega aos 1750 kg.

O motor mostra força suficiente e mantém-se mesmo quando a velocidade sobe, a máxima é de 160 km/h. Mas nas travagens nota-se que a retenção é baixa, seria melhor ter mais para ajudar os travões.

Competente sem entusiasmar

Não é preciso exagerar muito na entrada em curva para a subviragem aparecer e levar o controlo de estabilidade a intervenções bruscas. Está a precisar de uma afinação mais subtil.

Pneus de perfil alto ajudam no conforto

Mas é possível fazer rodar um pouco a traseira na entrada em curva, com uma travagem tardia. As saídas de curvas fechadas a pleno acelerador podem levar o controlo de tração a ser chamado. O Atto 3 não é entusiasmante de guiar em estrada secundária, mas cumpre bem as necessidades de um carro deste tipo.

Conclusão

Com o Atto 3 a BYD mostra que sabe aquilo de que os consumidores europeus de familiares compactos elétricos gostam. As críticas são poucas e os méritos são muitos. E para quem estava à espera que a compra de um Atto 3 fosse um “negócio da China” vai ficar desapontado. A BYD diz que não quer ser a marca mais barata, mas a mais tecnológica.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

BYD Atto 3

Potência: 204 cv

Preço:  43 490 euros

Veredicto: 4 (0 a 5)

Ler também, seguindo o Link:

Primeiro Teste – BYD Atto 3: Elétrico chinês está à altura?