14/02/2020: Elon Musk, o líder da Tesla, disse que os carros de motor a gasolina ou Diesel vão desvalorizar imenso. Mas o comércio de “segunda-mão” desses carros não pára de crescer. Em que ficamos?…

 

A “fábrica de notícias” da Tesla deitou cá para fora mais uma profecia catastrófica, pela boca do seu carismático líder: que os carros usados com motor a gasolina ou Diesel vão desvalorizar imenso dentro de pouco tempo.

É conhecida a estratégia de marketing de várias marcas, que produzem conteúdos “noticiosos” a um ritmo quase diário. Não interessa muito o que dizem, o importante é estar presente na comunicação social e nas redes sociais.

Mas nenhum construtor faz o trabalho tão bem feito como a Tesla. A maioria das suas “notícias” (a única publicidade que fazem) gera discussão e análise dando imensa visibilidade à marca e à sua causa. Mesmo quando a situação da empresa não é das melhores, batendo recordes de prejuízos a cada ano que passa.

O que ele disse, desta vez?

Desta vez, Elon Musk disse que os carros com motor térmico vão desvalorizar imenso, o que seria de esperar de uma marca que só vende carros elétricos.

O raciocínio é que a procura e a ambição de ter um carro elétrico vai tornar os outros indesejados e desvalorizados. Mas será isso que está mesmo a acontecer?…

A venda de veículos novos na Europa está a descer há alguns meses, o que começa a preocupar os construtores. Mas não é porque os compradores se estão a virar para os carros elétricos. Pelo contrário.

Usados a crescer

O mercado ainda não tem uma oferta de carros elétricos suficientemente acessíveis para que o comprador privado, ou mesmo as empresas, possa considerar essa uma opção rentável.

Por mais que alguns construtores digam que o custo total de utilização de alguns elétricos se aproxima ao de alguns modelos térmicos.

O segmento de mercado que está a crescer a olhos vistos é o dos carros usados. Quem quer gastar o mínimo possível num automóvel, prefere comprar um carro usado maior, que um novo, mais pequeno.

A procura de bons carros usados nunca foi tão alta como agora, porque os novos estão a subir de preço, em parte empurrados pelos impostos incidentes sobre as emissões.

Voltaram os importados

Ao mesmo tempo, o poder de compra desce e o entusiasmo dos compradores mais novos pela posse de um automóvel “novo a estrear” nunca foi tão baixa.

Em mercados pequenos como o português, renasceu o negócio da importação de carros usados, por dois motivos.

Por um lado, a oferta de usados nacionais não é suficiente para a procura, nem em volume, nem em variedade. Os importados usados são quase todos dos segmentos C e D, com motores Diesel e desses, não foram vendidos muitos, quando novos.

Por outro lado, o preço dos usados nacionais é superior ao dos usados importados. Porque foram comprados mais caros e terem menos quilómetros.

Parque a envelhecer? Não é só em Portugal

Mas não é só em Portugal que os usados estão a ter cada vez mais procura. Noutros países europeus passa-se o mesmo, por exemplo em vários países de Leste, mas também em Espanha e mesmo em França.

O envelhecimento do parque automóvel é um sinal claro da vitalidade do negócio dos usados. E também da fiabilidade da maioria dos automóveis, que conseguem continuar a servir, mesmo após vinte anos de utilização.

A questão da qualidade, que os construtores tornaram numa bandeira desde há trinta anos, mantém vivos automóveis com muitos anos e muitos quilómetros.

Em Portugal, a idade média do parque rolante é de 12,7 anos, mas mesmo em França, país produtor de automóveis de grande volume, a idade do parque rolante chega aos 10,6 anos.

Usados a… valorizar

Com todas estas condicionantes, a tendência atual é a subida de valor dos carros usados térmicos em bom estado e com menos quilómetros. Em vez de desvalorizarem, estão na realidade a valorizar.

Os compradores procuram carros usados e pagam por eles mais do que pagariam noutra situação, em que o mercado dos novos estivesse com maior dinâmica.

Pelo contrário, parece serem os (poucos) elétricos à venda como usados que se estão a desvalorizar mais. Um exemplo: no Reino Unido, já se vendem Nissan Leaf de 2011 por £4 000.

Conclusão

Não penso que estejamos a caminhar para um cenário pós-apocalíptico, em que se procura desesperadamente pelos últimos carros “fósseis”, como os fanáticos dos elétricos lhe chamam. Mas, nos tempos mais próximos, a maior ameaça à venda dos automóveis novos continuará a vir dos usados e não dos elétricos.

Francisco Mota

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