Loeb teve que "limpar" o pó da estrada

Sébastien Loeb - nove vezes campeão WRC

Loeb confessa que ainda prefere os ralis

Durante os reconhecimentos do rali de Portugal

Portugal foi a estreia dos Rally1 híbridos na terra

Os híbridos com mais de 500 cv colocam novos desafios

Os dois Seb na companhia de Walter Röhrl

O Ford Puma Hybrid Rally1 precisa de evoluir na terra

À partida, as expetativas não eram as melhores

Loeb cometeu "o pior erro da minha carreira nos ralis"

Sébastien Loeb com a navegadora Isabelle Galmiche

A aerodinâmica dos Rally1 foi simplificada

A luta entre Loeb e Ogier no rali de Monte Carlo teve 1-0 como resultado. No rali de Portugal as coisas correram mal e terminaram num 0-0. Mas os próximos encontros prometem mais emoção. Loeb falou-me disso e da sua paixão pelos ralis, que continua intacta aos 48 anos.

 

Loeb contra Ogier: os dois pilotos com maior palmarés no WRC, o primeiro com nove títulos e e o segundo com oito, estão semi-retirados do campeonato mas continuam a ser os cabeças de cartaz em todas as provas em que alinham.

Tudo começou no primeiro rali do ano, o famoso Monte Carlo, onde a luta entre os dois pilotos franceses foi até ao último metro. Ogier liderava no início do último dia, mas teve um furo e perdeu a vitória para Loeb.

Loeb e Ogier voltaram a encontrar-se no Rali de Portugal, depois de terem faltado a dois ralis, enquanto se dedicavam a outras modalidades: DTM e Extreme E, para Loeb e WEC, para Ogier.

A estreia na terra

Estiveram em Portugal porque era a estreia dos novos carros híbridos em pisos de terra e as respetivas equipas precisam da sua experiência e do seu feedback para evoluir os carros mais depressa.

Mas nenhum deles escondeu que também tinha curiosidade de saber como seria guiar os novos carros híbridos, com mais de 500 cv combinados, em pisos de terra.

O rali acabou por não sorrir a nenhum dos Sébastien. Um erro de condução, quando liderava a prova, pôs Loeb de fora no primeiro dia. Ogier teve furos e depois um problema de motor acabou com a prova de Loeb, enquanto um despiste fez o mesmo a Ogier. Depois do 1-0, no Monte Carlo, o encontro de Portugal saldou-se por um 0-0.

O Puma está a subvirar

Durante o rali de Portugal tive oportunidade de entrevistar Sébastien Loeb, que se mostrou mais descontraído e acessível do que noutras vezes em que falei com ele. Depois do “shakedown” e antes do rali começar na super-especial de Coimbra, dizia que “esta manhã (no shakedow) lutei com o carro, tinha um pouco de subviragem. Não estive completamente contente com o equilíbrio do carro. Vamos tentar melhorar agora (antes do rali).”

“Há muito tempo que não faço um rali de terra e vou ser o quarto a sair para a estrada. Não vai ser fácil…”

E fazia assim o balanço da preparação para o nosso rali: ”Não tive muito tempo para testar na terra, só um dia, não é muito. Mas vamos tentar resolver isto.”

Quanto ao rali em si, a experiência de décadas atrás do volante determinava uma postura cautelosa:  “Vai ser um rali difícil para mim, há muito tempo que não faço um rali de terra e vou ser o quarto a partir, vai ser difícil com a limpeza da estrada. Não vai ser fácil, comparando com outros como o Ogier, que sai em novo para a estrada, muito mais atrás.”

Um duplo desastre

Loeb ou Ogier? À partida, o piloto do Ford Puma não arriscada o favoritismo: “Não sei. O Ogier tem mais ritmo do que eu e parte de uma posição mais favorável para o primeiro dia. Veremos, eu não arrisco nenhuma aposta.”

Nos primeiros troços foi realmente cauteloso mas depois passou para a liderança no troço de Arganil e todos os sonhos eram possíveis, apesar de ter dito no início que “Honestamente não creio que consiga lutar com os da frente, devido à minha ordem de partida para o primeiro dia.”

Mas depois veio aquilo a que chamou “o maior erro da minha vida, nos ralis.” Uma saída de traseira atirou o Puma contra um separador de cimento e arrancou-lhe uma roda. Era o fim do rali, pelo menos de forma competitiva.

Será que combinaram?

Ao abrigo de uma lei que permite aos pilotos que desistem num dia, voltarem no outro, mas com tanta penalização que não têm hipótese de recuperar, Loeb e o Puma voltaram à estrada, para alegria dos espetadores… e dos patrocinadores.

Mas foi sol de pouca dura. Um problema de motor fez parar o Puma definitivamente, com falta de potência e nem sequer parecia ter nada a ver com o novo sistema híbrido.

“Não, não combinámos nada. Ambos decidimos fazer o rali de Portugal, só isso.”

Mas ainda restam muitos ralis até ao final do ano. Será que Loeb combinou com Ogier em quais os dois vão voltar a correr? Para aumentar a popularidade da modalidade, seria ótimo…

Loeb diz que “não, não combinámos nada (risos). Ambos decidimos fazer o rali de Portugal, só isso, mas não há nenhum plano.” E afirmou que ainda não escolheu que ralis irá fazer.

Mais três ralis até final do ano

Mas o seu atual patrão no WRC, Malcolm Wilson, disse-me que a ideia era fazer cinco ralis durante o ano, portanto mais três. A escolha está complicada, sobretudo depois de a equipa onde Loeb correu o Dakar ter decidido fazer todo o campeonato de rally-raid.

Além disso, Loeb tem uma agenda realmente repleta, com participações no campeonato Extreme E para TT elétricos e participações esporádicas como a no DTM em Portimão, pouco antes do rali de Portugal: “pois é! Tenho que comprar uma casa em Portugal” brincava.

E como são os novos WRC Rally1?

Quanto às diferenças entre os carros de 380 cv do ano passado e os híbridos de 500 cv deste ano, Loeb comparava-os dizendo que “em asfalto temos a potência do sistema híbrido, que ajuda muito. Mas nesta superfície (terra) lutamos mais para usar a potência híbrida, porque precisamos da velocidade para ter tração.”

“As mudanças também são mais complicada de meter com a alavanca em vez da patilha no volante”

Segundo Loeb, a questão é que “nas curvas lentas lutamos mais para ter tração, pois só temos cinco velocidades, as relações são mais longas e torna-se mais complicado usar o motor. E as mudanças também são mais complicadas de meter com a alavanca em vez da patilha no volante (que foi proibida).”

“Nos troços lentos, o Puma não é tão bom como o carro do ano passado. Veremos, ao longo do ano, com os vários ralis e a evolução se consegue ser mais rápido ou não. Mas, no momento, o feeling é mais complicado.”

O que melhorar?

E quais são as áreas em que o Puma tem que melhorar, face aos rivais? “As diferenças não são muitas. A maior é a afinação, tenho subviragem, estou a lutar nas curvas. Também com o motor, estou a lutar para ter a potência e a tração que preciso.”

Continuando: “em Monte Carlo eu gostei. Mas aqui, eu penso que está OK, mas a afinação entre asfalto e terra é totalmente diferente e precisamos de melhorar.”

“Ter Loeb na equipa é um luxo”, dizia-me Malcolm Wilson mais tarde, acrescentando uma nota curiosa: “quando ele vem fazer um rali, os outros pilotos ficam mais descontraídos, sentem menos pressão e acabam por fazer melhores provas.”

Loeb e os novatos

Mas qual o grau de motivação para Loeb continuar a fazer ralis ao mais alto nível? A resposta não podia ser mais clara: “claro que ainda gosto de ralis! As sensações nos ralis ainda são aquilo que eu mais aprecio. Mas o Dakar também é algo de muito excitante, é outro tipo de corridas, é mais uma espécie de aventura.”

E como é a relação com os pilotos mais novos? Dá-lhes conselhos e ajuda-os a ser melhores pilotos de ralis? “Não faço isso muito com os jovens pilotos, aqui no WRC. Eles estão todos muito bem preparados. É claro que partilhamos informação e se houver alguma pergunta, tento dar resposta. Mas também aprendo muito com eles, são de outra geração e é sempre interessante partilhar ideias.”

Conclusão

Para terminar, Loeb reafirmou a razão de continuar a fazer ralis ao fim de tantos anos e já com a sua idade. No fundo, é aquilo que se lhe vê nos olhos: “Ainda me divirto e ainda tenho vontade de ganhar, quando me sento no carro. É tão simples como isso.”

Atualização: Entretanto, foi anunciado oficialmente que Sébastien Loeb volta ao WRC para disputar o rali Safari. Aposto que o anúncio de Ogier não vai tardar…

Francisco Mota

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