Maserati Levante V6

Rei Neptuno e o seu tridente em Bolonha

Silo de estacionamento, logo à entrada de Veneza

Lá como cá, os lugares não são feitos à medida dos carros atuais

Veneza é melhor do que aquilo que lhe contaram

Praça de São Marcos, sem 007 à vista

O princípio da árvore de cames, por Da Vinci

O Levante à porta dos "primos"

As Mille Miglia a chegar a Modena

A torre de Pisa está aberta a visitas limitadas

Consumos foram uma boa surpresa

Ponte Vecchio, o ícone de Florença

Muito boa posição de condução

Painel de instrumentos clássico

Pouco usadas nesta viagem, o modo D fez bem o seu papel

Navegação TomTom funcionou muito bem

Comandos dos modos de condução e da suspensão

Bancos confortáveis e com bom apoio lateral

Bom espaço na segunda fila

Cidade de Ferrara vista do topo

Castelo da família Este em Ferrara

Um casamento em Ferrara com um Fiat 124 Spider à espera dos noivos

Dinâmica desportiva no Levante

Condução do Levante é sempre envolvente

SUV-Coupé com proporções únicas

Ares S1 Biposto, para a despedida no aeroporto de Bolonha

18/8/2023. O plano era conhecer alguns dos sítios mais emblemáticos de Itália, a bordo de um carro “made in Italy”. A escolha foi o Maserati Levante, talvez o mais adaptado a esta missão. Um teste diferente no TARGA 67. Se tenciona fazer algo parecido, aqui fica a experiência do Francisco Mota e família.

 

Uma volta por Itália, para ficar a conhecer alguns dos locais mais emblemáticos do país, aproveitar a paisagem e a famosa culinária local pode ser perfeitamente feita de comboio. Mas, no TARGA 67, a paixão pelos automóveis quase proíbe essa opção.

Dinâmica sempre envolvente

Era preciso escolher um carro para esta missão. Um carro com espaço para tudo e para todos, um carro que representasse a produção italiana de automóveis, um verdadeiro “made in Italy” e, se possível, um carro que acrescentasse à viagem mais um ponto de interesse.

Quando em Bolonha…

A escolha de um Maserati parecia ser a que fazia mais sentido, tendo em conta que a marca tem sede na região de Itália que seria a base da viagem, Bolonha. Reunia também as melhores opções, tendo em conta a sua gama de SUV. Um MC20 seria uma opção mais divertida, sem dúvida, mas inviável para um plano que incluía a família.

Bancos confortáveis e com bom apoio lateral

A melhor escolha só podia ser o Levante. No caso, a motorização intermédia, movida por um motor V6 biturbo de 430 cv.

Estilo intemporal?

O Levante tem um daqueles desenhos que resiste bem ao passar dos anos, desde que foi apresentado em 2016. Mantém uma elegância muito própria, com as suas proporções de capót longo e cabine recuada, quase como um dos grandes GT do ilustre passado (e futuro) da marca.

A frente com grelha de frisos verticais, com o grande tridente ao centro, não deixa margem para dúvidas sobre a marca. A cor cinzenta e as jantes de liga leve de 20 polegadas dão-lhe um visual ao mesmo tempo desportivo e discreto. A verdade é que o Levante chama pouco as atenções, no cenário automobilístico italiano de hoje. E isso é bem-vindo, numa viagem como esta.

Ambiente clássico

Por dentro, o Levante tem muito espaço nos seus cinco lugares, mesmo se o formato do banco da segunda fila dá prioridade a dois passageiros. O ambiente é uma mistura entre o classicismo e a modernidade, conferindo uma sensação de robustez que nem sempre foi uma bandeira dos carros italianos.

Muito boa posição de condução

Depois de aterrar em Bolonha, num voo direto de Lisboa, o Levante esperava para alguns dias de condução nas estradas italianas. O motor V6 biturbo entra em funcionamento com a teatralidade dos quatro escapes a emitir um troar entusiástico, que baixa de volume passados alguns segundos de “aquecimento”.

Rei Neptuno

A primeira etapa não podia deixar de ser rumar ao centro de Bolonha para visitar a Piazza Maggiore e prestar homenagem ao Rei Neptuno e ao seu arpão com cabeça de tridente, símbolo que inspirou o emblema da Maserati.

Rei Neptuno e o seu tridente em Bolonha

Infelizmente, mas sem surpresa, não é possível estacionar o Levante ao lado da estátua, para uma foto emblemática, pelo menos sem os conhecimentos e as autorizações necessárias. Aliás, estacionar no centro da cidade é, por si só, uma aventura. O melhor mesmo é usar uma aplicação de smartphone para encontrar um parque e continuar a pé.

Lasanha bolonhesa, claro!

Foi uma oportunidade para sentir um pouco do pulsar da cidade, sobretudo do seu centro histórico, com as duas torres inclinadas, uma delas com 4,0 graus de inclinação, mais do que a torre de Pisa. Turistas é o que não falta nesta altura do ano, mas parece haver espaço para todos nas ruas e praças centenárias.

Encontrar um pequeno restaurante, um pouco desviado do centro, com um magnífico terraço interior foi obra do acaso, por isso a inevitável lasanha bolonhesa soube ainda melhor.

Donos da faixa da direita

Para o segundo dia, o plano era visitar Veneza e os seus canais. Foi a primeira oportunidade de levar o Levante para estrada, neste caso para a “autostrada”, num percurso com uma distância de 150 km, quase sempre em terreno plano. A viagem demorou 1h40, sempre com o Levante em modo I.C.E. (Increased Control and Efficiency) que é o mais económico.

Comandos dos modos de condução e da suspensão

O trânsito das autoestradas italianas é dominado pelos camiões, donos da faixa da direita, onde circulam a 90 km/h constantes, ou um pouco mais. E não hesitam em buzinar, se encontram um intruso pela frente, que lhes possa estragar a média.

Sem vontade de arriscar uma multa por excesso de velocidade, apesar de o eficiente sistema TomTom de navegação do Levante avisar da localização dos radares fixos, tive muita atenção em cumprir todos os limites. Mesmo nas zonas de obras, onde descem para valores demasiado baixos, tal como em Portugal.

Navegação TomTom funcionou muito bem

Nesses troços em obras, pareceu-me que o único carro que tentava cumprir os limites era mesmo o “meu” Maserati. Os camiões cresciam, ameaçadores, nos meus retrovisores, obrigando-me a andar para a frente e não os estorvar. Mas os 264 km/h anunciados pela Maserati como velocidade máxima, ficam para outra altura.

Consumo baixo

Mesmo no modo económico, o Levante tem sempre uma enorme reserva de potência debaixo do pé direito. Mas o pedal não é nada nervoso, fazendo subir o regime de forma tranquila, se for essa a vontade do condutor. Os ruídos aerodinâmicos não são muito, nem os de rolamento.

Consumos foram uma boa surpresa

Ao fim desta primeira viagem, a surpresa vinha do computador de bordo, que indicava um consumo de 7,6 l/100 km. Apesar dos cinco metros de comprimento, dos 2109 kg e do motor potente, ficou provado que é possível usar este Levante sem gastar muita gasolina.

Veneza é para voltar

Em Veneza, a prioridade foi escolher um dos vários silos de estacionamento, para os quais a estrada de acesso encaminha diretamente. Dentro da cidade, um automóvel não serve de muito…

Veneza é melhor do que aquilo que lhe contaram

Sem querer fazer de guia turístico, que não é a minha especialidade, o que posso dizer da experiência em Veneza é que superou as expetativas. Além do inevitável passeio de gondola, cobrado a 80 euros por cada meia hora, as ruelas, com pequenos prédios coloridos, intercalados com igrejas de todos os tamanhos, oferecem um passeio a pé muito pitoresco até se chegar à praça de São Marcos.

007 e Da Vinci

A praça, cenário de vários filmes, entre os quais três da série James Bond-007, é um local 100% turístico, com imensa gente. Muitas e grandes filas para visitar os monumentos e pouco sítio onde ficar para apreciar o cais. É passagem obrigatória, mas o passeio de ir e voltar é bem mais interessante.

Praça de São Marcos, sem 007 à vista

Mesmo na reduzida área de Veneza, igrejas não faltam, algumas até são usadas para exposições, talvez por haver mais templos do que fiéis. A visita a uma delas serviu para ver as máquinas de Leonardo Da Vinci, com modelos didáticos em madeira, onde se podia perceber alguns dos princípios usados muito mais tarde nos automóveis, por exemplo as árvores de cames.

O princípio da árvore de cames, por Da Vinci

No fim do dia, a máquina de pagamento do parque levou-me 35 euros, a tarifa diária. Quer se deixe lá o carro durante uma hora ou 23h59 minutos, o valor é o mesmo.

Maranello, tinha que ser

A terceira etapa desta viagem era a mais fácil, em termos de deslocação. Uma ida da base em Bolonha para Maranello e Modena, pouco mais de 45 km, feitos em parte por estradas rurais estreitas mas que serviram para encher os olhos com as paisagem desta região da Emilia Romagna.

O Levante à porta dos “primos”

E também experimentar um pouco do comportamento dinâmico ágil e rápido do Levante, com uma aceleração 0-100 km/h anunciada em 5,2 segundos muito rápido de verificar, como é lógico.

O destino do dia era óbvio: uma visita ao museu da Ferrari em Maranello. O edifício, junto à fábrica, foi remodelado há alguns anos e tem um aspeto convidativo. A exposição em si deixa algo a desejar, mas voltarei a este assunto noutro post dedicado a esta visita.

Mille Miglia por acaso

A seguir, uma passagem por Modena, onde, por incrível coincidência, estava a chegar uma etapa das Mille Miglia, uma competição de estrada que já foi a mais famosa corrida de Itália e que hoje se disputa em regularidade com carros clássicos.

No início da caravana chegou um grupo de 150 Ferrari de todos os tipos e anos. Um bónus, depois da visita ao museu.

Condução do Levante é sempre envolvente

O programa do quarto dia era o mais ambicioso, com uma viagem de 177 km e 2h00 para Sul, com destino a Pisa e depois um desvio por Florença, no regresso.

Túneis atrás de túneis

A “autostrada” tem muito mais subidas, descidas e túneis atrás de túneis, onde o V6 fez ouvir a sua melodia. Claro que o consumo subiu um pouco, chegando aos 8,9 l/100 km, mas as descidas compensavam as subidas, levando a caixa automática a engrenar a mudança mais alta e deixar o Levante deslizar, muitas vezes sem necessidade de usar o acelerador.

A torre de Pisa está aberta a visitas limitadas

Pisa é uma localidade pequena com os principais monumentos centralizados numa mesma praça. As visitas à torre são possíveis, existindo uma bilheteira onde se pode comprar entradas, com hora marcada e lotação limitada. Por fora, continua a ser tão enigmática como sempre. Alvo contínuo das câmaras dos smartphones, cada turista tenta uma composição mais imaginativa do que o do lado.

Tato desportivo

Almoço rápido numa das inúmeras esplanadas das ruas que levam à praça e de volta ao parque de estacionamento a poucos passos da torre e com tarifas perfeitamente normais. Rumo a Florença em busca de mais um ponto icónico de Itália.

Mais 90 quilómetros e 1h20 em “autostrada”, desta vez com piso em pior estado, serviram para mostrar que a suspensão deste Levante, apesar do princípio SkyHook, das molas pneumáticas com regulação de altura ao solo e dos amortecedores adaptativos, não tem no conforto a sua prioridade absoluta.

Bom espaço na segunda fila

Em nenhuma altura a suspensão transmitiu pancadas ao habitáculo, mas o amortecimento é firme o que leva a que os passageiros sejam um pouco sacudidos, quando o piso não é perfeito. Manter os movimentos de carroçaria bem controlados e proporcionar uma dinâmica com algumas características desportivas, fez parte do caderno de encargos.

Florença a pé

Em Florença, o parque subterrâneo da estação central de comboios foi a solução para deixar o Levante em segurança, e seguir a pé pelas fantásticas ruas pedonais do centro histórico, com um ambiente que faz imaginar como seria a vida por aqui há vários séculos.

Ponte Vecchio, o ícone de Florença

Claro que o ponto turístico a não perder é a Ponte Vecchio, com as suas habitações e lojas especializadas em ourivesaria. É um local inesperado, para quem nunca por lá passou, sendo a ponte de pedra mais antiga da Europa, feita em 1345.

Foi o dia mais cansativo da viagem, mas o plano de visitar dois locais, fez poupar uma segunda viagem de ida e volta desde Bolonha. O regresso à base demorou 1h30, para fazer 120 km. E deixou um dia livre, em relação ao plano inicial.

Ferrara inesperada

Para ocupar esse dia, o destino foi Ferrara, uma cidade que se revelou tão ou mais interessante do que Florença e com muito menos turistas. Foi até possível visitar o castelo dos Este no centro histórico, com direito a ponte levadiça, fosso com água e tudo. Lá dentro, entre as claustrofóbicas prisões na cave e a torre com uma vista magnífica, foi ainda possível admirar várias obras de arte.

Castelos da família Este em Ferrara

À saída, nem faltou o típico casamento à italiana, com um Fiat 124 Spider vermelho a servir da carro da noiva, devidamente decorado para o efeito. Mais italiano do que isto, era impossível.

Grand Finale

Como boa família portuguesa, o último dia não podia deixar de terminar com um jantar num bom restaurante. No balanço final, ficou a certeza de que esta zona de Itália tem muito para ver e que esta viagem acabou por ser apenas uma introdução ao assunto

Um casamento em Ferrara com um Fiat 124 Spider à espera dos noivos

O plano de montar uma base de pernoita mais ou menos no centro da área a explorar e depois dedicar cada dia a uma localidade, pareceu o mais confortável quando o dia chegava ao fim e se voltava “a casa”.

Não paga “classe 2”

Fora a parte dos camiões, o trânsito em Itália não é tão caótico como alguns pensam. Grande parte dos italianos tem muita experiência de condução e sabe o que está a fazer.

SUV-Coupé com proporções únicas

Para quem se deslocou num SUV com as dimensões do Levante, ficou ainda a boa notícia de não haver classe 2 para pagar nas autoestradas. A portagem mais cara custou 14 euros.

Conclusão

Quanto ao Maserati, demonstrou, ao longo de quase mil quilómetros, todas as suas capacidades como estradista familiar. Um SUV com ascendência de coupé, com imensa personalidade e de que se gosta cada vez mais, à medida que os dias passam. Os baixos consumos foram um bónus inesperado, bem como a autonomia do depósito de 80 litros. Mas é verdade que raramente o V6 foi explorado como merecia. Desta vez, as prioridades foram outras.

Francisco Mota

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Teste – Maserati Levante Hybrid: “Mild hybrid” para começar