7/7/2023. Carlos Tavares, o CEO da Stellantis que agrega 14 marcas de automóveis, acusa os políticos de estarem a dar todas as mordomias à Tesla e a construtores chineses que estão a chegar à Europa e de não apoiarem as marcas europeias. Os políticos responderam e o diálogo veio mostrar algumas verdades. Saiba tudo em mais uma Crónica à 6ª feira, assinada por Francisco Mota no blog TARGA 67.

 

O português Carlos Tavares, CEO do grupo Stellantis que detém 14 marcas de automóveis nascidas em França, Itália, Alemanha e Estados Unidos, tem vindo a alertar a classe política europeia para os perigos da “invasão chinesa” no mercado automóvel europeu.

Desde há mais de um ano que Tavares aponta para a chegada à Europa de grandes marcas chinesas, com a BYD à cabeça, como uma ameaça às marcas de raiz europeia. E a sua preocupação não está na comparação entre a competitividade entre uns e outros.

A sua preocupação está na desigualdade de tratamento entre as marcas chinesas que querem operar na Europa e as marcas Europeias que querem operar na China, em termos fiscais e também em termos de modelo de negócio. Na China, é totalmente rígido e obriga sempre a uma participação de uma empresa pública local em qualquer negócio.

Tratamento desigual

Mas as preocupações de Tavares alargam-se agora ao tratamento que a classe política está a dar também à Tesla, na sua busca por uma expansão da sua atividade na Europa, que o português considera ser desproporcionado em relação ao que a Tesla fez no passado e ao que se propõe fazer.

Tavares afirma que a Tesla, e as marcas chinesas, estão a ter um tratamento preferencial da parte, nomeadamente, do governo francês, face às marcas mais tradicionais como as da Stellantis, com as “suas” Peugeot e Citroën à frente.

Quem tem assegurado o emprego?

O português lembra que as marcas europeias têm contribuído muito mais para a criação de emprego, ao longo dos anos, do que qualquer marca nova o fez, ou poderá fazer no futuro próximo.

No entanto, o governo francês, e outros de forma menos visível, estão a fazer uma espécie de leilão, para ver quem oferece à Tesla as melhores condições para instalar as novas fábricas de que a marca americana precisa para expandir a sua atividade na Europa.

Na época de transição energética, imposta pela classe política e que está a obrigar a grandes investimentos da parte de todas as marcas que trabalham há décadas na Europa, Tavares pensa que os políticos deviam dar mais atenção e mais ajudas a quem tem garantido o emprego no setor e gerado riqueza.

Governo francês quer mais

O ministro das finanças francês, Bruno Le Maire, tem sido um dos mais entusiastas no apoio à Tesla, chegando ao ponto de publicar selfies ao lado da “estrela” Elon Musk nas redes sociais. O próprio presidente de França, Emmanuel Macron, recebeu Elon Musk no Palácio do Eliseu quase com honras de chefe de Estado, o que não terá caído bem a Tavares.

Le Maire reagiu às declarações de Tavares, dizendo que a Stellantis devia mostrar algum “patriotismo económico” e começar a fabricar um carro pequeno elétrico em França, a exemplo do que faz a Renault com o Zoe, produzido na fábrica de Flins desde 2012.

Tavares contra-ataca

Tavares deu a contra-resposta, dizendo que esse risco devia ser pedido a quem vai receber ajudas para construir novas fábricas na Europa, numa referência direta à Tesla e também à BYD.

Não deixa de ser verdade que a Stelantis fabrica toda a gama 208 fora de França – na Eslováquia e em Marrocos – e vai fabricar os recentemente anunciados Fiat 600e na Polónia e o Fiat Topolino em Marrocos, devido ao inferior custo da mão de obra.

Até o ministro da indústria italiano, Adolfo Urso, já se queixou publicamente que a Stellantis não está a fabricar carros em número suficiente em Itália.

Mas também é verdade que a Peugeot vai iniciar a produção das versões elétricas do 308 e 408 em França. Só que Le Maire insiste que o e-208 devia ser também fabricado em França, o que não deverá acontecer a curto prazo, com Espanha a ser uma hipótese mais provável, devido a menores impostos, mão de obra e energia mais baratas.

Conclusão

Tavares é o CEO de uma empresa internacional, o seu papel é criar as condições para o bom funcionamento da Stellantis. Isso significa encontrar a maneira de aumentar os lucros e promover a expansão. Como isto se compagina com o aumento da produção em território francês, só o diálogo com a classe política poderá dar uma resposta.

Francisco Mota

Ler também, seguindo o link:

Primeiro Teste – Peugeot 508 SW Plug-in 180: Mudou para melhor