Uma conferência que vai ficar para a história

Carlos Tavares, o CEO da Stellantis afirma que não é "one man show"

Após seis meses da sua formação, a Stellantis apresenta um mega-plano

A Stellantis alberga 14 marcas diferentes

A Opel anunciou o regresso do Manta numa versão elétrica

A Stellantis vai fabricar três motores elétricos diferentes

STLA Frame a plataforma para pick-up e grandes SUV

Plataforma STLA Large para carros grandes

9/7/2021. Depois de ter sido uma das vozes mais críticas da transição para os carros elétricos, Carlos Tavares, CEO da Stellantis, apresentou um “mega plano” para a eletrificação, avisando que não se trata de um “one man show.” Saiba o que o português reserva para o futuro.

 

Num consórcio que junta 14 marcas, não é fácil apresentar um plano global que passe em detalhe todas elas. Não haveria investidor ou jornalista que resistisse a uma conferência previsivelmente tão longa. Por isso, Tavares e a sua equipa tiveram que fazer escolhas.

Em vez de abordar todas as marcas, elegeram apenas seis para falar em maior detalhe sobre o respetivo futuro. Na verdade, o mais importante nem eram as marcas.

A vídeo-conferência chamou-se EV Day 2021, foi transmitida para todo o mundo e trouxe novidades capazes de interessar os jornalistas e motivar os investidores.

Tavares e os 30 mil milhões

O CEO português anunciou um investimento de 30 mil milhões de euros na eletrificação da empresa, só para os próximos cinco anos. O objetivo é chegar a 2025 com 98% dos modelos das 14 marcas eletrificados. Ou seja, modelos híbridos “plug-in” ou 100% elétricos.

Para 2030, o plano é atingir 70% das vendas na Europa de veículos eletrificados e 40%, nos EUA. Hoje, esses valores são de 14%, na Europa e 4%, nos EUA. Tudo isto mantendo uma margem de lucro de “dois dígitos”, o mesmo é dizer igual ou superior a 10%. Foi aqui que os investidores respiraram de alívio.

Os estudos confirmam

Para que tudo isto funcione, Tavares conta com os estudos que indicam ser 2026 a data em que o custo total de utilização de um carro elétrico baixa ao nível de um carro a combustão.

Conta também com dados que dizem haver já hoje 64% dos compradores de automóveis convencidos de que os carros elétricos ajudam a cuidar do ambiente e que querem aderir ao movimento.

Outro estudo apresentado diz que os carros elétricos servem as necessidades de 80% dos utilizadores dos segmentos mais baratos; 90% nos segmentos médios e 100% nos comerciais ligeiros. Tal como já existem hoje.

O futuro de 6 marcas

Quanto às seis marcas escolhidas para abordar, as novidades são fáceis de resumir. A Opel quer ter só elétricos na Europa em 2028, vai entrar no mercado da China e vai ressuscitar o Manta numa versão elétrica de produção em 2025.

A Dodge diz que vai continuar a fabricar “muscle cars” que, por acaso, vão passar a ter motores elétricos, a partir de 2024. A Peugeot aponta 2025 como o ano em que todos os seus modelos vão ter versões 100% elétricas.

A RAM diz que todas as suas pick-up vão ser elétricas em 2030. A Fiat espera por 2025 para ter tudo eletrificado, tal como a Jeep.

Quatro plataformas

O mais interessante foi mostrado por Harald Wester, um “clássico” da FCA que raramente diz uma coisa que não seja sensata. O responsável máximo da engenharia da Stellantis apresentou a estratégia de plataformas elétricas.

Todos os modelos das 14 marcas vão, no futuro, ser feitos com base numa das seguintes quatro plataformas elétricas: STLA Small, STLA Medium, STLA Large e STLA Frame. As três primeiras cobrem todo o tipo de tamanhos e de tipologias assentes em monoblocos. A última destina-se a pick-ups e SUV de grande porte.

As baterias e autonomias

O plano vai ao detalhe de dizer qual a dimensão e autonomia das baterias que cada plataforma está habilitada a receber:

STLA Small: baterias de 37 a 82 kWh, com autonomia até 500 km

STLA Medium: baterias de 87 a 104 kWh, com autonomia até 700 km

STLA Large: baterias de 101 a 118 kWh, com autonomia até 800 km

STLA Frame: baterias de 159 a 200 kWh, com autonomia até 800 km

Segundo Wester, as plataformas são flexíveis em comprimento e largura e estão habilitadas a receber novas gerações de baterias, como as de eletrólito sólido, esperadas para 2026. Está previsto que cada uma possa servir para fabricar 2 milhões de carros por ano.

Cinco “gigafactories”

Avançando para o tema das baterias, também havia muito para saber. Desde logo que a Stellantis vai usar dois tipos de baterias, uma sem Níquel ou Cobalto, para os modelos mais baratos e outra para os modelos mais caros.

No primeiro caso, falam de densidades de 400 a 500 kWh/litro, no segundo de 600 a 700 kWh/litro. Para a bateria maior, foi avançado uma performance possível de aceleração 0-100 km/h em 2,0 segundos, mas não foi dito em que modelo. No oposto, foi avançado um consumo mínimo de 12 kWh, presumivelmente para o modelo mais leve e pequeno, com a bateria mais pequena.

A Stellantis tem nos seus planos construir três fábricas de baterias na Europa e duas nos EUA. Estas “gigafactories” vão produzir baterias com capacidade total de 260 GWh por ano, a partir de 2030.

As “gigafactories” vão trabalhar com fornecedores asiáticos de células, nomeadamente a CATL, BYD, Svolt, LG e Samsung.

Motores Stellantis

Quanto a motores, a empresa anunciou que vai produzir os seus próprios motores elétricos perto das fábricas dos automóveis. E detalhou os três módulos (motor, inversor e transmissão) que vai ter disponíveis, para serem usados em separado ou combinados, dependendo de cada carro:

– motor de 70 kW a 400 volt

– motor de 125 a 180 kW a 400 volt

– motor de 150 a 330 kW a 400 ou 800 volt

Não foi confirmado se será possível fazer um carro com dois motores de 330 kW, perfazendo 660 kW, ou seja, 900 cv.

Mas foi dito que as baterias podem carregar a uma velocidade até 32 km por minuto, em postos rápidos.

Estes são os motores para as plataformas STLA mais pequenas, para a STLA Frame, está reservado um “segredo” de que a Stellantis não quis dar detalhes mas a que chamou REPB, ou Range Electric Paradigm Breaker. Garante que é um sistema que não gera a ansiedade da autonomia típica dos BEV.

Reparar, Reutilizar e Reciclar

Por último, foi abordado o tema dos três R e o assunto das reparações de baterias, com substituição de módulos para poderem continuar a ser utilizadas e o tema da sua segunda vida, em postos de carregamento, nomeadamente de condomínios.

Para outra altura ficou o tema do software, que Tavares considerou tão vasto e importante a ponto de merecer por si só mais um EV Day.

Conclusão

Para lá dos detalhes técnicos relativos ao plano de eletrificação, esta conferência vai ficar na história pela maneira como posicionou a Stellantis face aos grupos rivais, nomeadamente a Toyota, VW e Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi. Fazendo as contas aos números apresentados, a Stellantis está a planear construir oito milhões de carros elétricos por ano, o que a colocará muito perto do topo, no ranking dos maiores construtores do mundo.

Francisco Mota

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