26/5/2023. Se há coisa que um comprador de um modelo novo pode ter a certeza é que, mais ano menos ano, o seu carro vai “sofrer” um restyling. Para as marcas, é um hábito que se tornou num vício, a maneira barata de dar um ar novo a um modelo com alguns anos. Mas há restylings e restylings, há modelos que nunca precisaram deles e marcas que os renegam.

 

Para um comprador de um modelo novo, após a excitação de receber o seu carro acabado de lançar no mercado, há uma coisa de que pode ter a certeza quase absoluta: mais cedo ou mais tarde, o dia do restyling vai chegar e com ele um degrau na desvalorização da sua versão “pré-restyling” vai ser descido.

As marcas de automóveis estão viciadas em restylings, por ser a maneira mais barata de dar um ar novo a um modelo que envelheceu mais do que o previsto. Ou simplesmente porque a curva das vendas começou a sua queda natural, após se ter esgotado o fator novidade.

Para que serve?

O efeito de um restyling é duplo. Por um lado, dá um aspeto renovado ao modelo, atualizando-o face à concorrência direta, mesmo que isso seja feito apenas ao nível superficial da estética exterior e, em alguns casos, dos interiores.

Por outro lado, é um pretexto para voltar a falar de um modelo que já está à venda. O pretexto para montar uma nova campanha de publicidade, de convidar a Imprensa para voltar a testar o modelo, enfim, uma oportunidade criada para relembrar ao mercado que o seu modelo ainda existe, às vezes soterrado pela torrente de novidades.

Planeados desde início

Os restyling são tão importantes que estão perfeitamente previstos e programados quando a primeira versão de um novo modelo é lançada. Os estilistas estão a mostrar um novo modelo ao público, mas já sabem qual o aspeto que terá quando receber o resyling, anos depois. Está tudo planeado.

Em geral, se tudo correr bem com o lançamento da primeira versão, um restyling deve aparecer na segunda metade da vida útil de um novo modelo, que na Europa ronda os sete anos.

Por isso, é de contar com um restyling por volta do quarto ano, para tentar dar um “boost” nas vendas dos últimos três anos. Foi o que aconteceu com o Opel Corsa esta semana, quatro anos após a estreia em 2019.

Um, ou mais

Mas esta regra tem exceções. Por vezes o restyling surge antes, se os resultados estiverem muito abaixo das ambições da marca, ou pode até acontecer que se façam dois restylings, ao longos dos sete anos.

Há casos de modelos que recebem mais restylings que isso, mas já estaremos a falar de prolongar artificialmente a vida de um modelo no mercado. Possivelmente porque o lançamento do sucessor está atrasado.

Desvaloriza os usados?

Uma coisa é certa, no imediato, um restyling faz desvalorizar a versão anterior, no mercado de usados. Por isso, os compradores mais atentos tentam vender antes de aparecer o restyling. Pelo menos essa era a prática mais comum.

Com o crescimento do mercado de usados e a quebra do mercado dos novos, outros fenómenos foram surgindo. Com ou sem informações concretas que o confirmem, em alguns modelos gera-se o mito de que a versão “pré-restyling” é melhor que a “pós-restyling”. Porque tem menos problemas técnicos, ou porque tem melhor desempenho. Ou, simplesmente, porque o estilo agrada mais do que depois do restyling.

A verdade é que os estilistas nem sempre acertam com os restylings. Então, adotando uma perspetiva histórica do assunto, invariavelmente o modelo original é mais apreciado que as versões posteriores, com restyling.

Mais conteúdo

Quase sempre, o restyling é também a altura aproveitada pela marca para acrescentar conteúdo às versões do modelo em causa. Seja mais equipamento ou mais funções.

Hoje, atualizar os sistemas eletrónicos de auxílio à condução é uma prioridade para manter a avaliação de segurança EuroNCAP. Aumentar a conetividade e melhorar o infotaiment, isso então é tarefa quase diária.

Como ser rentável

Para um restyling ser uma operação rentável, há algumas regras que os construtores seguem, tendentes a reduzir os custos das alterações ao mínimo possível. A mais importante é não alterar painéis metálicos e restringir as modificações aos painéis em plástico. Como dizem os engenheiros, não alterar os duros, só os macios.

Dentro do possível, o melhor é não alterar peças como os guarda-lamas, tampa da mala ou capót, se forem todos feitos de aço. E nem pensar em mexer no tejadilho e toda a zona vidrada que define a estrutura base. As jantes podem mudar-se, sem problema.

Os custos dos moldes

O ideal é alterar apenas peças como os para-choques, asas, spoilers, saias, retrovisores e outras peças, se foram em plástico. Uma alteração muito popular é mudar o aspeto interior dos faróis e luzes de trás, sem mexer no molde exterior.

A razão é muito simples: os moldes de plástico, não sendo baratos, são muito menos caros do que os moldes para as prensas de chapa de aço. Mudar os primeiros, custa muito menos do que mudar os segundos.

Nem todos “sofreram” restylings

Mas o restyling não é a cura para todos os males, nem é realmente necessário para todos os modelos. Se olharmos para o passado, é possível encontrar modelos que se tornaram icónicos e que nunca “sofreram” (aqui a palavra aplicar-se-ia literalmente…) um restyling.

Um exemplo que me vem à memória é a segunda geração do BMW Série 3, conhecido como E30, que fez toda a carreira sem restylings e hoje é admirado por muitos, sobretudo na versão M3. Pode dizer-se que alguns dos modelos mais marcantes, nunca precisaram de restylings.

Tesla quer acabar com eles

Acabar com os restylings, tal como os conhecemos, é até um dos objetivos da Tesla, mais uma das inovações de produção em que a empresa americana se tem mostrado disruptiva.

A ideia é não mudar nada nos painéis da carroçaria, que é sempre algo caro de fazer, e transferir o conceito de restyling, diluindo-o no tempo, para as famosas atualizações OTA (Over The Air), de tudo o que é informática embarcada.

É uma maneira de manter o carro atualizado, na área a que, no entender da Tesla, os compradores dos nossos dias dão mais importância: a conetividade e o infotainment.

Conclusão

Os restylings existem por uma razão simples, porque o estilo ainda é uma das principais razões de escolha de um carro novo, se bem que essa tendência esteja a mudar, a favor do fatores como o preço e consumo. Por isso as marcas tentam sempre a sua sorte, têm sempre a esperança de que um restyling acerte em cheio nas preferências dos compradores e faça subir as vendas.

Francisco Mota

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