Land Rover vai encostar à box (foto de João Apolinário)

19/5/2023. Não são boas notícias, para os apaixonados pela Land Rover. A JLR, antes conhecida como Jaguar Land Rover, decidiu que vai “encostar à box” a marca Land Rover, substituindo-a por Discovery e Defender, que passam a ser marcas e não apenas modelos. A polémica está instalada.

 

Ao fim de dois anos de silêncio e mais uma mudança de CEO, a empresa anteriormente conhecida como Jaguar Land Rover decidiu dar sinais de vida, pelo menos em termos públicos, pois garante que não deixou de trabalhar nos últimos 24 meses.

A troca do anterior CEO de origem francesa, Thierry Bolloré, pelo britânico Adrian Mardell, que era o anterior CFO, em Novembro passado terminou um equívoco que não percebo como se criou. A adaptação de Bolloré à empresa nunca seria fácil, nem do lado do francês, nem do lado dos colegas britânicos, como é óbvio.

Trinta anos de “casa”

Mardell era o homem das finanças na Jaguar Land Rover, o que perspetiva um perfil de liderança bem diferente, tanto mais que está na empresa há 30 anos. É também o pai de cinco filhas, o que lhe deve ter dado capacidades de resiliência extraordinárias.

O novo CEO teve a sua primeira intervenção de fundo há poucas semanas e tinha muito para dizer, ao contrário do seu antecessor, conhecido por falar pouco ou nada, sobretudo para fora da empresa.

Mas antes de fazer o que hoje fazem todos os CEO sempre que têm jornalistas pela frente, ou seja, enunciar a lista de carros elétricos que estão mesmo a chegar, Mardell tinha outras coisas para dizer.

JLR, não é igual a Jaguar Land Rover

A primeira delas é a alteração do nome oficial da empresa, que deixa de ser Jaguar Land Rover e passa a ser apenas JLR, sem que as iniciais queiram obrigatoriamente dizer o mesmo. Parece um detalhe, mas talvez não seja.

Mardell chama-lhe “a casa das marcas” e as marcas também vão ser mudadas. O plano é “encostar à box” a marca Land Rover, para dar prioridade a outros dois nomes, que passam de modelos a marcas: Defender e Discovery.

O anterior CEO já tinha dito que as famílias Defender e Discovery iriam crescer, com cada uma delas a ter vários modelos. Mas parece que o plano é ir mais longe que isso.

Para a marca Land Rover estaria reservado o papel secundário de “selo de confiança”, possivelmente deixando de aparecer nas carroçarias dos novos modelos.

Range Rover já não precisa

Isso percebe-se perfeitamente em relação à Range Rover, que há muito deixou de precisar desse “selo de confiança”, até porque torna bizarro o nome oficial dos seus modelos: Land Rover Range Rover Sport P440e, por exemplo.

A razão para este “encostar à box” da marca Land Rover está ligada ao reposicionamento que o grupo anda a prometer há mais de dois anos: deixar de ter ambições em termos de quantidade de carros produzidos e, em vez disso, apostar na qualidade.

Jaguar rival da Bentley?

A Jaguar tem como objetivo concorrer diretamente com a Bentley, o que não seria possível substituíndo os modelos atuais por outros equivalentes. Em vez disso, vai lançar um GT de quatro portas com base na nova plataforma JEA (Jaguar Electrified Architecture) que estará à venda em 2025.

O novo elétrico promete um estilo que será “a cópia de nada”, nas palavras do Gerry McGovern, o líder do departamento de estilo e criatividade que parafraseou o fundador da marca. Prometeu ainda que a apresentação do novo modelo em 2024 será tão memorável como foi a do clássico E-Type nos anos sessenta.

Também foi anunciado que o novo GT terá uma autonomia de 688 km e um preço base de 115 000 euros. Deverá ter dois motores, um por eixo e mais de 600 cv de potência máxima.

Dois crossovers a seguir

Em 2026 e 2027 será a altura da Jaguar lançar dois crossover elétricos, para segmentos diferentes, mas os objetivos de produção total da gama não passam as 50 000 unidades/ano.

É mais do que a Bentley, mas uma gota no oceano, quando comparado com os dois milhões anuais que produz cada uma das marcas premium alemãs, com que a Jaguar tinha dificuldade em lutar.

Uma redução do número dos pontos de venda, parece um passo óbvio, tanto mais que os responsáveis dizem que a marca “não quer estar em todo o lado.” Outra consequência será uma total mundança de clientes, a confirmar-se a subida de preços.

Range Rover sem stress

Quanto à Range Rover, tudo é mais fácil. A entrada nos elétricos vai acontecer este ano através da versão EV do Range Rover. O mínimo que se pode dizer é que não chega cedo ao mercado, mas promete continuar a ser uma referência em condução fora de estrada.

As novas marcas Discovery e Defender também vão ter versões elétricas com base nesta mesma plataforma até 2026.

Depois será lançada uma nova plataforma EMA que servirá para as gerações 100% elétricas do Evoque, Discovery Sport e Velar, com o terceiro a ser o primeiro a chegar. Ainda foi confrmado que existirá um quarto modelo, que poderá ser um Defender Sport.

Tata vai montar baterias na Europa

Para fornecer baterias a todos estes modelos, os donos da JLR, os indianos da Tata, já anunciaram a construção de uma fábrica de montagem de baterias na Europa, sem especificar em que país. O que está garantido é que a fábrica de Halewood será convertida para a produção de veículos elétricos.

Conclusão

Deixar a Land Rover de lado e apostar nas marcas Defender e Discovery, parece um suicídio de marketing, tal o capital de prestígio da marca anteriormente conhecida como sendo a “best 4x4xfar”. Mas a administração atual considera que Land Rover não tem valor suficiente para se enquadrar na oferta de produtos cada vez mais luxuosos que estão previstos para a Defender e Discovery. Se estão certos ou errados, o mercado o dirá.

Francisco Mota

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