16/10/2020. Líder de vendas de carros elétricos na Europa, a Renault confia numa nova plataforma para expandir a sua oferta. O Mégane elétrico chega já em 2021, para rivalizar com o VW ID.3 e a Nissan também está no mesmo barco.

 

Nos últimos tempos, o Grupo Renault passou por muito. Desde o caso Carlos Goshn, à crise de vendas que já vinha da era pré-Covid-19, às dúvidas quanto ao prazo de validade da Aliança com a Nissan e Mitsubishi e à pressão de expandir a eletrificação da sua gama.

O primeiro construtor francês a nível mundial, como a Renault se passou a apresentar, não deixa esquecer os 120 anos de idade da marca, numa réplica direta ao marketing da patrícia Peugeot.

Para a Renault, os elétricos não são novidade. Desde 2010 que os tem no catálogo e já ultrapassou a barreira das 300 000 unidades na última década. O Zoe é a estrela, mas os comerciais e o Twizy também fazem o seu papel.

Contudo, é inegável que a força com que o grupo iniciou a sua entrada nos EV acabou por esmorecer ao longo dos anos. Talvez por que tenha apostado muito cedo no tema, talvez por que as prioridades tiveram que mudar, para fazer face a questões mais urgentes.

Mas o investimento colossal nos EV do maior fabricante alemão e um dos dois maiores do mundo, a Volkswagen, talvez tenha tido o efeito de desbloquear verbas no plano de expansão elétrica da Renault.

Uma nova plataforma na Aliança

Esta semana, a marca do losango apresentou um “concept-car” de um novo veículo elétrico, que é muito mais do que isso. É o início de uma nova era elétrica, já que, por baixo, está a nova plataforma CMF-EV, exclusiva para modelos elétricos.

E antes de olhar para os detalhes desta rival da MEB do grupo VW, deve registar-se um dado importante: o trabalho de desenvolvimento desta nova plataforma foi feito em conjunto entre a Renault e a Nissan. Sinal de que a Aliança não está moribunda, como alguns pensavam.

A entrada da Aliança nesta segunda geração de carros elétricos, mostra como o assunto está a ser tratado. Desde logo com uma base de trabalho muito mais versátil do que aquela que deu origem ao Zoe e às duas gerações do Nissan Leaf.

Continua a ser um Mégane

Por outro lado, é sintomática a escolha do nome Mégane para este rival elétrico do VW ID.3. Em vez de estabelecer uma sub-marca paralela para os EV, como fez a VW, a Renault prefere a integração dos elétricos nas suas gamas conhecidas. Pelo menos no que ao nome diz respeito.

Talvez a ideia de transferência do petróleo para a electricidade fique assim mais evidente e suscite a mudança aos consumidores. Seja como for, o capital de notoriedade do nome Mégane, que surgiu em 1995 e foi eleito Car Of The Year em 2003, não é de desprezar.

O que levanta uma outra questão: o que fará a VW ao nome Golf, quando o ID.3 o ultrapassar em vendas?…

Continuando a falar de nomes, a nova plataforma CMF-EV (Common Modular Family – Electric Vehicle) mantém as três primeiras letras da plataforma do segmento “C” usada pelo atual Mégane e muitos outros modelos da Aliança. Mas a nova plataforma elétrica é mesmo nova.

Plataforma em patim só para EV

Trata-se de uma plataforma em patim, exclusiva para modelos elétricos, não é uma “multi-energia” como a PSA tem. A bateria está dentro de uma caixa sob o piso plano, contribuíndo para a rigidez estrutural e até faz deformação controlada em caso de acidente.

A maior novidade, anunciada pela Renault, é que a bateria é mais baixa do que o normal, não obrigando a aumentar tanto a altura do carro como no caso do Zoe, onde isso é particularmente notório. O sistema de arrefecimento por líquido também é novo.

A gestão da bateria permite carga inteligente, ou seja, escolha da melhor hora para carregar, de acordo com as tarifas horárias e até “venda” de eletricidade à rede. Este último conceito tem sido uma persistência da Nissan desde há muito tempo.

A plataforma tem grande distância entre-eixos de 2,77 metros e um compartimento dianteiro compacto, onde “mora” um novo grupo motor/transmissão que a Renault reclama ser mais compacto. A tração é às rodas da frente, mas a plataforma pode levar um segundo motor elétrico atrás, para modelos 4×4.

Mégane eVision é o primeiro

O “concept-car” que tem a responsabilidade de lançar esta nova família de carros elétricos na Aliança, chama-se Mégane eVision e tem 4,21 metros de comprimento, cerca de 15 a 20 cm mais curto que um modelo equivalente do segmento “C”, afirma a Renault.

Isto para dizer que promete ampla habitabilidade. A sua fisionomia fica algures entre uma berlina convencional e um SUV, talvez mostrando uma nova tendência do mercado.

A Renault diz que a versão final, que estará no mercado em 2021, não será muito diferente deste “concept-car”. Espero para ver.

Para já, as características técnicas anunciadas dizem que a bateria de 400 V tem 60 kWh, que carrega até 130 kW e que o peso total do carro é de 1650 kg.

O motor debita 217 cv e 300 Nm, números que permitem estimar uma aceleração 0-100 km/h em menos de 8,0 segundos. Mas a autonomia não foi ainda anunciada.

Conclusão

O Mégane eVision mostra que a Renault está preparada para a segunda fase da eletrificação, depois do período Zoe. Mostra também que a Aliança está a lutar pelo seu futuro, que será obrigatoriamente diferente do seu passado.

Francisco Mota

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