11/8/2023. O construtor chinês BYD quer “demolir as velhas lendas” da indústria automóvel e ascender à posição de maior construtor mundial. Saiba como pretende fazer isso, em mais uma Crónica à 6ª feira no blog TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

Para quem tinha dúvidas sobre as intenções das marcas chinesas de automóveis, Wang Chuanfu, fundador e Chairman da BYD disse esta semana que acredita “ter chegado o tempo das marcas chinesas.” Foi durante o evento comemorativo da produção dos 5 milhões de veículos elétricos e “plug-in” da marca, relatado pela agência internacional de notícias Reuters.

O líder da BYD acrescentou ainda que “é uma necessidade emocional para os 1,4 mil milhões do povo chinês ver uma marca chinesa tornar-se global.”

As declarações surgem na sequência de um apelo à união entre as marcas chinesas, para combater a concorrência estrangeira, nomeadamente a Tesla, no que aos veículos elétricos diz respeito.

“Demolir as velhas lendas”

Foi também um alerta contra as rivalidades comerciais no mercado interno, com uma guerra de descontos em resposta à estratégia posta em campo pela Tesla desde Janeiro. Algo que estará a criar danos nas contabilidades de todas as marcas chinesas.

Em vez de se guerrearem umas às outras, a BYD apela à união entre as marcas chinesas, argumentando que têm um objetivo comum: “demolir as velhas lendas e conseguir ter marcas de classe mundial.”

Ou seja, ascender aos lugares mais altos da hierarquia de construtores mundiais, liderada pela Toyota, a marca que mais automóveis produz por ano em todo o mundo, cerca de dez milhões.

As reações das rivais

A reação de alguns dos construtores chineses, através das redes sociais, foi de apoio a esta ideia. Outros receiam que esta postura “belicista” possa gerar uma reação protecionista dos vários países e regiões que a BYD e as outras marcas chinesas querem conquistar.

Na Europa, preparam-se medidas “anti-dumping”, ou seja, contra preços de venda abaixo dos custos de produção. Mas os construtores europeus há muito que reclamam medidas mais fortes, que coloquem em paridade as taxas sobre as marcas chinesas na Europa, e as taxas a marcas europeias na China, algo que não acontece.

BYD e Great Wall em “guerra”

Construtores como a Great Wall Motors não consideram esta união entre as marcas chinesas realista, numa altura em que a “guerra” comercial não dá sinais de acalmia. A associação chinesa dos construtores de automóveis disse que têm sido quebradas leis “anti-trust” no mercado automóvel local.

Recentemente, a BYD e a Great Wall têm estado envolvidas em disputas públicas, com acusações mútuas. A Great Wall acusou a BYD de ter à venda dois híbridos que não cumprem as normas de emissões. A BYD negou e ameaçou a rival com um processo judicial.

BYD ultrapassou VW

A verdade é que, na primeira metade deste ano, a BYD ultrapassou a Volkswagen como a marca mais vendida no país, e aumentou a sua quota de veículos elétricos e híbridos Plug-in de 29% para 37%, na China, em relação a igual período do ano passado.

A BYD anunciou que ultrapassou a barreira dos cinco milhões de veículos elétricos e Plug-in (somados) produzidos até agora.

E confirmou também que já vendeu 1,5 milhões de carros nos primeiros sete meses deste ano, contra os 1,86 milhões do total de 2022. O objetivo dos 3 milhões no final deste ano ainda pode ser atingido.

Expansão no estrangeiro

As vendas fora da China atingiram as 92 000 unidades, de Janeiro a Julho, mais do que o total de 2022, mostrando a expansão que a BYD está a ter e que deve acelerar nos próximos tempos.

Já foi confirmada a abertura de três fábricas no Brasil, utilizando instalações vendidas pela Ford, que retirou o seu parque industrial do país. E também se espera operação idêntica para uma das fábricas da Ford na Alemanha.

Conclusão

A “ameaça” chinesa está em campo, para quem tivesse dúvidas e ninguém na indústria ou na política europeias pode dizer que foi surpreendido. Os dados eram conhecidos de todos há muito tempo e as intenções também. Resta ver como vão os europeus reagir e se ainda vão a tempo.

Francisco Mota

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Crónica – BYD chega antes de Junho: quem tem “medo” dos chineses?