Inspeção final da produção do T-Roc

1/9/2023. As cheias na Eslovénia, em Agosto vão fazer parar a fábrica Autoeuropa de Setúbal, em Setembro. Saiba por que razão a globalização é a grande culpada, em mais uma Crónica à 6ª feira no blog TARGA 67, assinada por Francisco Mota.

 

A fábrica da Volkswagen em Portugal, a conhecida Autoeuropa de Setúbal, vai parar a produção do modelo T-Roc entre 11 de Setembro e 12 de Novembro, foi anunciado esta semana. Não se trata de nenhuma greve, a razão é a falta de peças.

As cheias de Agosto, que afetaram vários países europeus, atingiram também a Eslovénia e um fornecedor fundamental da fábrica da Autoeuropa, a KLS Ljubno.

A fábrica eslovena sofreu danos graves em “instrumentos sensíveis e dispositivos eletrónicos” segundo disse em comunicado o diretor desta instalação, Mirko Strasek, citado pela Reuters.

A maior catástrofe

As cheias de Agosto foram consideradas a catástrofe natural mais grave de sempre na Eslovénia e atingiram muitos setores da economia e da sociedade, com prejuízos avultados.

No caso da KLS Ljubno, foram avaliados em 100 milhões de euros e não se espera que a fábrica volte a entrar em atividade antes de Outubro. A sua especialidade são as rodas dentadas para motores de arranque.

Poucas alternativas

Sem este tipo de peças, logicamente que as fábricas de motores não os podem montar e têm que suspender a produção até voltar a ter acesso a esses componentes. Sem receber motores, as fábricas que produzem automóveis, como a Autoeuropa, deixam de poder construir automóveis.

Em casos como este, a medida normal a tomar seria procurar outro fornecedor desse tipo de peças, para não parar a cadeia de fornecimento.

Acontece que a empresa da Eslovénia fornece 80% das fábricas europeias de automóveis, não existindo muitas alternativas. É de esperar que outras fábricas sejam atingidas, tal como foi a Autoeuropa.

As duas faces da globalização

Quando se fala em globalização e nas suas inegáveis virtudes, estamos a falar também de maximizar a operação de uma determinada empresa, com base na sua especialização e competência únicas.

Mas estamos também a falar na concentração de recursos, acreditando que a logística vai conseguir resolver a sua parte do problema e que a probabilidade de um desastre natural, ou qualquer outro fator que possa perturbar a produção, é muito baixa.

Ainda há pouco tempo a indústria automóvel passou por um problema semelhante, com a crise dos semi-condutores, da qual ainda não se recompôs totalmente.

Paragem inevitável

A verdade é que as fábricas de automóveis estão totalmente dependentes dos fornecedores, sejam internos ou externos. Quando sai um T-Roc da Autoeuropa, ou outro modelo qualquer de outra fábrica qualquer, a maioria dos seus componentes não foi fabricada no local.

A catástrofe na Eslovénia tem como consequência a paragem da produção do T-Roc entre 11 de Setembro, quando se esgotam os componentes que ainda estão na cadeia de fornecimento e 12 de Novembro, quando a fábrica da Eslovénia já estiver recuperado o ritmo normal.

Líder de vendas

A paragem da Autoeuropa é um problema sério para a Volkswagen, pois o T-Roc é o modelo mais vendido da marca na Europa, tendo sido entregues 231 000 unidades em 2022. Nos primeiros sete meses de 2023, o modelo “Made in Portugal” já chegou a 107 249 compradores.

Em Julho passado, o T-Roc foi mesmo o modelo mais vendido na Europa, seguido pelo Dacia Sandero.

A Autoeuropa não vai fechar durante essas nove semanas. Áreas como a estampagem vão continuar a trabalhar, mas parte dos seus 5000 trabalhadores vão entrar em regime de “lay off”, esperando a comissão de trabalhadores que não sejam afetados em termos de remuneração.

Conclusão

A globalização é um conceito que funciona às mil maravilhas, quando tudo corre bem. Baixando os custos e aumentando os lucros. Mas quando surgem situações inesperadas, as consequências podem ser devastadoras.

Francisco Mota

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