Close-up of the cable connection in the new Volvo XC90 T8 Twin Engine petrol plug-in hybrid in Tarragona, Spain

18/10/2019 Para convencer os compradores dos “plug-in” a usar mais vezes o modo elétrico, a Volvo vai oferecer a eletricidade, durante um ano.

 

Todos sabem que a principal razão pela qual as empresas compram modelos “plug-in” é por serem um bom negócio. O Estado oferece tantos benefícios, que é quase estúpido não comprar um “plug-in”.

Do lado do Estado, há a vontade de ajudar a colocar mais veículos eletrificados na estrada, se bem que à custa dos impostos pagos por todos, até por aqueles que não têm dinheiro para comprar carro.

Mas isso é outra discussão, a de saber se a eletrificação subsidiada é democrática.

O cartão frota é que estraga tudo

O problema dos “plug-in” é que este tipo de utilizadores, tipicamente os quadros de empresas que recebem um destes híbridos como “carro de serviço”, também recebem um cartão de frota, para abastecer de gasolina.

A benesse do cartão vai contra o incentivo e esses condutores acabam por não usar o modo elétrico dos seus “plug-in” tantas vezes quantas podiam/deviam, tendo em conta a responsabilidade cívica de estar a guiar um carro subsidiado pelo Estado.

Há mesmo casos de condutores que nunca usaram o seu “plug-in” no modo elétrico, nem sequer se deram ao trabalho de tirar os cabos de carregamento dos sacos de plástico onde vinham, quando receberam o carro.

Os problemas…

Por que razão o fazem? Da minha experiência de testar este tipo de híbridos ocorrem-me algumas hipóteses.

Não têm tomada de carga, nem na garagem da sua habitação (não são obrigados a ter, claro) nem no estacionamento da empresa (talvez o subsídio do Estado devesse obrigar as empresas a ter) por isso não conseguem carregar a bateria.

Outra hipótese, é não existir um posto de carga público perto da sua habitação ou do seu local de trabalho, ou estar sempre ocupado, ou estar fora de serviço. Já me aconteceram todas as hipóteses.

Ou então, não estão mesmo para se dar ao trabalho, pois como não pagam a gasolina, tanto faz se o carro gasta zero ou 10 litros aos 100 km.

Os Estados sabem, e as marcas também

As marcas sabem disto há muito tempo, os Estados também, pelo menos alguns que já passaram por esta fase dos subsídios aos “plug-in” e ficaram escaldados, retirando os incentivos quando perceberam que os condutores não usavam os carros em modo elétrico.

Holanda e Reino Unido são dois bons exemplos deste recuo… democrático.

Mas as marcas sabem que é melhor convencer os seus clientes a usar o modo elétrico do que ficar à espera que os políticos inventem algo que as obrigue a mudar mais alguma coisa e a gastar mais dinheiro.

A luz do incentivo ecológico

Por isso, a PSA antecipou-se à comissão europeia, instalando uma luz na base do retrovisor interior, que só se acende quando o “plug-in” está a trabalhar em modo elétrico.

Carlos Tavares, o CEO da PSA, fez pressão para que a luz lá fosse colocada, contra a opinião de alguns dos seus especialistas. Para Tavares, é um “incentivo para que os condutores façam uma condução mais ecológica.”

Entretanto, os políticos da comissão europeia, que já andavam a pensar nesta solução da luz há algum tempo, ainda não decidiram de que cor deve ser…

Mas a ideia deles não é “incentivar” os condutores a usar o modo elétrico. É proibir os “plug-in” que não a tenham acesa, de aceder a locais onde só os veículos em modo emissões zero podem entrar, como nas zonas históricas de algumas cidades. No limite, é usar os polícias ou câmaras nas ruas, para multar quem o faça.

O incentivo da Volvo

A Volvo, que tem sempre uma atitude pela positiva no que diz respeito aos automóveis, teve outra ideia, que anunciou agora.

Sabem que os seus clientes de modelos “plug-in”, como em todas as marcas, não usam o modo elétrico sempre que possível. Apesar de os números que revelaram nem serem assim tão maus: 41% dos condutores de um Volvo “plug-in” usa o modo elétrico. Por isso pensaram num novo incentivo para essa utilização ser mais frequente.

E decidiram usar as mesmas armas da política: o dinheiro. Como sempre, nada como o dinheiro para dar uma tonalidade mais verde às consciências dos condutores que ainda não sejam 100% ecológicas.

Por isso o plano é o seguinte. Para todos os compradores de modelos Volvo “plug-in”, a marca oferece os custos com eletricidade que o condutor tiver durante o primeiro ano. A oferta começa agora.

Centralizado na Suécia

A operação será centralizada na Suécia, que terá acesso aos carros individualmente, através de um registo que o condutor terá de fazer.

Existirá uma aplicação para smartphone, onde o condutor poderá ver a sua conta corrente a crescer, em euros, à medida que carrega a bateria e essa informação é centralizada.

No final do ano, a Volvo manda o cheque com o total, em euros, correspondente à eletricidade que cada condutor consumiu. Uma espécie de prémio de bom comportamento.

Portugueses podem ganhar a dobrar

Falta estabelecer o valor em euros, da unidade de medida da eletricidade, algo que será feito pela Volvo, em moldes que ainda não foram divulgados.

Mas suspeito que, para os condutores nacionais, o prémio até possa valer o dobro.

Se carregarem a bateria nos PCN públicos, que ainda estão em regime transitório, e por isso a carga não custa dinheiro, então não gastam nada a carregar a bateria e ainda recebem o valor da Volvo. Bem, se calhar já estou a ser demasiado português…

Conclusão

O objetivo desta “cenoura elétrica” que a Volvo está a oferecer é meritório, claro. Só é pena que o meio usado tenha que recorrer ao vil metal. Mas é a prova de que, na marca Sueca (de propriedade chinesa) o pragmatismo é o melhor remédio.

Francisco Mota

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