Gémeo do Supra, o Z4 é a interpretação alemã e descapotável do mesmo desportivo. A versão base 20i não promete muito, mas não é o motor que desilude.

É o caso mais polémico de partilha de plataforma e de motores, pelo menos nos tempos mais recentes. O acordo entre a BMW e a Toyota, para produzirem um desportivo de dois lugares, deixou muitos adeptos da marca japonesa furiosos.

Por uma razão simples, tanto a plataforma como os motores e transmissões são fornecidos pela BMW.

Os saudosistas do antigo Supra viram nisto uma heresia. Mas a verdade é que o novo Supra é um desportivo com fortes méritos. Comparado com os seus concorrentes, está entre os melhores.

Do lado alemão, a ideia era produzir a terceira geração do Z4, um descapotável de dois lugares, historicamente derivado da plataforma do Série 3.

A visão alemã

Agora, chama-se CLAR e é a plataforma que serve de base a todos os BMW com motor longitudinal, declinada em múltiplas versões, graças à sua conceção modular.

Olhando para trás, o primeiro Z4 de 1989 apostava num estilo muito vanguardista, típico dos tempos em que Chris Bangle liderava o Design de Munique.

A segunda geração alinhou pelo conceito coupé/cabrio, com o tejadilho metálico desdobrável. Mas a verdade é que nenhum deles foi referência do segmento.

No fundo, sempre foi um roadster de passeio, no qual as versões mais potentes não brilharam pelo desempenho dinâmico.

A geração G29

Esta terceira geração G29 volta ao tejadilho de lona, que dobra em “Z” quando ocupa o seu espaço na mala.

Uma operação que demora 10 segundos e pode ser feita em andamento até 50 km/h e não afeta os 281 litros da mala.

O que perdeu em isolamento acústico, recuperou em charme: só ficou a ganhar.

O desenho volta a ser moderno, com um perfil clássico de capót longo e traseira curta.

Visto de trás, é fabuloso, guardando toda a identidade BMW, mas projetada no futuro.

Claro que tenho mais dúvidas da frente, pela razão que passou a ser o alvo de todas as críticas: os rins inchados da grelha.

Pior ainda, os seus habituais frisos verticais foram substituídos por um tracejado cromado que os meus olhos não conseguem apreciar. Mas enfim, são gostos…

Muita qualidade

Do interior há poucas críticas a fazer. A qualidade é a conhecida dos mais recentes BMW, muito boa e muito homogénea, de modelo para modelo.

Talvez a partilha excessiva dos componentes do tablier retire individualidade a cada um, mas disso queixo-me mais eu, que conheço todos, do que os clientes, que só vão escolher um.

Ainda assim, aqui ficam as críticas do costume para este tablier: monitor central de utilização fácil, via botão rotativo iDrive, toque ou voz; botões abaixo muito pequenos ou inúteis e botões dos modos de condução impossíveis de identificar num relance.

O painel de instrumentos é pouco personalizável e perdeu os mostradores redondos.

Claro que no Z4 foi difícil encontrar porta-objetos tão volumosos como no Série 3, o que não facilita o dia-a-dia.

Rente ao chão

Grande parte disto passa ao esquecimento quando se assume a posição de condução.

O banco (desportivo M, opcional) é baixo, rente ao chão, mas com amplas regulações, incluindo a inclinação sob as pernas, que é fulcral para o conforto em viagens longas.

O volante está meticulosamente colocado, tal como os pedais, a alavanca da caixa automática e as respetivas patilhas.

A vontade é carregar no botão “Engine Start” e começar logo a acelerar!

Este Z4 sDrive 20i está equipado com o motor de quatro cilindros em linha, sobrealimentado por um turbocompressor de dupla entrada que faz 197 cv.

Não parece muito, mas as primeiras acelerações convencem do contrário, até porque a caixa automática ZF de oito relações é excelente. Tem uma suavidade clássica em “D”, é obediente com as patilhas e apenas um pouco nervosa, em “S”.

Motor só com 197 cv?…

O motor tem suficiente binário a baixo regime e não sofre de “turbo-lag”, mas também sobe com vivacidade até ao “red-line”.

Na verdade, parece ter mais potência do que a anunciada, sensação reforçada pelo magnífico som do escape e ampliada pelo sintetizador de som, que dá uma ajuda acústica, artificial, mas bem feita.

Com a capota descida e vidros subidos, o painel entre os arcos atrás dos bancos junta-se para impedir que os turbilhões entrem no habitáculo até aos 120 km/h. Mais depressa, e os cabelos começam a esvoaçar, como é lógico.

O estereotipo do passeio à beira-mar, com os vidros para baixo e o o motor a ronronar, é cumprido sem problemas por este Z4. Desde que a estrada seja perfeita.

Com a suspensão desportiva M, um opcional desta unidade, os ocupantes são bem sacudidos e lá se vai o romantismo.

Os pneus de perfil 35 em jantes de 19” também não ajudam ao conforto, sobretudo a baixas velocidades, como em cidade, onde cada banda sonora é um desafio para os rins… os do condutor, não os do BMW.

Sensível ao estado do piso

É muito provável que a maioria dos compradores desta versão 20i esteja pouco preocupada em saber como se comporta o seu novo roadster em condução desportiva, mas não é o meu caso, claro.

Primeiro, levo-o a uma estrada secundária, com piso um pouco ondulado, algumas depressões no asfalto, mas nenhum daqueles buracos capazes de partir um pneu. E a desilusão não demora muitas curvas a chegar.

Sob esforços mais intensos, a suspensão mostra-se pouco firme, deixa a carroçaria mover-se mais do que o desejável e a condução rápida perde precisão.

Em alguns casos, o controlo de estabilidade é mesmo chamado a intervir para acalmar saídas de traseira intempestivas, provocadas por demasiada oscilação vertical.

Não se notam vibrações no banco, no volante ou no aro do para-brisas, mas é notória a flexão de estrutura, pela imprecisão que adiciona à condução. A vontade é baixar o ritmo e voltar para casa.

Para tirar as dúvidas…

Mas, só para tirar as dúvidas, decido experimentar uma outra estrada, de piso perfeito mas com traçado igualmente exigente e… que diferença!

Desaparecem as oscilações exageradas e aparece um controlo mais do que aceitável da massa.

Assim, já é possível apreciar a boa leitura da estrada que a direção consegue fazer, a precisão da frente, sem excessos de nervosismo e a grande tração do eixo traseiro.

Mesmo com o controlo de estabilidade desligado e o modo Sport Plus escolhido, o Z4 dificilmente põe a traseira a deslizar.

É preciso muita provocação e/ou piso mais escorregadio, para desenhar uma curva em “slide” de potência, pois os pneus mais largos atrás (275 contra 255) não é isso que querem.

Isto era o que esperava do Z4 20i, mas não apenas nos pisos perfeitos.

Talvez o conjunto da suspensão desportiva e dos pneus de baixo perfil tenham aqui demasiada influência, mas desconfio que, com uma configuração mais macia, a atitude não mude muito, provavelmente piora, nos dois tipos de piso.

Conclusão

Conclusões? Quem experimentar o Z4 20i numa estrada perfeita, vai achar que o motor é mais do que suficiente para uma utilização mista, com o computador de bordo a marcar 8,9 l/100 km, incluindo alguns troços mais rápidos.

Vai também dizer que o Z4 até é confortável, tem muita qualidade e junta o charme de um roadster clássico ao desenho vanguardista que sempre caracterizou o modelo.

Cumpre perfeitamente a função de encantar o condutor e acompanhante, numa utilização em estradas secundárias, mesmo a ritmos mais “despachados”. Mas é melhor evitar os pisos imperfeitos para não ter uma desilusão.

Potência: 197 cv
Preço: 51 500 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)

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