Lamborghini Huracán Ultimate Drive em Itália

O STO é a versão mais radical

A paisagem italiana em contraste com a silhueta do Huracán

Chuva e condução noturna de um supercarro: nada fácil

Condições muito difíceis, após uma tempestade

A caravana Huracán numa aldeia italiana

Evo Spyder num raro momento em que não choveu

Estradas estreitas e com mau piso foram frequentes

Piso escorregadio e mais de 600 cv: mistura explosiva

O Sterrato é o Huracán mais louco de todos

Motor V10 atmosférico está a chegar ao fim de vida

Uma imagem rara, mesmo em Itália

Road trip com as quatro versões do Huracán em Itália

A norma WLTP diz que o consumo anda na casa dos 14 l/100 km. Não nesta Road Trip...

Uma experiência de condução única, no STO

O Tecnica é a versão mais equilibrada

O som do V10 a gritar num túnel vai ficar na memória

Folhas molhadas e muitos detritos após a tempestade

Evo Spyder lidera a caravana algures na Toscânia

As quatro versões diferentes do Huracán

STO de tração atrás exige cautelas, nestas condições

Combinar cores é um hábito dos compradores do Huracán

As estradas italianas colocaram muitos desafios

Seguir o som do V10 foi uma festa para os ouvidos

Condução desafiante, pelas condições e pelas prestações

Posição de condução baixa, inclinada e com o volante recuado

Quando a sobreviragem aparece de repente...

Um Sterrato em perseguição de outro

Um intervalo para "abastecer" os condutores

A asa regulável do STO mostra a sua vocação para a pista

Enormes patilhas no volante dominam a experiência

Ordem para libertar a potência dos Huracán

Os bancos mais confortáveis são os do Evo Spyder

"Proteção" vermelha do botão do motor

Sterrato tem um pisar diferente dos outros

O interior do STO, mais despido e radical

Muitos quilómetros por estradas secundárias italianas

Não era uma corrida, mas por vezes, pareceu...

Um dia inesquecível: guiar as quatro versões do Lamborghini Huracán por estradas secundárias italianas e também na “autostrada”. Uma homenagem ao supercarro mais vendido de sempre da marca italiana, neste Último Teste do Evo Spyder, Tecnica, STO e Sterrato, conduzidos por Francisco Mota.

 

O plano era fazer uma “road trip” com partida de Bolonha, em direção a Forte dei Marmi, na costa Oeste de Itália, usando o máximo de estradas secundárias mas também algumas “autostradas”. À disposição dos jornalistas convidados para este “Ultimate Test Drive” as 4 versões do Huracán: Evo Spyder, Tecnica, STO e Sterrato, duas delas repetidas.

A organização não obrigava ninguém a seguir em caravana, mas havia ligação rádio entre os carros e pontos obrigatórios de paragem, para troca de carro ou de condutor, pois cada Huracán era ocupado por uma dupla de jornalistas.

As quatro versões diferentes do Huracán

Tive sorte e calhou-me um experimentado colega italiano, como eu, da imprensa especializada automóvel. Conversa sobre carros foi coisa que não faltou, sempre que os Huracán não levantavam a “voz” e eram eles os oradores.

O que poderia correr mal?…

Um plano bem pensado, nada iria correr mal. Só que… não. A tempestade Ciaran fez uma passagem por esta região da Emilia Romana e Toscania, na véspera da partida e deixou um rasto à sua passagem. Um rasto nas estradas que faziam parte do percurso.

Condições muito difíceis, após uma tempestade

Ao nascer do sol ainda chovia, a estrada estava encharcada, com “rios” de água a atravessar o asfalto. À medida que fomos entrando em estradas cada vez mais secundárias, escolhidas pelo seu traçado desafiante, a situação piorou.

Desabamentos de terras obrigaram as brigadas de trabalhos de reconstrução a levar as suas máquinas para a estrada, para a limpar e desimpedir de rochas e árvoces caídas na via. O que sobrava eram autênticos lamaçais que rapidamente acrescentaram a cor castanho às imaculadas carroçarias multicolores dos Huracán.

“Vai, Vai!…”

Ver um conjunto de seis Lamborghini a passar numa estrada rural, não é propriamente vulgar, nem mesmo em redor de Bolonha. Mas vê-los a passar nestas condições, salpicados de lama até aos vidros, foi algo que deve ter deixado algumas exclamações em quem os via passar: “que bando de ricos estúpidos!…”

A caravana Huracán numa aldeia italiana

Na verdade, não foi isso que lhes li nos rostos, a lendária paixão italiana pelos automóveis é uma realidade e o que vi foi dedos apontados, expressões de espanto, sorrisos e acenos: “vai, vai!”

Evo Spyder para começar

A mim e ao meu colega Alessandro, foi-nos atribuído o Evo Spyder no primeiro troço. Claro que abrir a capota elétrica estava fora de questão.

Acabámos por usufruir apenas da pior parte de guiar um descapotável de motor central: habitáculo apertado e difícil visibilidade para fora, mesmo pela câmara de marcha-atrás que ocupa por momentos o painel de instrumentos, mas deixa acumular água, distorcendo a imagem.

Evo Spyder num raro momento em que não choveu

Mas a verdade é que o Evo, a versão “base” (com muitas aspas) tem o mesmo V10 de 640 cv, 600 Nm e caixa de dupla embraiagem de sete dos outros Huracán.

O que também tem é tração e direção às quatro rodas e amortecedores adaptativos MagneRide, que fazem uma grande diferença quando se muda dos modos de condução desportivos Sport e Corsa, para o mais calmo Strada.

Confortável? Sim…

A palavra conforto, dita em italiano e inglês andou de boca em boca dentro do Evo, mesmo nos pisos em pior estado ou sobre bandas sonoras. Claro que não tem exatamente o mesmo significado que tem num SUV, como nos dois Urus que acompanhavam a caravana, mas torna o Huracán num carro perfeitamente civilizado nos pavimentos do mundo real.

Os bancos mais confortáveis são os do Evo Spyder

Muito poucas vibrações se sentem na estrutura de alumínio e fibra de carbono, provando a sua rigidez, mesmo depois de lhe terem “cortado” o tejadilho. A direção é bastante leve em Strada e apenas os travões carbo-cerâmicos obrigam a alguma habituação, porque não são muito progressivos no ataque inicial.

Nos primeiros milímetros do curso do pedal, parece que nada acontece, para logo a seguir as maxilas agarrarem os discos com alguma brusquidão. A caixa, deixada em modo automático, é civilizada o suficiente, mesmo no trânsito de para-arranca.

Enormes patilhas

Carregando no botão “M” na consola, passo ao modo manual, através das enormes patilhas metálicas fixas à coluna de direção, que têm um toque muito satisfatório, mas não deixam espaço para mais nada. Os comandos dos piscas, luzes e limpa para-brisas estão todos nos braços do volante, o que se torna desconcertante a sua utilização com os polegares, pelo menos nos primeiros quilómetros.

Evo Spyder lidera a caravana algures na Toscânia

Já que estou numa de críticas, junto também as reduzidas dimensões do ecrã tátil, que está colocado muito em baixo na consola, obrigando a desviar os olhos da estrada. Num carro com a performance do Huracán, não é a melhor opção… E a falta de sítios para guardar alguma coisa no habitáculo, um casaco que seja.

Rente ao chão

Claro que a posição de condução do Evo Spyder, como dos outros Huracán, é muito baixa, mas o banco é confortável, tem apoio lateral mais que suficiente e o volante tem uma regulação em alcance excelente, que me permitiu guiar com as costas um pouco mais reclinadas do que é meu hábito.

As estradas italianas colocaram muitos desafios

Entrar e sair do Spyder acaba por ser o mais difícil de tudo, tanto mais que a capota é mais baixa que o tejadilho das versões fechadas. Note-se que, neste modelo a Lamborghini usa portas de abertura convencional, uma preocupação a menos, para mim.

Engine Start

Para arrancar é preciso levantar uma “proteção” do botão “engine start”, pressionar o botão M uma vez, depois puxar a patilha da direita, com o pé no pedal de travão e finalmente acelerar. Uma encenação acompanhada por um “acordar” sonoro do V10.

“Proteção” vermelha do botão do motor

Com um primeiro troço a passar por muitas povoações, todas com os seus radares de velocidade Autovelox bem assinalados, não houve muitas oportunidades de fazer o V10 atmosférico subir para lá das 4000 rpm.

Mas, até aí, sobe de regime com uma facilidade e suavidade que um motor turbocomprimido terá dificuldade em imitar. A aceleração 0-100 km/h anunciada é de 3,1 segundos e a velocidade máxima de 325 km/h.

Tecnica para o segundo turno

Altura de trocar de carro. O próximo foi o Huracán Tecnica. O motor tem a mesma potência, mas uma cartografia mais agressiva, sobretudo nos modos Sport e Corsa. A suspensão é mais firme, mas a maior diferença é que só tem tração atrás, por isso o binário desce aos 556 Nm às mesmas 6500 rpm de todas as versões.

Um intervalo para “abastecer” os condutores

O segundo troço começou com uma descida numa estrada muito sinuosa, com curvas fechadas e uma sequência de ganchos. Apesar de o piso estar cheio de folhas de árvores e ramos partidos, resultado do vendaval da noite anterior, não deixei de tentar perceber o que muda no Tecnica.

E muda muita coisa no tato da condução, mesmo no modo Strada. O carro sente-se mais tenso, mais firme, mais rápido nas mudanças de direção e com o acelerador claramente mais sensível. Numa saída de um gancho em segunda, a traseira sobrevirou sem pedir licença e sem acordar o ESC. Nada de dramático, mas a mostrar que esta é uma fera diferente.

A “explosão” do V10

Passei a usar terceira nestas situações, com binário mais do que suficiente para desenhar as curvas sempre com boa sensação de força e muito melhor tração.

O Tecnica é a versão mais equilibrada

Mais à frente, já com piso limpo de detritos, passei ao modo Sport e depois Corsa, o som do escape mudou por completo. Muito mais gritado, muito mais volumoso e mesmo alí por cima do ombro direito. Numa reta livre, desci a velocidade até quase parado, deixei o carro a deslizar em segunda e acelerei a fundo.

Piso a secar

A subida de regime é vertiginosa, acompanhada por um som cada vem mais frenético até chegar ao “red-line” acender as “shift-lights” e obrigar a uma patilhada com a mão direita, para repetir tudo outra vez. Um gozo incrível, este motor que leva o Tecnica aos 100 km/h em 3,2 segundos e atinge os 325 km/h.

Lamborghini Huracán Ultimate Drive em Itália

Com o piso a secar, consegui começar a levar um pouco mais de velocidade para dentro das curvas, mas sempre com cautelas. A frente é leve e tudo aquilo que não queria era entrar em subviragem.

Nestas condições, isso acaba por ser a maior preocupação neste RWD, porque a tração dos enormes pneus traseiros é muito boa, sobretudo quando começam a ganhar alguma temperatura.

A solo no STO

Hora de almoço, de fotografias e vídeo. Depois de ter as imagens que precisava, peguei no STO e fui para uma volta a solo enquanto os outros colegas se preparavam para os aperitivos. Pouco mais de 20 minutos, mas muito esclarecedores.

O STO é a versão mais radical

O STO é o topo da gama, o mais desportivo dos Huracán. Não por ter mais potência, pois mantém os 640 cv e os 565 Nm. Mas porque tem uma gestão ainda mais agressiva do motor e caixa, tem um modo STO e outro Trofeo e uma suspensão a pensar na pista.

Tem também radiadores dianteiros oblíquos, que acabam com a pequena mala dianteira, uma asa enorme e uma entrada de ar para o motor sobre o tejadilho, que torna o retrovisor interior inútil. Precisava de ter um sistema de câmara de vídeo no próprio retrovisor.

Um animal de pista

A diferença para o Tecnica sente-se desde os primeiros metros. Suspensão a deixar perceber o tamanho da gravilha que os pneus pisam e uma reação ao acelerador ainda mais rápida. Direção um pouco mais pesada e escape ainda mais sonoro. É um RWD também, claro.

O interior do STO, mais despido e radical

Arrisquei o modo Trofeo, pensado para pista, porque encontrei asfalto seco. Acelerando a fundo, (0 a 100 km/h em 3,0 segundos mas velocidade máxima de 310 km/h) a traseira já mostra outro temperamento, como se tivesse mais 100 cv. É preciso mais atenção ao volante, para manter o rumo.

Os bancos mais duros, agarram melhor o corpo e os punhos cerram-se mais no volante. O som do V10 é agora o de um verdadeiro GT3 de competição, metálico, mais agudo, bem mais repentino a subir de regime, com um acelerador mais preciso e imediato.

STO de tração atrás exige cautelas, nestas condições

Tudo mais “bruto”

Sem que o tenha feito por completo, percebi que tirar o máximo do STO em estrada é tarefa que exige concentração e foco. Os travões têm um tato mais duro, a caixa parece mais “bruta” a cada passagem feita a regime mais alto. Em pista, deve ser uma experiência viciante.

A asa regulável do STO mostra a sua vocação para a pista

Na estrada, é mais sensível ao mau piso, salta mais, exige mais do condutor e não o deixa sossegado. Baixei ao modo STO, para não baixar ao Pioggia, para piso molhado. E voltei à base a pensar que o STO está bem acima daquilo que é vagamente sensato fazer na estrada.

A maior “loucura”

Para o fim ficou o Huracán mais louco, o último a ser concebido, num momento de liberdade criativa que há poucos anos seria impensável, o Sterrato. Uma versão “off road” ou pelo menos uma versão “rali de terra” com mais 44 mm de altura ao solo e vias mais largas.

O Sterrato é o Huracán mais louco de todos

Infelizmente, não foi possível guiar o Sterrato em pisos de terra. O mais próximo que estive disso foi passar por cima de alguma terra e pedras que a enxurrada tinha trazido para o asfalto. Mas isso não significa que o exercício tenha sido inútil.

Posição de condução baixa, inclinada e com o volante recuado

O Sterrato é o menos potente dos Huracán, com “apenas” (mais uma vez com muitas aspas) 610 cv e 565 Nm. Devo dizer que a diferença se nota, mas só pela diferente cartografia do motor. O que fica claro desde os primeiros metros no asfalto é o conforto da suspensão.

Um “set-up” interessante

O Sterrato pisa de maneira muito mais tolerante que os outros Huracán. A maior altura ao solo e o maior curso da suspensão permitem passar por cima de alguns obstáculos sem preocupações. Neste tipo de teste não cheguei ao limite da aderência, mas a sensação é a de que o Sterrato continua a ser um supercarro.

Um Sterrato em perseguição de outro

Acelera dos 0 aos 100 km/h em 3,4 segundos e tem uma calibração do acelerador menos agressiva, ficando-se pelos 260 km/h de velocidade máxima. É também o único que não tem direção às rodas traseiras, prevendo uma utilização exuberante em pisos de terra.

A magia do V10

Na “autostrada”, em modo Sport, o som do V10 muda de tom por volta dos 150 km/h e com carga no acelerador, enchendo os ouvidos. O desafio é manter esta banda sonora sem aumentar a velocidade e prolongar o momento.

O som do V10 a gritar num túnel vai ficar na memória

Num túnel, abri os vidros, baixei a velocidade, reduzi até segunda e depois acelerei a fundo até ao red-line. O som, no limite da dor, vai ficar-me na cabeça durante muito tempo…

Apesar do aspeto “off road” um pouco ao estilo Hot Wheels, não se perde muito da estabilidade a alta velocidade, da rapidez de resposta do V10 e da caixa, nem da rapidez da direção.

Crossover?!

Com atenção, percebe-se que se vai um pouco mais alto em relação ao chão. Mas os problemas de visibilidade provocados pelos largos e muito inclinados pilares da frente mantêm-se.

Muitos quilómetros por estradas secundárias italianas

E como o Sterrato também tem um “snorkel” sobre o tejadilho, o retrovisor interior só mostra tubos e peças de fibra, nada do que se passa atrás, que os retrovisores de fora também não apanham, devido aos alargamentos dos guarda-lamas traseiros.

Sinceramente, cheguei ao final a pensar que esta afinação do Sterrato talvez até fosse preferível, como base, à do Evo Spyder. Mas o marketing tem outras (e mais rentáveis) ideias, como é óbvio.

O mais vendido de sempre

O Huracán sucedeu ao Gallardo, que foi o primeiro modelo totalmente novo da Lamborghini, após a compra pelo grupo VW em 1998, partilhando muita coisa com o Audi R8.

A norma WLTP diz que o consumo anda na casa dos 14 l/100 km. Não nesta Road Trip…

Desde que foi lançado em 2013, o Huracán foi vendido em 30 000 unidades, fazendo dele o supercarro mais produzido de sempre pela Lamborghini.

A profusão de variantes manteve o interesse pelo modelo, que continua a ter lista de espera para algumas das versões mais especiais, quando estamos, previsivelmente, a um ano do final da sua produção.

O próximo é “plug-in”

A seguir vem um modelo híbrido “plug-in”, tal como aconteceu na passagem do Aventador para o Revuelto. O Huracán conseguiu manter o conceito do motor V10 atmosférico até ao fim da sua carreira, quando outros rivais há muito passaram para os motores turbocomprimidos.

Motor V10 atmosférico está a chegar ao fim de vida

O V10 de 5,2 litros, que começou como 5,0 litros no Gallardo, tem abertura a 90 graus, cárter seco, bloco e cabeças em liga de alumínio e injeção direta, com quatro válvulas por cilindro, atuadas por duas árvores de cames em cada uma das duas cabeças, comandadas por corrente. Tem variação de fase contínua na admissão e escape. A cambota é forjada em aço com intervalos desiguais de 90 graus e 54 graus.

Uma imagem rara, mesmo em Itália

Este Último Teste do Huracán vai ficar-me na memória, até porque foi feito exatamente no dia do 58º aniversário da apresentação do chassis do Miura, a 3 de Novembro de 1965 no salão de Turim. Afinal, foi o Miura que definiu a categoria dos supercarros, tal como a conhecemos ainda hoje.

Conclusão

A possibilidade de “saltar” de uma versão para a outra permitiu-me ficar com uma impressão muito precisa das diferenças entre as quatro versões e perceber porque uns clientes escolhem uma ou outra. Foi também um teste à integridade do Huracán, dadas as condições da estrada, que mostraram como um supercarro bem feito pode passar por sítios que, à primeira vista, fariam hesitar o condutor mais otimista. Uma despedida em grande de um carro que já é um clássico.

Francisco Mota

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