A Peugeot garante que o custo total de utilização do 2008 elétrico já é igual ao das versões a gasolina. Será já a altura certa para optar pelo e-2008? Leia o teste a todas as versões, para tirar as dúvidas.

O custo total de utilização leva em consideração não só a mensalidade do “leasing” como os custos com energia (elétrica ou gasolina) para chegar a um valor mensal que o consumidor tem que pagar pela utilização do automóvel.

A Peugeot fez as contas e chegou à conclusão que o valor relativo a um dos novíssimos 2008 é igual, quando se compara a versão elétrica com a versão a gasolina.

É verdade que as contas foram feitas para o mercado francês, para o mercado nacional ainda não foi anunciado o preço a versão elétrica, por isso teremos que esperar para fazer as “nossas” contas. Mas já há conclusões a tirar

Transição energética está em marcha

A prova de que a transição energética está em curso é dada, segundo a Peugeot, pelas encomendas já aceites para o recém lançado 208: 15% dos compradores, particulares e empresas, estão já a preferir o e-208, a versão elétrica.

O 2008 é a versão SUV do 208 e, em conjunto, os dois modelos representam 40% das vendas da marca. E como, em apenas dois meses, foram ambos renovados, percebe-se a importância do momento.

Se as vendas correrem bem, a Peugeot pode estar à beira de uma subida no “ranking” das vendas europeias. Mas o 2008 não é um produto para a Europa, é um carro global, como o prova a escolha da China como o primeiro mercado para o seu lançamento.

Teste exclusivo

Num evento organizado em exclusivo para os jurados do Car Of The Year, do qual tenho a honra de fazer parte, a Peugeot colocou à nossa disposição a gama do novo 2008, para testes nas estradas secundárias perto de Marselha, França.

Foi a oportunidade perfeita para tirar a dúvida de muitos potenciais compradores: já chegou a altura de comprar a versão elétrica?…

As primeiras impressões

As primeiras impressões são comuns a todas as versões e começam pelo visual exterior, que se aproxima muito do SUV 3008.

O 2008 é quase uma versão à escala, com muitos pontos em comum, como o desenho dos faróis, a barra negra que une os farolins traseiros, o perfil vincado, o desenho do tejadilho, do portão traseiro e também a pintura a duas cores.

O estilo foi bem adaptado às dimensões do 2008 e resulta muito bem. Não esquecer que o novo 2008 é maior que o modelo que substitui, que pouco mais era do que uma versão carrinha, com suspensão alta, do 208 da anterior geração.

Agora é “mais SUV”

O novo 2008 é bem “mais SUV”, com linhas mais “quadradas”, volumes melhor definidos e uma pose na estrada que o afasta do 208.

Apesar de partilharem a plataforma CMP, o 2008 tem mais 65 mm de distância entre-eixos que o 208 e isso faz toda a diferença, colocando-o no topo do segmento B-SUV com 4,3 metros de comprimento.

No interior, o cuidado posto na qualidade dos materiais tem que ser sublinhado, representando uma subida clara face ao 2008 antigo e posicionando-se no topo do segmento.

A escolha de um painel de instrumentos digital, com duas camadas sobrepostas, como se tivesse um ecrã plástico de um “head-up-display” à frente do monitor, dá-lhe um efeito tridimensional que traz uma nota de inovação ao segmento.

O efeito holograma

A Peugeot diz que é como um holograma, com a informação mais urgente e importante a “saltar” para o primeiro plano, sempre que necessário, reduzindo o tempo de reação do condutor em meio segundo.

Já a colocação alta do painel de instrumentos e a presença de um volante pequeno, com formato a tender para o rectângulo, é a continuação de um conceito estreado no 208 anterior.

O condutor tem que ler os instrumentos por cima do volante, mas isso obriga a regular a altura do volante para uma posição mais baixa que o normal. Uns gostam, outros não se importam, no meu caso, continuo a não apreciar.

Ao centro da consola está o monitor tátil (que pode chegar às 10”, consoante a versão) com o usual teclado, por baixo, dando acesso aos atalhos que facilitam a sua utilização. Os comandos da climatização continuam lá integrados, o que não é a melhor opção.

Por exemplo, o Opel Corsa, que partilha a mesma plataforma CMP, tem esses comandos separados, em botões físicos, o que é bem mais prático.

Muito espaço

A posição de condução é boa, mais alta que no modelo anterior o que facilita a visibilidade para diante, o habitual trunfo dos SUV.

Nos lugares de trás, há espaço suficiente para três crianças ou dois adultos, que não vão bater com as pernas no banco da frente. A não ser que tenham mais de 1,90m de altura, como demonstrou o meu colega da Holanda.

Entrar e sair para o habitáculo é também muito fácil, a capacidade da mala atinge uns generosos 434 litros.

O Diesel, para começar

Numa altura em que todos falam de elétricos, é bom não esquecer que ainda são as versões com motores térmicos a dominar as vendas, tanto a particulares como a empresas. Por isso o primeiro que levei para a estrada foi o Diesel 1.5 BlueHDI, na versão de 130 cv.

Associado à caixa automática de oito velocidades, este motor tem binário mais do que suficiente (300 Nm) para uma condução bem despachada. Com forte elasticidade nos regimes médios e inferiores.

A caixa é suave e rápida em modo automático e reage bem à utilização manual, utilizando as patilhas fixas à coluna de direção, que são pequenas.

A suspensão, independente MacPherson, à frente e de eixo de torção, atrás, proporciona um comportamento bem controlado, sem exagerada inclinação lateral em curva.

Consegue também passar por cima dos pisos desnivelados sem incomodar muito os ocupantes, mas quando as irregularidades são mais abruptas, reage de forma mais brusca do que estava à espera. Culpa talvez das jantes de 18 polegadas

A Peugeot anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 9,3 segundos e consumo combinado de 4,8 l/100 km. Em Portugal, os preços deste Blue HDI 130 começam nos 30 350 euros.

Topo de gama é o gasolina com 155 cv

No topo da gama 2008 está a versão de 155 cv do motor 1.2 turbo de três cilindros, uma versão que não está disponível no 208. Pelo contrário, o 2008, não tem a versão de 75 cv deste motor (sem turbo), que faz a base da gama do 208.

Também o testei com a caixa automática de oito relações, a única disponível nesta motorização, e esta versão mostrou obviamente um desempenho superior que coloca mais desafios à suspensão.

Nas estradas estreitas, húmidas e com curvas nem sempre fáceis de adivinhar, este 2008 mostrou uma boa agilidade da frente, que se consegue colocar com rapidez na trajetória escolhida.

A entrada em ação do controlo de estabilidade não é brusca e, com o piso molhado, até pode ser aproveitado para manter o carro dentro da faixa, sem necessidade de desacelerar.

A traseira não é sensível a desacelerações bruscas durante uma curva, o que os condutores mais “atrevidos” podem criticar, mas que para a esmagadora maioria é uma vantagem, até tendo em conta que se trata de um SUV.

Nesta versão, a utilização dos modos de condução faz alguma diferença, com o modo Sport a tornar a direção menos leve e o acelerador mais sensível. O motor tem um perfil de utilização muito bom, com vontade de colaborar a todos os regimes.
A aceleração 0-100 km/h faz-se em 8,2 segundos, consumo combinado de 6,2 l/100 km e preço deste Pure Tech 155 começa nos 32 250 euros, em Portugal.

Versão a gasolina de 130 cv

Conhecida de muitas outras aplicações, a versão de 130 cv deste mesmo motor também está disponível, com um ligeiro decréscimo de performance, mas não muito pronunciado.

Continua a ser um motor com bastante força, um motor “redondo” como se costuma dizer, ou seja, com binário (230 Nm) disponível a todos os regimes e dá-se bem com a caixa manual de seis velocidades.

A dinâmica não perde muito com a descida de 25 cv mas nota-se que as performances estão ligeiramente abaixo e que isso coloca menos questões à suspensão. 0-100 km/h em 8,9 segundos, consumo médio de 5,7 l/100 km e preço em Portugal desde os 22 970 euros, para este PureTech 130.

Diesel de 100 cv

A segunda versão Diesel disponível tem 100 cv e testei-o com caixa manual de seis relações. A caixa é muito fácil de usar, com o “H” bem definido, suficientemente rápida e suave.

Claro que tem a sexta relação longa, para diminuir os consumos na autoestrada. Quanto aos 100 cv, aqui no 2008 não mostraram o vigor que lhe conheço de outros modelos onde já o testei.

Tem uma elasticidade razoável (250 Nm de binário) nos regimes intermédios, mas é menos vivo nas rotações mais baixas e tem dificuldade em lidar com as mais altas. E, muitas vezes, com um volume sonoro um pouco exagerado. Os 0-100 km/h são feitos em 11,4 segundos, o consumo combinado é de 4,5 l/100 km e o preço base deste Blue HDI 100 é de 25 200 euros.

O elétrico e-2008

Para o final ficou a versão elétrica que anuncia uma potência máxima de 100 kW, o equivalente a 136 cv. O aspeto exterior apenas se diferencia pela grelha, pintada na cor da carroçaria.

A Peugeot concluiu que os seus clientes preferem uma versão elétrica que seja esteticamente igual às restantes. Além de assim conseguir tornar o projeto mais rentável, não só em termos de custos industriais como até de marketing, pois não precisa de fazer campanhas específicas para a versão elétrica.

Do ponto de vista do condutor, as únicas diferenças são o conteúdo do painel de instrumentos, que passa a ter os indicadores de carga da bateria e de consumo de eletricidade. A própria alavanca da caixa é a mesma da versão automática.

Modos de condução

Há também três modos de condução disponíveis, Eco/Normal/Sport e cada um define uma cartografia para o acelerador que se nota claramente em utilização.

O primeiro modo é para quem quer fazer render a autonomia máxima anunciada de 320 km, ou para as alturas em que a bateria está a chegar ao fim.

O modo Sport, para quando se quer sentir o binário máximo instantâneo (300 Nm de pico) do motor elétrico; e o Normal será o modo mais utilizado.

A suspensão traseira teve que levar uma barra Panhard de reforço, para lidar com os 1548 kg (mais 356 kg que o PureTech 100) resultado da presença da bateria sob os bancos e túnel central.

A primeira aceleração a fundo proporciona um arranque convincente, sobretudo nas primeiras centenas de metros, depois a preservação da bateria tem prioridade.

Em curva, nota-se que o e-2008 tem um centro de gravidade baixo, pela pouca inclinação da carroçaria e pela sensação de estabilidade. Mas com o piso húmido, foi o único a fazer entrar em ação o controlo de tração com frequência. E  nota-se o peso, quando se trava.

Dois níveis de regeneração

Há dois níveis de regeneração, o normal “D” e o “B”, que se ativa puxando para trás a alavanca da transmissão de uma única relação.

No primeiro modo, o carro rola quando se desacelera, sendo ideal para aproveitar a inércia a velocidades mais altas.

Em “B”, a maior regeneração faz maior efeito de retenção, o que se adapta bem ao trânsito citadino.

Mas o pedal não foi feito para ser conduzido só com o acelerador, é preciso travar, para que os novatos nos carros elétricos não estranhem tanto o efeito de travão motor elétrico.

A bateria de 50 kWh anuncia autonomia para 310 km, com tempos de recarga total que vão das 16h00, numa tomada doméstica, passando pelas 8h00, numa wallbox de 7,4 kW e pelos 30 minutos, para ir dos 0 aos 80% num carregador rápido de 50 kW.

A aceleração 0-100 km/h e o consumo ainda não foram homologados e o preço ainda não foi anunciado.

Equipamentos

O 2008 apenas estará disponível em versões de tração à frente, com o conhecido controlo de tração Grip Control com opção.

Passa a disponibilizar um alargado conjunto de ajudas à condução, com destaque para a centragem de faixa, travagem de emergência com reconhecimento de peões e ciclistas e Cruise Control com stop & go.
Os níveis de equipamento vão do base Active ao GT, passando pelo Allure e GT-Line.

Conclusão

Depois de ter guiado (quase) todos os novos 2008, fiquei com a convicção que há um para cada tipo de utilizador.

Os Diesel, para quem faz muitos quilómetros em estrada continuam a ser imbatíveis em consumos e autonomia. Os motores a gasolina são os mais extrovertidos, os que melhor trazem ao de cima as virtudes dinâmicas do 2008.

Faltou guiar o Pure Tech de 100 cv, que não estava disponível e deverá ser o mais vendido no nosso país. O seu preço será o mais baixo da gama: 21 500 euros.

Quanto ao elétrico, será a escolha para quem queira fazer já a sua transferência energética, ou acrescentar uma novidade à frota familiar.

Chegou então a altura de comprar o 2008 em versão elétrica?… Tendo onde o carregar, sem estar dependente dos postos públicos e dada a autonomia de 310 km, parece começar a ser uma alternativa interessante. Mas falta saber o preço final, para conseguir resolver esta equação.

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