VW Amarok 2.0 TDI 4Motion (fotos de João Apolinário)

Detalhes típicos da Volkswagen

4Motion com diferencial central de embraiagem multidisco

Dimensões exteriores aumentaram

Pneus all-terrain 255/65 R18 e estribos para subir

Segunda geração VW Amarok em "joint-venture" com Ford Ranger

Estilo da Amarok muito diferente da Ranger

Boa qualidade de materiais no habitáculo

Painel de instrumentos digital fácil de ler

Ecrã tátil vertical não é muito grande

Botões de atalho para algumas funções

Alavanca da caixa com botão para comando manual

Botão rotativo para escolher modo de transmissão

Espaço atrás limitado pela posição direita das costas do banco

Bons bancos, confortáveis e com apoio

Pneus "all-terrain" condicionam comportamento em estrada

Condução típica de uma pick-up, sem a precisão de um SUV

Aceleração 0-100 km/h anunciada em 10,5 segundos

Motor 2.0 TDI é de origem Ford na Amarok

A segunda geração da pick-up Amarok chega ao mercado com um produto totalmente diferente. Passa a ser o resultado de uma “joint-venture” com a Ford, num projeto que passa pela Austrália e pela África do Sul. Saiba o que mudou em mais um Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

 

A primeira geração da pick-up Amarok, lançada em 2010, foi a estreia da VW num segmento onde não tinha experiência própria. Em termos de produto, não tinha muito por onde criticar, incluindo até algumas vantagens, das quais a condução mais próxima à de um SUV não era das menores.

Dimensões exteriores aumentaram

Mas o mercado não respondeu com o volume de procura que a VW desejava e o projeto acabou por terminar discretamente em 2022, com 830 000 unidades fabricadas. Contudo, a marca alemã não se despediu do segmento das pick-up, que tem registado algum sucesso na Europa, sobretudo dos clientes “lifestyle”.

Ford & VW

Num acordo que se mostrou particularmente útil para ambas as partes, a VW e a Ford decidiram partilhar aquilo que cada grupo tem de melhor, e o outro não tem. Do lado da VW, a plataforma 100% elétrica MEB foi disponibilizada à Ford, que a vai usar no novo Explorer 100% elétrico.

Estilo da Amarok muito diferente da Ranger

Do lado da Ford, a partilha vem dos veículos comerciais, nos quais se inclui a quinta geração da pick-up Ford Ranger. É assim que nasce a segunda geração da Amarok, com o trabalho a ter início em 2018.

Hardware Ford

A plataforma T6, com chassis de longarinas e travessas e carroçaria separada, foi concebida pela Ford, que também fornece os motores Diesel, apesar de a VW lhes dar o seu habitual nome TDI. A tecnologia de infotainment também é Ford. Mas a VW teve uma palavra a dizer em termos de materiais e qualidade do interior, bem como na afinação da suspensão para uso em estrada.

Segunda geração VW Amarok em “joint-venture” com Ford Ranger

O projeto foi desenvolvido na Ford Austrália, que se tem estabelecido como especialista neste assunto, depois de ter ganho enorme fama com as duas gerações da versão desportiva Ranger Raptor. Mas a construção da Ranger e Amarok é feita na linha de montagem da Ford na África do Sul.

Estilo é Volkswagen

É verdade que a suspensão traseira é de eixo rígido com molas de lâminas semi-elípticas, o que está longe de ser a melhor solução em termos de conforto, mas é sem dúvida a razão pela qual a Amarok de cabine dupla suporta cargas até 0,959 toneladas, numa caixa de carga com 2,62 m2 e reboca até 3,5 toneladas, com travão.

Detalhes típicos da Volkswagen

Entre a Ranger e a Amarok, os únicos painéis exteriores iguais são o tejadilho, as capas dos retrovisores e os fechos das portas, todo o resto do estilo da VW se alinha com os modelos mais recentes da marca, sobretudo os SUV. Tem pose e alguma elegância.

Mais competente

Face à primeira geração, o comprimento aumentou de 5,32 para 5,35 metros e a distância entre-eixos de 3,1 para 3,27 metros. O peso total é de 2321 kg, nesta versão 2.0 TDI, que tem 205 cv e um binário máximo de 500 Nm. O motor tem dois turbocompressores, que trabalham em sequência, e está acoplado a uma caixa automática de dez relações.

Boa qualidade de materiais no habitáculo

Num primeiro contacto, a Amarok, como todas as pick-up deste segmento, é ligeiramente intimidante, pelas dimensões. O estribo sob as portas é mesmo útil para içar o corpo a bordo, existindo pegas do lado interior dos pilares para ajudar.

Muito comprida

Claro que a posição de condução é bem alta, ao nível de alguns comerciais não muito ligeiros. Mas a visibilidade é muito boa em todas as direções. Contudo, é preciso não esquecer que, atrás do vidro vertical traseiro, ainda há uma grande caixa de carga para manobrar.

Ecrã tátil vertical não é muito grande

A largura de 2208 mm, incluindo os enormes retrovisores, obriga a atenção redobrada em estacionamentos ou por ruas mais estreitas e o diâmetro de viragem de 12,9 metros também não ajuda. Os sensores e as câmaras são essenciais.

Habitáculo de bom nível

O habitáculo tem uma mistura de materiais duros e outros com melhor aspeto, até com pele sintética e pespontos, além de superfícies de efeito metálico. O painel de instrumentos digital é razoavelmente fácil de ler e o ecrã tátil central, disposto na vertical, não é muito grande, nem muito intuitivo.

Bons bancos, confortáveis e com apoio

Há alguns botões físicos de atalho em rodapé, por exemplo o dos modos de condução que permite escolher entre seis opções: Normal/Eco/Rebocar, transportar/Escorregadio/Lama, terra/Neve, areia intensa.

A alavanca da caixa automática é deslizante e pouco precisa em manobras, enquanto que a escolha dos modos de tração se faz num comando rotativo. As possibilidades de escolha cobrem todas as situações: 2H, 4A, 4H, 4L.

Os 4 modos de tração

A posição 2H usa apenas a tração atrás e serve para asfalto seco e para reduzir consumos, a posição 4A passa à tração às quatro rodas, gerida a partir de uma embraiagem central multidiscos, que envia força para a frente se e quando necessário.

Botão rotativo para escolher modo de transmissão

A posição 4H bloqueia a embraiagem central, garantindo 50% de binário por eixo e a posição 4L faz o mesmo, mas aciona as redutoras. Além disso, ainda há um botão para o bloqueio elétrico do diferencial traseiro.

Espaço há, mala é que não

Nos lugares da frente sobra espaço, os bancos são confortáveis e têm apoio lateral suficiente. O volante está bem posicionado e tem ajustes amplos. Na segunda fila, o espaço para as pernas é suficiente e a altura também, mas o encosto do assento é muito vertical e o lugar do meio é estreito.

Espaço atrás limitado pela posição direita das costas do banco

Como em qualquer pick-up, não optando por uma tampa para a caixa de carga, como é o caso desta unidade testada, qualquer bagagem pequena tem que ser acomodada algures no habitáculo.

Em cidade

Comecei este Teste TARGA 67 em cidade, com o modo Eco ligado. O motor tem uma boa resposta a baixo regime mas o seu som não esconde que funciona segundo o ciclo Diesel. Contudo, as vibrações que chegam ao habitáculo são poucas.

Painel de instrumentos digital fácil de ler

A caixa automática de dez relações com conversor de binário é suave o suficiente em cidade, apenas com algumas hesitações a muito baixa velocidade. Não há patilhas no volante, para mudar de relação manualmente existe um botão balanceio na face lateral esquerda do punho da caixa, nada prático.

Desconfortável

A direção não está demasiado assistida e até tem um tato correto, mas obriga a movimentos amplos dos braços. O pedal de travão também pede alguma força.

Aceleração 0-100 km/h anunciada em 10,5 segundos

A maior crítica surge quando aparece o mau piso e, sobretudo, as bandas sonoras ou passadeiras elevadas. A suspensão dianteira gere bem os movimentos das rodas dianteiras, mas o mesmo não se pode dizer da suspensão traseira, que se mostra muito dura e intolerante, causando desconforto.

Consumos razoáveis

No meu habitual teste de consumos em cidade, sempre com A/C desligado, em 2H, no modo Eco, registei um valor de 9,8 l/100 km em cidade. Considerando o peso, a presença da caixa automática e a ausência de qualquer sistema híbrido, não se pode considerar um valor muito elevado, para uma pick-up.

Quando passei para a autoestrada, circulando a 120 km/h estabilizados, o consumo desceu para 8,4 l/100 km, apesar da difícil aerodinâmica. Com depósito de 80 litros, a autonomia real é de 952 km, em autoestrada.

Alavanca da caixa com botão para comando manual

Nesta utilização, a estabilidade em reta é boa e os movimentos parasita só surgem em pisos muito desnivelados; o ruído do motor Diesel faz-se sentir com maior intensidade, bem como os ruídos aerodinâmicos, mas os pneus fazem pouco ruído.

A questão dos pneus

Falando de pneus, que é sempre uma questão importante numa pick-up, dependendo do tipo de utilização que se lhe quer dar, esta Amarok está equipada com uns GoodYear Wrangler Territory AT/S, pneus “híbridos” com boas capacidades fora de estrada, sem perder toda a competência no asfalto.

Pneus all-terrain 255/65 R18 e estribos para subir

Em estrada secundária com muitas curvas, claro que se nota a altura da Amarok quando chega a altura de curvar. A inclinação lateral não é exagerada, mas é maior que num SUV. A direção também é menos precisa e menos rápida, se bem que neste caso até fique acima da média para uma pick-up.

Motor tem força

A força dos 500 Nm fica bem patente quando se acelera, com a Amarok a avançar com decisão, bem ajudada pela caixa de dez velocidades, necessária porque a franja de funcionamento ótimo do motor é relativamente estreita. A VW anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 10,5 segundos, que parece mais rápida na realidade.

É preciso alguma força no pedal de travão para perder velocidade nas zonas de travagem e, exagerando na entrada em curva, a subviragem aparece cedo, pois estes pneus são um compromisso.

Pneus “all-terrain” condicionam comportamento em estrada

Pelo mesmo motivo, quando se reacelera à saída das curvas, sobretudo com piso escorregadio ou molhado e em modo 2H, a sobreviragem pode surgir com alguma brusquidão, chamando o ESC com urgência.

Entre 2H e 4A

Tudo se torna bem mais tranquilo selecionando a posição 4A, ganhando-se em tração e estabilidade, contornando um pouco as insuficiências deste pneus no asfalto húmido. Vale bem a pena estar atento às alterações de aderência, para alternar entre 2H e 4A.

4Motion com diferencial central de embraiagem multidisco

Passando a caminhos de terra, ganha-se de imediato um nível de conforto que o piso poderia fazer julgar impossível. Quanto maior for a carga que se coloca sobre a suspensão, melhor ela trabalha. O curso longo resolve quase tudo, bem ajudado pela tração dos pneus.

Nada a pára, na terra

Dos vários modos disponíveis, experimentei os mais adequados para a terra seca que encontrei, usando quase sempre a posição 4A da transmissão. O motor tem força mais do que suficiente para andar em caminhos de terra, mesmo com algumas inclinações mais severas.

Procurando obstáculos mais exigentes, foi altura de passar a 4H e ligar as redutoras, para ver a Amarok escalar taludes que seriam difíceis de transpor a pé. Colocando uma roda no ar de cada vez, a transmissão consegue enviar força para as outras três, com a caixa automática a tornar tudo simples e suave.

Condução típica de uma pick-up, sem a precisão de um SUV

Numa situação mais exigente, foi preciso bloquear o diferencial traseiro para chegar ao topo do obstáculo, sempre com a altura ao solo de 229 mm a evitar tocar com o fundo no chão; nem com os para-choques, pois os ângulos são muito bons: 30 graus, no ataque, 21 graus, ventral e 23 graus, na saída. A passagem a vau subiu de 500 para 800 mm.

Conclusão

A VW Amarok talvez tenha perdido um pouco do tato de condução mais próximo de um SUV, que de uma pick-up que tinha a primeira geração. Mas ganhou em tudo o resto. Tem um habitáculo de bom nível, estilo distintivo e uma utilização versátil, dentro de certos limites. Claro que é enorme e isso dificulta a vida no dia-a-dia citadino. Mas para quem esteja disposto a lidar com isso, para ter um veículo com capacidades fora de estrada que poucos outros conseguem superar, é uma boa opção, se bem que não seja propriamente barata.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

VW Amarok 2.0 TDI 4Motion

Potência: 205 cv

Preço: 64 073 euros

Veredicto: 3,5 estrelas

 

Ler também, seguindo o link:

Teste – Toyota Hilux: É para isto que serve uma pick-up!…