Lexus LC500 Cabrio (fotos de João Apolinário)

Jantes de 21" com pneus 245/40, na frente e 275/35, atrás

A tradicional grelha da Lexus identifica o modelo

No Cabrio, só há motor V8 a gasolina

Puxadores encastrados para melhorar aerodinâmica

A silhueta não sofre com a capota fechada

Uma silhueta mais clássica, no Cabrio

O LC500 Cabrio foi lançado em 2019

Habitáculo luxuoso com muita qualidade

Bancos têm aquecimento de pescoço

Consola central com alavanca da caixa automática

Muito boa posição de condução

Defletor de vento evita turbilhões no habitáculo aberto

Painel de instrumentos digital

Bancos dianteiros muito confortáveis

Muito pouco espaço nos lugares de trás

"Touchpad" para comandar o ecrã central

Capota elétrica desce em 15 segundos

Caixa automática de 10 relações tem patilhas

Modos de condução são Eco/Normal/Sport/Sport+/Custom

Tendência sobreviradora é surpresa e muito divertida

Condução muito suave com um V8 que entusiasma

Cabelos ao vento e um V8 a "ronronar" aos ouvidos

Grande conforto de rolamento surpreende no LC500

Um Lexus sem motorização híbrida é uma raridade, na Europa. Mas, nos EUA, um descapotável com desenho de sonho, motor V8 atmosférico e tração atrás ainda faz todo o sentido. Aqui fica o teste do LC 500 Cabrio, para memória futura.

 

Um Lexus em teste costuma ser sinónimo de verificar consumos, analisar a eficiência e deslindar o sistema híbrido. Mas, desta vez é diferente. O LC500 cabrio não tem motor híbrido. Em vez da bateria, dos motores elétricos, da transmissão híbrida e daquele arranque silencioso, este LC500 tem um belo motor 5.0 V8 a gasolina.

No Cabrio, só há motor V8 a gasolina

Aqui está a Lexus, a marca líder nos híbridos premium, a mostrar que também sabe jogar o jogo dos “old school”. E não o fez de qualquer maneira. Não chegava um V6 turbo, tinha mesmo que ser um V8 atmosférico, o mais puro símbolo da exuberância mecânica.

Parece um “concept-car”

Sendo um Lexus, claro que não há lugar a estilo nostálgico, eufemismo para cópia de um carro antigo. Os Lexus olham sempre para o futuro, quer se goste ou não. As linhas do LC já não são novidade, o coupé foi apresentado em 2016 e este cabrio em 2019.

A tradicional grelha da Lexus identifica o modelo

Tem ares de “concept-car”, com as suas linhas ousadas. É largo e baixo, faz lembrar um carro do Michel Vaillant. Para mim, o que mais me impressiona é a reduzida altura da frente, pouco mais alta do que as jantes de 21” calçadas com pneus de perfil 40.

Muitos perguntaram “que Lexus é este?” e isso diz tudo do sucesso do design do LC e da imagem da marca

O estilo cabrio talvez lhe dê um ar um pouco mais clássico, mas é mesmo só um pouco. Ninguém que o viu passar perguntou “que carro é este?” mas muitos perguntaram “que Lexus é este?” e isso diz tudo do sucesso do design do LC e da imagem da marca.

Luxo no interior

Depois de deixar os olhos estudar todos os ângulos da carroçaria, abrir a porta e entrar para o habitáculo é quase um anti-climax.

Claro que a qualidade dos materiais e da montagem é de primeiro plano, claro que o geral da ergonomia está correta. Mas o ambiente é muito mais tradicional: gera admiração, não gera espanto.

Habitáculo luxuoso com muita qualidade

Dito isto, o interior forrado a couro dá o mote para a personalidade deste LC500 cabrio. O ênfase vai todo para o luxo, para uma certa ideia de bem-estar que é muito própria da Lexus e muito distante dos rivais alemães.

Ao volante

A posição de condução é baixa o suficiente, a coluna de direção tem o ângulo certo e o volante “cai” perfeitamente nas mãos. Há duas grandes patilhas metálicas para comandar a caixa automática de 10 velocidades e um painel de instrumentos digital, com um anel metálico que desliza para o lado.

Caixa automática de 10 relações tem patilhas

O ecrã digital central tem um aspeto antiquado, o que mostra bem a velocidade da evolução destes componentes nos últimos anos. E ainda é comandado pelo “touchpad” que não se consegue usar bem com o carro em andamento e já está a ser abandonado pela marca.

Pouco espaço

O LC (Luxury Coupé) é um 2+2 mas os lugares de trás quase não têm espaço para as pernas. Num carro de 4,76 metros, seria de esperar melhor. Mas há razões para isso. Neste caso, a razão é a presença, entre os bancos e a mala, do compartimento para a recolha da capota.

Muito pouco espaço nos lugares de trás

É o mesmo espaço que é usado no coupé para a bateria da versão híbrida. Por isso o LC Cabrio não tem disponível a versão V6 híbrida, não há onde guardar a bateria, tanto mais que a capacidade da mala já é só de 197 litros.

O comando elétrico abre a capota em 15 segundos (fecha em 16s…) o que se pode fazer em andamento até aos 50 km/h

A capota é feita de quatro estratos, para garantir uma insonorização próxima à do coupé e tem comando elétrico que a abre em 15 segundos (fecha em 16s…) o que se pode fazer em andamento até aos 50 km/h.

Aquele som do V8

Muito bem sentado no banco envolvente a que nem falta aquecimento do pescoço, ligo o V8 e os ouvidos são presenteados pelo som compassado e grave típico dos motores com esta arquitetura. É verdade que nem tudo é… verdade.

Painel de instrumentos digital

Há um sintetizador que “reforça” o som através dos altifalantes do carro e um sistema que regula borboletas no escape. Mas está tudo tão bem feito que parece 100% genuíno.

Irresistível dar uma aceleradela e ouvir o V8 atmosférico a subir de regime. Se os V8 vão sendo raros, os V8 sem turbos ainda mais.

Este da Lexus sobe de regime com rapidez e extrema suavidade. Não é um V8 “bruto” à americana, apesar de os EUA serem o seu principal mercado. É um V8 feito como uma peça de relojoaria.

Modo… Suavidade

A caixa é muito suave no arranque e o LC500 surpreende pelo conforto da suspensão. As jantes de 21” não contaminam o trabalho dos amortecedores variáveis no modo de condução Comfort. Há também os modos Eco/Normal/Sport/Sport+/Custom.

Modos de condução são Eco/Normal/Sport/Sport+/Custom

Em mau piso, notam-se algumas vibrações estruturais, inevitáveis quando se “corta” o tejadilho a um carro deste tamanho. Mas os reforços estruturais aplicados no piso e em redor do habitáculo minoram a questão.

Medida americana

Em cidade, a largura de 1,92m, a posição de condução baixa e a grande inclinação do para-brisas não ajudam nas manobras, nem nas ruas mais estreitas. Se a capota for fechada, claro que tudo se torna ainda mais difícil. Mas a direção às rodas de trás dá uma ajuda.

Uma silhueta mais clássica, no Cabrio

O LC500 cabrio foi feito pela medida americana e isso não se nota apenas nas dimensões, o consumo que registei no meu habitual teste de cidade, com A/C desligado, não baixou dos 14,2 l/100 km. Sempre a andar dentro da lei.

Contudo, na “highway”, o V8 gasta muito menos, como pude comprovar a rolar tranquilamente a 120 km/h. Assim, o computador de bordo ficou-se por uns muito mais aceitáveis 7,3 l/100 km.

Capota excelente

Aproveitei a autoestrada para testar a capota. Fechada, isola muito bem do ruído, que no LC500 já é muito reduzido, seja o originário dos pneus a rolar, seja da aerodinâmica.

Capota elétrica desce em 15 segundos

Abrindo a capota, mas mantendo os vidros para cima e contando com um defletor de policarbonato entre os encostos de cabeça traseiros, os turbilhões permanecem fora do habitáculo até aos 120 km/h.

Mas a melhor maneira de usufruir do LC500 cabrio, logicamente não é na autoestrada. Impunha-se escolher uma boa estrada para um “passeio” ao som do ronronar do V8.

Embalado pelo V8

O motor é muito suave a baixas rotações e não tem a explosão de binário típica dos turbocomprimidos. Chega aos 530 Nm apenas às 4800 rpm. Pede para ser usado de outra forma, “puxando” mais pelas rotações, usando as mais altas, o que para o V8 é um prazer que dura até às 7500 rpm.

Cabelos ao vento e um V8 a “ronronar” aos ouvidos

A caixa automática é aqui uma boa aliada, respondendo com rapidez e obediência a sucessivas reduções. O V8 tem um trabalhar equilibrado e progressivo à medida que sobe o regime, por volta das 4500 rpm ganha um novo ímpeto e dá o seu melhor para lá das 7000 rpm, o que torna a sua utilização quase viciante.

Pesado, mas rápido

Mais ainda, usando os modos Sport ou Sport+, nos quais o som sobe a um volume e tonalidade que faz vibrar (literalmente…) qualquer condutor que goste de motores desportivos.

São 477 cv disponíveis às 7100 rpm, o que chega para fazer os 0-100 km/h em 5,0 segundos. Só não faz melhor porque o peso ascende aos 2035 kg, mais 105 kg que o coupé.

Em estradas com traçado fluído, sem curvas lentas, o LC500 cabrio é um prazer de guiar. Mais devagar ou mais depressa, com a capota para baixo, embalado pelo som do V8 e pelo excelente conforto.

E nas estradas difíceis?

Mas a curiosidade de saber como seria a dinâmica em estradas mais exigentes, levou-me inevitavelmente para outros terrenos, mais sinuosos, com asfalto menos perfeito e curvas menos previsíveis.

Tendência sobreviradora é surpresa e muito divertida

Neste cenário, o LC500 Cabrio mostrou que o tamanho e o peso não castigam tanto a dinâmica como se poderia supor. A frente sente-se ligeira e rápida a reagir, resultado do posicionamento recuado do motor que dá uma distribuição de pesos quase de 50:50.

Mesmo se a direção não é tremendamente rápida, a direção às quatro rodas compensa muito bem, sentindo-se o efeito, sem se sentir o processo.

Sobrevirador? Que surpresa!

Mas a surpresa vem depois. Em aceleração sustentada ao longo da curva, a tendência inicial é a sobreviragem ligeira. A traseira tende a deslizar um pouco, ajudando a rodar o carro ao longo da curva.

Grande conforto de rolamento surpreende no LC500

É uma atitude inesperada, tendo em conta o acerto confortável da suspensão, mesmo em modo Sport+. Mas é algo que não se impõe ao condutor, está lá para quem for à procura dela.

Claro que o ESC controla sempre a situação na altura certa, mas desligando-o completamente, podemos usufruir em pleno da tração traseira e do diferencial Torsen. Uma deriva de maior ângulo está à distância de uma aceleração mais decidida.

Melhor no bom piso

Em geral, a correção é fácil de aplicar, o carro dá tempo para isso. Mas em pisos em pior estado, devido à menor rigidez da estrutura, o ponto em que a traseira começa a deslizar pode não ser fácil de antecipar.

Para um europeu, um carro como este sabe hoje a despedida, já com uma lágrima de saudade

Curiosamente, conclui que, querendo gozar as delícias das derivas de potência, é melhor provocar mais do que menos, pois as reações acabam por ser mais lineares, quando se quebra francamente a aderência do eixo traseiro.

Conclusão

Para um europeu, um carro como este sabe hoje a despedida, já com uma lágrima de saudade. Com toda a pressão da eletrificação que se sente na Europa, pode mesmo parecer já uma máquina do passado. Mas nos EUA a transição energética não corre à mesma velocidade e, para muitos, um LC500 cabrio com o seu V8 5.0 ainda faz todo o sentido.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Lexus LC500 Cabrio F Sport+

Potência: 477 cv

Preço: 189 000€

Veredicto: 4 (0 a 5)

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