Lombas sonoras causam mais poluição

A suspensão sofre nas lombas

Por lei, altura máxima de 10 cm

As lombas são "castigo" não são prevenção

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23/07/2021. Um teste realizado pela revista francesa “L’Automobile”, concluiu que as lombas sonoras podem aumentar em 28% a poluição dos automóveis. Caso para pensar se não estaremos a tapar a cabeça e a ficar com os pés de fora.

 

Como muitos da minha geração, comecei o meu longo percurso de leitor de revistas estrangeiras de automóveis pela francesa “L’Automobile”. Outros tempos, em que a cultura francesa tinha em Portugal um ascendente semelhante ao que tem hoje a anglo-saxónica.

Nos anos setenta, as vendas da “L’Automobile” em Portugal eram tão relevantes, que a editora da altura chegou a imprimir cadernos em português para o nosso mercado, uma boa intenção que no fundo era inútil. Pois, por cá, ninguém que a comprava tinha problemas com o francês. Pelo menos quando o texto era sobre carros…

Teste certificado

Na edição deste mês, chamou-me a atenção uma nota de capa sobre um teste que o departamento de ensaios da “L’Automobile” fez sobre lombas sonoras. Assinado pelo meu companheiro de outras lides Christophe Congrega, o trabalho foi feito com o rigor habitual da única revista europeia a ter o seu protocolo de testes certificado pela norma ISO 9001.

Também este teste foi certificado por entidades oficiais, por isso os resultados são para levar a sério. Não se trata de mais um “estudo” daqueles que se “apanha” algures na Internet.

Rigor ou nada

Congrega é um fanático pelo rigor, discutir milímetros ou décimas de segundo é para ele um modo de vida. Em alguns trabalhos em que participámos no passado, mostrou sempre que, sem rigor, nem vale a pena começar a discutir com ele.

Neste teste sobre as lombas sonoras a “L’Automobile”, em associação com uma empresa local, usou uma área fechada para simular um percurso citadino e mandou construir uma lomba sonora.

Estamos a falar daquilo que em Portugal recebe o nome oficial de travessia pedonal elevada, aquelas bandas sonoras longas que têm uma plataforma onde é pintada uma passadeira.

Quem as manda fazer

Em França, como em todo o lado, o problema que se coloca é o do rigor (lá está…) de quem constrói as ditas lombas sonoras. Se respeita ou não as dimensões estipuladas por lei. Congrega explica no seu trabalho que 40% das lombas sonoras deste género que existem em França, não estão conformes. Ele diz simplesmente que são ilegais.

Daí, ter mandado fazer uma segunda banda sonora “ilegal” ao lado da primeira. A legal, tem 10 cm de altura máxima e a ilegal com 24 cm, representativa do que se faz (mal) em França.

Lá, como cá, são as autarquias responsáveis por mandar fazer todas as medidas de acalmia de trânsito, como as lombas sonoras. Por isso não admira que nem todas sejam iguais. A altura de cada lomba sonora é determinada pela redução de velocidade que se quer impor, quanto mais alta, menos a velocidade. Mas há limites.

A norma em Portugal

Em Portugal, este tipo de obstáculos deve ter 6,6 metros de comprimento, dos quais 3,0 metros são a plataforma elevada onde está a passadeira e o resto são duas rampas suaves, com 1,8 metros de comprimento, cada. Em França, os valores não variam muito.

A altura máxima legal em França é de 10 cm, em Portugal também, mas estas lombas podem ter 7,5 cm ou 9,0 cm de altura. Depende da velocidade a regular. Só que, alguns autarcas, muitas vezes pressionados por acidentes recentes, acabam por exagerar na dose e ultrapassar o máximo.

Poupam vidas, isso é certo

Não contesto o efeito deste tipo de medidas na redução da velocidade. Nem que isso seja, por vezes, o último recurso para convencer os automobilistas a cumprir os limites. Certamente poupam vidas. Mas são um “castigo”, não são uma prevenção.

São um castigo para a mecânica, para a saúde dos ocupantes do carro (pancadas na coluna vertebral), para a atenção do condutor e, em última análise, também para a segurança do trânsito, devido às travagens repentinas.

Aliás, a variedade de alturas é tão grande e difícil de prever, que é fácil ser surpreendido e ter que fazer uma travagem de emergência, ou enfrentar o inevitável e deixar a suspensão encaixar a pancada. Nada disto é o ideal para a segurança, nem para a saúde da mecânica.

Comparar três situações

O trabalho da “L’Automobile” foi comparar as duas lombas, com uma terceira hipótese, a passagem sem nenhuma lomba. A bateria de dados que recolheram incluiu a medição de ruído, aceleração vertical (para medir o conforto) e consumos.

Além disso, fizeram ainda uma análise fotográfica e um relatório de impressões a bordo, cobrindo questões como o conforto, distração na condução e desempenho da suspensão. Usaram dois carros diferentes, um Renault Clio e um Peugeot 3008.

Leia a L’Automobile 902

As conclusões estão no artigo que está publicado na edição da revista que ainda pode ser encontrada nas bancas portuguesas. Por óbvias razões deontológicas, não as vou aqui reproduzir, aconselhando a compra da edição 902 da “L’Automobile”.

Mas tomo a liberdade de citar apenas uma, pelo irónico da questão. Congrega e equipa, com os seus debímetros instalados nos carros mediram os consumos nas três situações: sem lomba, com lomba legal e com lomba exagerada.

E concluíram que, no último caso, o consumo (logo, as emissões poluentes) subiram nada menos que 26%, no caso do Clio e 28%, no caso do 3008!

Conclusão

Enquanto a classe política não poupa esforços na sua cruzada contra as emissões poluentes dos automóveis; por outro lado faz crescer lombas sonoras como se fossem cogumelos, provocando o aumento da poluição… Até para a semana!

Francisco Mota

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