2019 Opel/Vauxhall Corsa winter tests

6/12/2019 Uma parte das informações que pode ler no Targa 67 é obtida juntos dos engenheiros das marcas. Por vezes, uma pergunta bem colocada pode despoletar uma conversa e a revelação de “segredos” interessantes…

 

As marcas têm o hábito de levar alguns engenheiros para as apresentações de novos modelos, de forma a que os jornalistas possam ter interlocutores mais diretos, mais genuínos do que os responsáveis pela comunicação oficial.

Mas todos eles são devidamente instruídos sobre o que podem e o que não podem dizer.

Recebem instruções claras do departamento de comunicação e não se devem desviar de um “guião” que lhes é fornecido.

Só que nem sempre isso acontece e uma pergunta bem colocada, na altura certa, pode despoletar uma conversa que leve à revelação de alguns “segredos” que não era suposto serem ditos.

Ao longo dos anos, tive inúmeros episódios deste tipo e, nos tempos mais recentes, também.

Sem citar nomes ou marcas, para não pôr em causa as minhas fontes, posso ainda assim contar alguns episódios curiosos.

Dizem o que não “devem”

Muito recentemente, estive à conversa com um engenheiro que estava a liderar um projeto de carro elétrico numa das grandes marcas. Depois da conversa na sala da apresentação do modelo, foi ele que me acompanhou no pequeno teste que fiz em seguida na estrada.

A conversa andou por vários temas relacionados com a chamada “transferência energética” e com as exigências que a administração lhe fazia para o carro que estava a desenvolver.

Uma delas foi esta: “queremos patilhas no volante para o condutor poder variar a intensidade da regeneração”.

O meu interlocutor argumentou que isso não aumenta em nada a eficiência do sistema, mas a administração insistia: “quando lhes disse que isso iria aumentar os custos em cinquenta euros, desistiram logo da ideia” disse-me o engenheiro por entre um sorriso irónico.

Custos dominam tudo

O tema é interessante, pois mostra como muitas decisões são tomadas exclusivamente por questões de custos. E nem sempre de custos de peças ou componentes.

Outro engenheiro de outra marca dizia-me há pouco tempo que o lançamento de um controlo de tração específico para condução fora de estrada, numa nova versão elétrica de um novo automóvel, não estaria disponível desde o início da comercialização.

A razão era muito simples: “é preciso adaptar o sistema aos carros elétricos, mas isso demora tempo até se fazerem todos os testes e se chegar a uma calibração certa. Isso tem custos que não podem ser amortizados logo desde o início da comercialização do carro.”

Orgulho desbloqueia conversas

Outro detalhe curioso descobri quando insisti com um outro engenheiro de uma outra marca, para me explicar o que a marca queria dizer quando afirmava que tinha uma versão do seu novo modelo com “mais braços de suspensão”.

Movido pelo orgulho de ter descoberto uma solução nova, este técnico levou-me perto do “seu” carro, abriu o capót e convidou-me a meter a cabeça quase dentro do compartimento para conseguir ver do que se tratava.

Eram dois braços, que uniam cada torre de suspensão à parede “corta-fogo” que separa esta zona do habitáculo. Dizia-me ele: “com isto, conseguimos praticamente o mesmo efeito de uma barra anti-aproximação entre as duas torres de suspensão, mas com peças muito mais pequenas.”

Acrescentava ainda que, “o segredo está nos rebites de aviação, usados para fixar as barras ao corte-fogo.”

A pergunta certa

O orgulho de mostrar um trabalho bem feito ou uma ideia nova é sempre um estímulo para alguns engenheiros dizerem mais do que estava escrito no tal “guião”, mas por vezes são também levados a dar mais detalhes a quem faz as perguntas que demonstram algum conhecimento da matéria.

É vulgar os engenheiros terem um discurso “paternalista” em que simplificam os detalhes para que a mensagem seja compreendida por todos.

Mas quando alguém faz as perguntas certas, são também capazes de dizer um pouco mais.

Tive muitas vezes situações dessas, uma das mais recentes foi com uma marca que estava a fazer uma apresentação numa sala, tinha um expositor com uma plataforma em corte mas, na comunicação oficial não divulgava alguns dos detalhes, que até se podiam ver.

Quando perguntei ao engenheiro, o que estava ali a fazer “aquela” peça, ele acabou por “abrir o livro” e explicar que afinal iria existir uma segunda versão do carro que estava a apresentar, em que aquele dispositivo iria ter um papel fundamental.

Lamento ainda não poder dizer mais sobre isto, mas, neste caso, comprometi-me a cumprir um embargo de publicação para daqui a algumas semanas. São os tais “segredos”…

Conclusão

A comunicação oficial das marcas, sobretudo no capítulo técnico, é muitíssimo controlada. Ninguém quer dizer mais do que deve, ninguém quer tornar públicas informações que possam poupar trabalho a marcas rivais.

Mas a conversa entre pessoas que partilham o interesse e, por vezes, a paixão pelos automóveis, é capaz de fazer vir à superfície histórias e assuntos que deveriam ter ficado no “segredo dos Deuses”.

Francisco Mota

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