Aqui fica um conselho: se o leitor é um fanático do Mitsubishi Lancer Evolution, mais conhecido como Evo, o melhor é não continuar a ler esta crónica. O que vem a seguir pode ferir gravemente a sua suscetibilidade e abalar a sua admiração pela marca japonesa.
Mais do que rumores, fiquei a saber diretamente de uma fonte da Mitsubishi Motors Corporation que o Evo vai voltar, “isso é garantido, só não sabemos ainda quando. A prioridade é refazer o portfólio da marca” adiantou um porta-voz da marca que continuou, “mas não será como o antigo, de certeza.” Então como poderia ser?… “porque não um SUV? Com uma motorização eletrificada, ficaria perfeitamente enquadrado na nossa futura gama de modelos. Uma solução com um motor térmico e três motores elétricos, dois atrás e um à frente, como o nosso concept-car Ground Tourer, é muito interessante…” Tentei esconder o meu choque perante tal ideia, mas claro que não lhe consegui arrancar nenhuma data provável para o lançamento deste futuro Evo SUV elétrico.

A morte de um icone

Contudo, depois de a décima geração do Evo ter deixado de ser produzida, não é de esperar que o novo Evo SUV elétrico ou eletrificado (pode ser um híbrido Plug-in) chegue ao mercado nos próximos dois anos.
Porquê um Evo SUV? Porque os planos da Mitsubishi passam pela especialização da marca como produtora de SUV. Numa apresentação internacional em que estive presente, o porta-voz da marca não se cansou de apontar a Land Rover e a Jeep como exemplos para serem seguidos pela futura Mitsubishi. “Vamos buscar ao nosso passado a inspiração para o futuro” dizia o homem da marca japonesa, numa alusão aos primórdios da companhia, quando chegou a produzir o Willys sob licença. Mas é também uma referência aos tempos áureos das sucessivas gerações do Pajero, que ganharam o Rali Paris-Dakar doze vezes, mais do que qualquer outra marca.

E assim, passam ao esquecimento os quatro títulos consecutivos no WRC, de marcas e de pilotos, com Tommi Makinen.

Agora inserida na Aliança Renault-Nissan, a Mitsubishi comemorou o 100º aniversário, encontrando o seu lugar num conglomerado de marcas que, potencialmente, passa a somar 10 milhões de carros produzidos por ano, ganhando assim ambições ao lugar de primeiro construtor mundial, ultimamente disputado entre a Toyota e a VW. “Não vamos deixar de fazer alguns modelos convencionais, o Space Star e o Colt são nomes ainda com muito potencial” ressalvou o meu interlocutor, “mas fazer um Evo como o antigo, já não faz sentido…” E assim, passam ao esquecimento os quatro títulos consecutivos no WRC, de marcas e de pilotos, com Tommi Makinen.

Futuro está à vista de todos

Quem tenha estado atento aos últimos “concept-cars” da Mitsubishi, poderá ficar com uma ideia muito precisa daquela que será a prioridade da marca para os próximos três anos. Basta “googlar” Ground Tourer para ver de onde virá a inspiração para o próximo Outlander, agendado para 2019. E se procurar por EX verá como será o próximo ASX, planeado para 2020, que será mais pequeno que o atual, posicionado como um SUV do segmento B e com uma versão elétrica. Os nomes dos atuais modelos serão mantidos para garantir alguma continuidade e identificação dos produtos, mas as plataformas e motores vão ser partilhados com a Nissan e Renault, como seria de esperar. Os homens da Mitsubishi ainda vão dizendo que a dispendiosa tecnologia PHEV, de sua autoria, poderá vir a ser partilhada com as outras marcas da Aliança. Mas conhecendo a maneira como trabalha Carlos Goshn, duvido que isso aconteça sem intervenções no sentido de reduzir os custos: a sua política é gastar o mínimo para ganhar o máximo, a fórmula que fez o sucesso do Qashqai, desde o primeiro dia.

Problemas de batismo

Entre os futuros ASX e Outlander fica o Eclipse Cross. É um modelo de transição, ainda feito com base na antiga plataforma que deu origem às sucessivas gerações do Outlander, do ASX e que também foi usada pela Peugeot e Citroën. Mas já tem a nova linguagem de estilo e melhores níveis de qualidade no habitáculo. Este novo modelo, tal como está, não deverá ter uma vida muito longa, pois as lógicas de sinergias industriais apontam para uma rápida passagem para uma plataforma da Aliança. Quanto ao nome, Eclipse Cross, é mais uma reciclagem como a do Space Star, mas não tão forçada. Se o Space Star foi uma escolha de recurso, quando a Mitsubishi percebeu que não podia usar o nome Mirage, já registado por outra marca. O Eclipse Cross foi reciclado de um esquecido desportivo da marca com esta explicação: “testámos 400 nomes e não gostámos de nenhum. Por isso decidimos usar um nome que ainda tínhamos registado.”

Conclusão

Se não seguiu o meu conselho e leu esta crónica até ao fim, então aqui fica uma dica: se encontrar uma das gerações do Lancer Evolution à venda, em bom estado, pode estar perante uma boa oportunidade de investimento, um futuro carro de coleção, com valorização assegurada. Eu, pelo meu lado, escolhia um Evo VI como o da foto acima, o meu preferido.