McLaren Solus GT é um hipercarro monolugar

Chuva foi outro desafio superado no FoS

Efeito de solo bem patente nesta imagem

McLaren Solus GT venceu no Festival of Speed em Goodwood

Tejadilho desliza como a carlinga de um avião

Solus GT mostrou a sua performance em Goodwood

Andrew Parker explicou-me porque a McLaren fez o Solus GT

O Solus GT só pode ser usado em pista

Aceleração impressionou quem o viu arrancar para a rampa

Solus GT frente à mansão de Goodwood

A mais recente novidade da McLaren chama-se Solus GT e não pode ser usado em estrada, nem inscrito em nenhuma corrida. Andrew Palmer, responsável pelo projeto, explicou tudo ao TARGA 67, em entrevista conduzida por Francisco Mota.

 

A fórmula não é nova e tem vindo a ser explorada por vários fabricantes de supercarros: fabricar modelos que não podem ser homologados para ser guiados na estrada, nem obedecem a nenhum regulamento técnico de nenhuma competição oficial.

O seu propósito é apenas serem conduzidos em pistas, em “track days” exclusivos para membros que sejam proprietários de modelos iguais ou semelhantes da mesma marca.

Aceleração impressionou quem o viu arrancar para a rampa

No caso do McLaren Solus GT acresce ainda mais um pequeno detalhe, que é ter sido inicialmente desenhado para o mundo virtual, o mundo dos jogos de vídeo, mais exatamente o Gran Turismo Sport, onde o modelo se estreou no ano passado.

Do virtual para o real

Nesta transição entre o virtual e real – pelo menos, o real para alguns – a McLaren anunciou desde início que iria fabricar apenas 25 exemplares, mas assim que fez o anúncio, todas as vagas foram preenchidas por clientes que não queriam perder a oportunidade de aceder a um modelo com as características do Solus GT.

E aquela característica que mais salta à vista é a carlinga deslizante, que funciona tal como num avião de caça, para dar acesso ao único lugar disponível no cockpit, colocado em posição central, como no clássico McLaren F1, lançado em 1993.

Tejadilho desliza como a carlinga de um avião

O banco é fixo, são os pedais que se podem ajustar à estatura de cada condutor, através de um cabo. O volante é inspirado na competição, contendo um display digital e vários botões, libertando assim o resto do habitáculo e facilitando a vida ao condutor.

Monolugar

O cockpit é protegido por cima por uma estrutura inspirada no “halo” dos fórmulas. A vista para trás é assegurada por uma câmara virada para trás e um ecrã colocado no interior.

A marca fornece um banco moldado especialmente para cada proprietário, tal como acontece na competição, bem como todo o equipamento individual necessário para uma experiência de condução com todo o conforto e segurança: fato de condução e capacete personalizados, sistema de comunicação e dispositivo Hans.

Está também disponível um completo programa de desenvolvimento do condutor, com um treinador individual, para melhorar os dotes de condução em pista de uma máquina muito especial como o Solus GT.

Inspirado na competição

A McLaren diz que o Solus GT foi feito usando “tecnologias da presença da marca nos mais altos níveis da competição automóvel e dos seus supercarros e hipercarros.”

Chuve foi outro desafio superado no FoS

A primeira consequência desta afirmação encontra-se na nova estrutura em fibra de carbono, específica do Solus GT, à qual está fixa toda a mecânica. Até o motor, colocado em posição central longitudinal, é autoportante, ou seja, tem funções estruturais, sendo a primeira vez que a McLaren emprega esta solução técnica num carro de produção.

Motor autoportante

O motor está aparafusado diretamente à estrutura de fibra de carbono, logo atrás do condutor, sem necessidade de um sub-chassis traseiro. Trata-se de um V10 de 5,2 litros, fornecido por uma empresa exterior à McLaren, cujo nome não foi oficialmente divulgado.

O motor é atmosférico, tem um corpo de acelerador por cilindro, debita 840 cv e tem 650 Nm de binário máximo, atingindo um máximo de 10 000 rpm. Não usa correntes nem correias, apenas engrenagens, não tem nenhum tipo de componente híbrido.

E transmite a força às rodas de trás através de uma caixa sequencial de sete velocidades e dentes direitos, feita especificamente para o modelo. Tal como o motor, tem também funções estruturais, pois é nela que está ancorada a suspensão traseira.

A embraiagem multi-disco de carbono tem atuação automática, o condutor não tem que se preocupar com isso, pois um “software” faz esse papel o que facilitará muito a operação do carro nas saídas das boxes.

Prestações de alto nível

A McLaren anuncia a aceleração 0-100 km/h em apenas 2,5 segundos e uma velocidade máxima de 320 km/h, graças a um peso total que não ultrapassa os 1000 kg.

Mas a prioridade nem foi a performance em linha reta, mas sim o desempenho dinâmico em curva, por isso, a marca afirma que se trata do seu modelo mais rápido numa volta a um circuito.

Solus GT mostrou a sua performance em Goodwood

Como se pode ver pelas imagens, o Solus GT passou por um estudo aerodinâmico detalhado, com incidência no ganho de “downforce” que a marca anuncia chegar a um máximo de 1200 kg. Atingido não só através de asas e spoilers, mas também através do efeito de solo.

Há um spoiler curvo na dianteira que encaminha ar para baixo do fundo do carro, sendo depois acelerado e expelido pelo extrator traseiro, criando o efeito Venturi. Todas as formas têm uma razão de ser, não há grande espaço para o estilo meramente decorativo.

Projetos especiais

A suspensão usa triângulos duplos sobrepostos em aço, revestidos a fibra de carbono por razões aerodinâmicas, com braços “pushrod”, na frente e “pullrod”, atrás. O componente elástico é desempenhado por barras de torção reguláveis.

As jantes são em alumínio forjado, os pneus são do tipo dos usados no WEC e os travões têm discos de carbono, com maxilas de seis êmbolos, na frente.

O Solus GT foi feito pelo departamento de projetos especiais da McLaren e será utilizado pelos proprietários em eventos organizados pela McLaren em vários circuitos do mundo. O preço depende das especificações, mas está estimado em 2,5 milhões de Libras, cerca de 2,9 milhões de euros, mais taxas.

Palmer explica o Solus GT

Andrew Palmer, líder do departamento de projetos especiais, é também o responsável máximo deste projeto e tive a oportunidade de entrevistar o engenheiro aeronáutico que entrou para a McLaren Automotive em 2013, para saber mais alguns “segredos” do Solus GT.

O Solus GT só pode ser usado em pista

TARGA 67: Quão importante é um carro como este para a McLaren, em termos de imagem de marca e de negócio?

Andrew Palmer: O Solus GT é um carro muito importante, mostra aquilo que a McLaren é capaz de fazer. Muito focado na pista, é um monolugar, um puro carro de corrida com níveis de aerodinâmica típicos da competição, bem como de ergonomia. Permite aos nossos clientes ter acesso a algo muito exclusivo e algo único para cada um deles. O carro número 1 será entregue a um cliente americano dentro de algumas semanas e ele autorizou-nos a exibir o carro em Goodwood. Está personalizado segundo os seus pedidos, em termos de cor e especificações e mostra a variedade daquilo que podemos oferecer.

Andrew Parker explicou-me porque a McLaren fez o Solus GT

T67: Qual foi o maior desafio no projeto do Solus GT?

AP: Tivemos desafios todos os dias, por exemplo integrar estes níveis de potência e de aerodinâmica num carro de dimensões reduzidas é algo que nos deixa orgulhosos, num excelente trabalho em equipa. A carlinga terá sido um dos maiores desafios. A nossa questão era saber como poderiamos dar uma experiência ligada a um avião de caça? Dar 180 graus de visibilidade ao condutor? Em vez de abrir para cima, a carlinga desliza para a frente e isso foi um verdadeiro desafio.

T67: Não é uma pena que um carro como este, depois de apresentado, seja guardado pelos seus 25 proprietários e poucas vezes volte a ser visto em público?

AP: Talvez… Mas é a prerrogativa dos nossos clientes escolher aquilo que desejam fazer com o carro. Muitos dos clientes que compraram o carro, vão guiá-lo, tal como guiam os seus P1 ou os seus Senna. Este vai encaixar nas suas coleções, é obviamente um passo em frente, mas vão guiá-lo e, espero sinceramente, que o disfrutem. Só vamos construir 25, por isso, naturalmente não vai ser visto em todos os circuitos pelo mundo fora. Mas há alguns clientes que compraram um Soluts GT que são muito ativos nos seus canais YouTube e redes sociais e vão mostrar os seus Solus GT, como o fazem com os seus outros McLaren. Penso que este será visto bastante…

Solus GT frente à mansão de Goodwood

T67: E quanto ao futuro, a McLaren vai continuar a fazer carros com este conceito, quando entrar na era dos 100% elétricos?

AP: A eletrificação tem os seus desafios, quando falamos de um carro para usar em pista: a rapidez de carregamento da bateria, o arrefecimento, a eventual degradação de performance à medida que se vão fazendo mais quilómetros. A indústria está a aprender muito acerca disso, e nós ainda estamos a estudar oportunidades para a eletrificação, ainda estamos a inovar. Mas, no momento, numa perspetiva de relação potência/peso, um V10 atmosférico era a melhor opção. No futuro, talvez seja um EV seja a melhor opção. Mas, no momento, as nossas preocupações são tirar o melhor da performance, da aerodinâmica e da potência, tal como Bruce McLaren fez no Austin Seven, há mais de 60 anos. É algo que continua a ser tão relevante hoje como era nessa altura. Claro que estamos a olhar para o futuro, como toda a gente, é um período excitante, aquele pelo qual estamos a passar na nossa indústria.

McLaren Solus GT venceu no Festival of Speed em Goodwood

T67: Como “track car” não elétrico, poderá o Solus GT ser o último exemplar de uma espécie em vias de extinção?

AP: Eu nunca digo nunca, nestes assuntos. Há muito trabalho a ser feito com combustíveis sintéticos, diferentes formas de combustíveis, hibridização, como estamos a fazer no Artura. Tudo isso poderá ter lugar numa futura geração do Solus GT, se a decidirmos fazer. É uma época muito entusiasmante.

Conclusão

A primeira demonstração pública do Solus GT aconteceu no Festival of Speed de Goodwood, onde um exemplar do novo modelo participou no “Timed Shootout Final”, a parte competitiva deste famoso evento em que os carros inscritos são cronometrados numa subida da rampa que serve de palco ao desfile de muitos dos carros presentes. Ao volante, esteve o alemão Marvin Kirchhöfer, piloto oficial da McLaren, que tinha estreado o carro em Goodwood durante a primeira subida de treinos, três dias antes. Na final do último dia, o Solus GT subiu a rampa de 1,856 km a fundo e parou os cronómetros após 45,342 segundos, batendo todos os outros carros presentes e cronometrados. Foi a segunda vitória para um McLaren neste evento nos últimos três anos e um fim perfeito para as comemorações dos 60 anos da McLaren, que coincidiram com os 30 anos do Festival of Speed em Goodwood. Para uma empresa – a McLaren Automotive, dedicada à produção de carros de estrada – fundada apenas em 2010, não está mal…

Francisco Mota

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